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Os livros são para comer?

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Os livros são para comer?

Voz às Bibliotecas

2023-05-11 às 06h00

Aida Alves Aida Alves

O Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor comemorou-se no passado dia 23 de abril. Este dia foi proclamado na 28.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1995. Segundo várias organizações o propósito deste dia é encorajar anualmente a leitura e promover a proteção dos direitos de autor, destacando-se ainda a importância dos livros enquanto elemento basilar da educação e do progresso de uma sociedade.
É comum nestes dias, nas bibliotecas, livrarias, escolas, explorarmos ao máximo a aproximação do leitor ao livro (ou outra forma de suporte de armazenamento da informação), através de várias dinâmicas de mediação leitora, umas mais animadas e de maior interação do que outras, tais como: teatro, horas do conto, oficinas de escrita, oficinas de leitura em voz alta, clubes de leitura, encontro com escritores, rodas de leitura, entre outras.
O que serve de base a todas estas atividades e tem principal foco é o livro (físico e intelectual), que continua a ser muito apreciado no seu suporte físico, em papel. Para muitos, abrir um livro, observá-lo, tateá-lo, cheirá-lo, manipulá-lo, é uma viagem a dois, em que o leitor é o comandante do leme e define o seu caminho. Ao sentirmos o livro pela sua manipulação, ao nos concentrarmos num ato de silêncio dedicado, ao determo-nos nas cores que se inscrevem na capa (dura ou mole) e nas folhas (brancas ou mais amareladas), ao absorvermos o seu cheiro, a textura do papel, ao entrarmos no texto com profundidade e ouvirmos o suave barulho do virar das páginas, estamos a degustar o livro em toda a sua tipicidade, fisicidade e pensamento. Às vezes, o prazer da leitura transporta-nos para uma dimensão mais física e sensorial, de degustação, que por vezes chega ao nosso paladar como se de uma refeição se tratasse, transportando-nos ainda para o plano do pensamento, desenvolvimento da nossa imaginação, conduzindo-nos para diferentes paragens.
Podemos “comer” um livro com as mãos? Claro que sim. Para se comer um livro com as mãos temos de começar por ter as mãos limpas (sorriso), usar (ou não) utensílios de suporte, manter os olhos atentos e a mente aberta e descobridora. O estado de suspense de quem inicia a leitura de um livro, deixa-nos ligeiramente ansiosos, no estado de antecipação do que vamos ler, apreciar, dos cenários e personagens que vamos encontrar, das viagens que vamos fazer. Interessa desde o início da viagem, em jeito de degustação, abrir as nossas gavetas da memória afetiva e ir recordando, intersetando, relacionando, armazenando as imagens que vemos e as palavras que saboreamos. Temos mesmo de “comer” e “mastigar” bem as palavras e as frases. Mergulhar nos temperos que o autor nos deu. Devemos fazer uma pausa para um digestivo, que passa por respirar bem (oxigenar o cérebro), reler e refletir sobre o texto lido. Só quando terminamos a leitura com prazer e o tornamos como nosso, à semelhança de uma bela refeição, iremos estar satisfeitos e motivados para abrir nova viagem para outro livro.
Há pessoas para quem é chato “comer” livros. Olham para eles de longe, ou desviam o olhar, às vezes pegam e logo o largam, passam suavemente as mãos pela capa, abrem e leem a primeira página da introdução e largam-no, como se de um prato se tratasse e de que não apreciam. Algumas não se dão mesmo ao trabalho de perder uns minutos do seu tempo de descanso para uma nova experiência leitora. Certo é que existem milhentos pratos na gastronomia nacional e internacional, o leitor só tem de escolher aquele que mais lhe agrada e desafiar-se a dedicar algum tempo da sua rotina a explorar novos sentidos e paladares. Há livros para todos os gostos. Muitos deles têm ingredientes diferentes, alguns são mais light, leves, com mais ou menos fibra, alguns de digestão mais rápida, outra mais lenta; outros mais calóricos nos discursos e na profundida do mergulho mental. Há livros mais visuais, como sobremesas saborosas pela cor e formato lembrando fruta, onde imperam as imagens e deliciam o palato.
Para um percurso de leitura mais saudável e completo, os enunciados devem ser variados e equilibrados, proporcionando a energia adequada e o bem-estar físico ao leitor. Por isso, pode escolher um livro conforme o seu estado emocional e escala de apetite. Ora de estilo mais narrativo e de aventura, ora romance, conto ou novela, de poesia, ora de tema específico com interesse funcional ou académico. O livro pode esperar por si, no seu tempo. Procure-o numa estante, da sua casa, ou de uma biblioteca ou livraria. Mas faça a sua refeição diária de leitura. Ela irá com toda a certeza alimentar o seu lado intelectual, emocional, aumentando a sua saúde mental e física.

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