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Cloudneo: uma grande farsa da sustentabilidade?

Ideias

2024-12-08 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

As mais das vezes vamos para onde nos dizem e muito ajuda, claro, que de nós, de base, queiramos ir para onde nos mandam. Dito de outro modo: abrimos a boca e engolimos, e só precisa, quem nos condiciona, de cantar uma pelo papá, outra pela mamã, e a última pelo gato ou pela gata.
Vem o introito a propósito da moção de censura que determinou a queda do governo francês. Portugal e a França estão ela por ela em termos de segmentação parlamentar – eles foram-se abaixo, nós mantemo-nos, eles tropeçaram no Orçamento, nós demos conta do recado. Eles e nós carecemos de reformas estruturais, pelas quais ninguém dá a cara ou batalha, e isto recordo para significar que há sempre uma tarefa que urge que tomemos a peito, esforço sem o qual corremos o risco de descarrilar.
Mas de franceses eu fale. Os lepeninstas e ciotististas – a extrema-direita –, os melanchonistas – a extrema-esquerda – e afiliados, os macronistas – a camarilha presidencial – e satélites, bloqueiam-se mutuamente, e ai de uns que conversem com outros, porque cai o Carmo e a Trindade.
Não costumava ser assim, porque antigamente os extremos eram um punhado de cada lado, que a malta do Poder Sensato se dava ao luxo de desprezar. Depois veio Macron e com ele o chão de ruínas não tem cessado de crescer. Ora, sem muito historiar, fixo-me nas europeias deste ano, que a extrema-direita ganhou, libertando em Macron o demónio do jogo. O dobro ou quites, fez ele bravata, dissolvendo a Assembleia. E o diabo, que não é criatura que um pacato toque impunemente, fez efectivamente das suas, colocando a dita extrema-direita muito à frente na primeira volta, tão à frente que pareceu iminente a vitória por maioria.
Bom, e o que é que se seguiu? A extrema-esquerda arranjou-se com a rapaziada do Poder Sensato, desistindo à segunda volta uns em favor dos outros, impedindo que os candidatos lepenistas e ciotistas vencessem nos respectivos círculos por maioria simples.
Perderam os lepenistas e os ciotistas, até ficaram em terceiro lugar, mas com uma bancada confortável de perto de 150 deputados, que de nada valeriam, se a extrema-esquerda prolongasse as boas-vizinhanças com os macronistas e afectos, o que, diga-se, nunca seria o caso.
E eis, pois, que os de Mélenchon reclamam vitória e a cadeira de primeiro-ministro. Bom estava de ver que não a teriam, e tamanho era o imbróglio que Macron demorou 50 dias para encontrar um chefe de governo, caindo a escolha na figura benévola de um septuagenário, aureolado de excelente negociador. Não chegou aos três meses em funções. Porquê? Porque nada podia negociar à esquerda, sequer com os moderados do sector, vassalos retraídos de Mélenchon, nem com os diabolizados da extrema-direita, na extensão do reclamado por Marine Le Pen e Eric Cioti.
Orçamento com um rendilhado de impostos e taxas que Le Pen e Cioti não subscreviam, tendo eles por opção os cortes na despesa, nomeadamente em apoios, subsídios e carga burocrática. Com o Orçamento por um fio, Barnier, o primeiro-ministro, tentou ainda assim uma aproximação à direita. Ficou curto, porque insistiu numa derrogação da revisão das pensões, quanto a bruxa da direita fez finca-pé nas actualizações a Janeiro, isto é, seguindo o caminho contrário ao malquisto Passos Coelho.
Moral da história. O Governo de Barnier caiu, porque tinha de cair, por muito esquisito ser que um executivo, dito liberal, aumentasse impostos, deixando intactas mordomias e desperdícios de pendor ideológico. O Governo de Barnier caiu por preguiça, por ser mais fácil confiscar que reformar, por ser mais fácil alargar taxas do que rever disfunções orgânicas.

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