A maior reunião de filósofos do mundo
Ideias Políticas
2023-09-12 às 06h00
Num momento onde a palavra rentrée se difunde sem qualquer resguardo pela gíria política, e com as próximas eleições – europeias – a ocorrerem em menos de um ano, significa que estamos também a entrar num período onde se verifica um aumentar de voz da parte dos políticos, com promessas audazes e discursos vigorosos que, normalmente, encaixam muito bem num pequeno trecho noticioso do telejornal, à hora do jantar.
O Partido Socialista, partido que está no governo, não desiludiu e juntou-se à festa no seu próprio estilo. Na semana passada, em Évora, o primeiro-ministro António Costa anunciou uma devolução de propinas por cada ano de trabalho em Portugal, assim como a isenção de IRS quando os jovens entram no mercado de trabalho. Miguel Costa Matos, líder nacional da JS, partilhou de seguida nas redes sociais que a propina tinha acabado em Portugal. Apelou, qual apóstolo, para que a notícia fosse espalhada de pronto!
O problema é que, tal como a causa de Cristo, há aqui uma questão de devolução. As propinas não terminaram, de facto. Os alunos continuarão a ter exatamente as mesmas dificuldades económicas nos seus progressos académicos, podendo nem ser recompensados se no final desse trajeto, caso não arranjem emprego (situação nada comum em Portugal, felizmente) ou se obtiverem reconheci-mento no estrangeiro. Tudo isto numa geração – onde eu me incluo - em que 54% dela admite emigrar, porque não se sente segura financeiramente ou profissionalmente no seu próprio país.
Mas nem tudo é mau: António Costa anunciou, para 2024, a gratuitidade dos passes sub-23, assim como um cheque-livro para os jovens de 18 anos. Medidas que poderiam fazer até mais sentido, não fossem espelhar a hipocrisia de um partido que, meses antes, tinha recusado diversas medidas de teor idêntico, da parte da oposição. Felizmente temos quatro bilhetes da CP destinados aos jovens para mantermos a índole original do Partido Socialista neste pacote.
Para que terá servido, então, este pacote de medidas destinado aos jovens, quando há menos de um ano as mesmas tinham sido rejeitadas? Terá percebido António Costa que perdeu metade das intenções de voto dos jovens entre os 18 e os 34 anos, e que eventualmente precisará deles se quiser vencer eleições?
Se percebeu, dificilmente terá sido a tempo. Porque tempo é o que, infelizmente, já não há para uma geração inevitavelmente condenada à profunda estagnação de um país, e de um governo que se parece ter-se lembrado há dias que tem uma geração inteira para dar governar. Fazendo-o de uma forma populista, enganadora, e sem uma medida que possa alterar a vida de milhares de alunos que querem concluir os seus estudos e seguir os seus sonhos em Portugal.
Mas, e porque me considero uma pessoa positiva, há sempre algo útil que podemos retirar: os quatro bilhetes da CP são uma forte ajuda para nos levar ao aeroporto.
03 Setembro 2024
03 Setembro 2024
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