Correio do Minho

Braga, quinta-feira

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Os “cinzentões” e os “garridos”

Ser Dirigente no CNE - Desafios

Ideias

2015-11-13 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

Não nos consideramos fazer “parte do grupo dos juízes cinzentões que acham que estão fechados numa redoma” e muito menos enquadrado numa “classe menos confiável”, como bolçou o agora muito badalado Rui Rangel, entendendo que “os juízes, infelizmente, não sabem ser membros de um poder soberano, agem com mentalidade de funcionários públicos” (C.M.16.10.15). E septuagenário (quase octagenário, diga-se), queremos afirmar a esse tal RR que concluimos a carreira de magistrado como juiz conselheiro após 38 anos de serviço e de dedicação às magistraturas em que estivemos integrado, e que de modo nenhum nos temos como um “cinzentão” ou um “não confiável”. O que aliás naturalmente flui do trabalho desenvolvido e de uma presença activa ao longo do tempo, concretizada em estudos e livros publicados, conferências proferidas e em cursos em que se interveio como formador e responsável.

Claro que isso de se ser “cinzentão” de modo nenhum perturba ou ofende quem teve como formação, berço e cultura saber respeitar sempre a função e a magistratura que se servia, não se pôs nunca em bicos de pés nem “buscou” montras ou escaparates mas sempre, diga-se, fez por merecer o respeito e o apreço daqueles com quem tinha uma relação directa ou funcional, intentando que prevalecessem sempre os valores da independência, da isenção e todas as mais valias de um comportamento social de pudor funcional e de recato profissional.

Mas considera-se já muito atrevimento, ousadia e estultícia falar nos juízes como uma classe menos confiável, generalizando, certamente porque o tal RR estará a ver-se ao espelho e a fazer juízos de valor e afirmações em resultado de toda uma instrospecção e exame de consciência, naturalmente contabilizando e equacionando as suas próprias experiências funcionais, de vida e de comportamento profissional.

Um RR que, como a própria letra R em si mesma encerra (quem não se lembra dos RR e seu significado numa pauta de exame !?...), não deixa de acarretar para a magistratura em que está enquadrado, aliás inquestionável e inexoravelmente, toda uma carga negativa e malévola que vem fluindo de suas usuais “garridice” e projecção em “escaparate”, o que, aliás, consequente e naturalmente denotam todo um “cinzentismo” de acção e de presença e de todo justificam atitudes de “repúdio”, “repulsa” e“reprovação”.

E porque “garridice”, vaidade e convencimento pessoal vem tendo de sobra, ficar-lhe-ia de todo bem menos “escaparate”, mais “modéstia” (deve ser-lhe difícil) , mais recato e toda uma outra e maior reserva nas suas vida privada e função, sendo ainda aconselhável comedimento nas suas relações e comentários, mesmo com os media, e todo um “retiro” numa “redoma” de prudência, sensatez, seriedade e carácter. Sobretudo para que não passe a figurar cada vez mais como um “não confiável”, um perigoso e inútil “caramelo” numa profissão e função dignas que em si mesmas reclamam seriedade, isenção, independência ... e todo um recato em relação a amigos, conhecidos e a qualquer projecção pública e de escaparate, mormente se não se tem senso nem tento na língua!

Sobretudo abstendo-se de tecer comentários e opiniões sobre matérias de intervenção e natureza jurídica ou atinentes a processos em curso, em ordem a tornar-se mais fiável e credível e a não dar azo a suspeições e a aleivosas insinuações. Aliás, segundo um dito popular,“diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, mas há comportamentos e certas regras que têm de ser incontornáveis nos juízes, mesmo quando “coagidos “ ou “convidados” a sair da sua “redoma”.

Aliás importará exarar-se que um qualquer magistrado, sobretudo enquanto em funções e no activo, deve primar por toda uma contenção e prudência não só no escrever e no falar como ainda nos concretos contornos de sua vida familiar, social e diária, e nas companhias, que de modo nenhum podem macular e eivar aquela postura e cultura de isenção e imparcialidade de que devem ser sempre modelos.

Mesmo que os possam rotular de “cinzentões”, diga-se, é-lhes imposto que se afirmem pelo seu porte e dignidade na função, deixando ficar e reservando para outrem, os políticos, os estouvados, os vaidosos, os criançolas e mal formados, todos aqueles outros possíveis “rótulos”, mais ou menos marcantes ou pejorativos,que de todo se ajustam e são apropriados a quem passa os dias a viver de tolas “garridices” e em vaidosos “escaparates” e sempre numa incontornável e incontrolável ânsia de ser falado, de ser conhecido e de subir e projectar-se económica e socialmente na vida.

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