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Ideias

2017-04-28 às 06h00

José Manuel Cruz José Manuel Cruz

A construção europeia goza da infalibilidade dos dogmas de fé. Os eurocépticos, os antiliberais, são os heréticos do presente e, embora não sejam citados a Santo Ofício, não se livram de corolas mesquinhas.
Na senda do que ficou dito, Francisco Assis vem de qualificar Mélenchon como figura de “pequeníssima estatura” e por tabela “antidemocrática”. Será asia? Esclerose? Traumatismo de guerra? Mélenchon roçou os 20%, e teria saído à frente, se os socialistas tivessem querido portar- -se como homenzinhos crescidos. Mas prevaleceu o umbiguismo da Rue Solferino. Igual entre iguais, Assis nada afere.

Em fevereiro, com falsos ares de bom aluno, Hamon fazia “un petit tour au Portugal” para aprender a “nova esquerda à portuguesa”. Em fevereiro, enquanto bons conselhos ouviria dos tribunos do BE e do PS portugueses, enquanto entrevistas gloriosas dava à SIC, pois, enquanto tudo isso, falhava já Hamon uma resposta a Mélenchon, em vista de estratégia comum às presidenciais.

Em fevereiro, inspirado pelo espírito santo - que em matéria de política nunca me abandona - escrevi nestas páginas que o PS francês ganharia o assalto ao castelo, se abdicasse Hamon em favor de Mélenchon, nas presidenciais, em troca de suporte inverso nas legislativas imediatas.
Em fevereiro tinha Mélenchon uns 12% de intenções de voto, cota similar à que se projectava para um Hamon recém-legitimado por primárias. Do conhecimento da política francesa, sabia, eu, que Mélenchon só teria como subir, e que um Hamon sem chama só teria como se afundar. Mélenchon ascendeu a quase 20%, e Hamon mergulhou para a piscina dos pequeninhos, rasando por cima dos 6%.

Em abril, tudo se mantendo igual, estaria o candidato da esquerda unida em primeiro, e com amplas chances de ganhar. Em abril, com uma candidatura unida - PSF, PG, EELV, PCF - nem o Macron teria atingido score que o qualificasse.
De abril, saem para a segunda volta, Macron e Le Pen. Em abril, há uma europazinha que rejubila: o rezingão do Mélenchon, com o seu eurocepticismo está fora da corrida, e a cabresta da Le Pen já verá o que lhe vêm em caminho.

Salve S. Macron! Ora Bruxelas e o CAC 40, salmodiam o MEDEF e as oligarquias financeiras. Faz novenas em Portugal, o Assis. Eu, desta feita sem o conforto do paráclito, pois eu não estaria tão seguro de uma confirmação de Macron: é sapo a mais para muita boca.
Transferirão, todos os que votaram em Fillon o seu voto para Macron? Não haverá, na direita francesa, segmentos mais próximos da extrema-direita, do que do amorfismo trânsfuga de Macron? Não haverá, na vasta esquerda francesa, quem não se identifique preferencialmente com uma Le Pen proteccionista? Não é o eleitorado da FN em boa parte constituído por operários?

Não se aliará um Dupont-Aignan, líder do unipessoal partido Debout La France, e que fez um score extraordinário de quase 5%, à Le Pen? Dupont-Aignan que, a ter sido bem tratado por Fillon, talvez a ele se tivesse associado à boca da eleição, levando-lhe em salva a vitória da primeira volta.
A política é giríssima, e pelo-me por ela como criança por legos. Monto, desmonto, e vejo que, mesmo perdendo, madame Le Pen poderá acabar saindo por cima. Vejamos: o PS francês está comatoso de todo, e não é um anafado Cambadelis, com títulos académicos à moda de Relvas, que resgatará o partido. O Les Republicans também poderá passar por sérias dificuldades em se refazer.

Isto é, ganhe ou não ganhe o menino-bem dos Rothschild, poder-se-á dar o caso do centrão sofrer um colapso parlamentar nas eleições legislativas, vendo-se Macron a braços com a fava em lugar do brinde. Com efeito, a Frente Nacional enraiza-se no terreno, atingindo o limiar da liderança em 47 departamentos, e isto com a prata da casa: ai se lhes dá para atrair parceiros, tais como Aignan, e desiludidos do MODEM e dos Les Republicans! Capaz de não, por apego do Assis aos recém-canonizados pastorinhos.

Murmura-me, o espírito santo, que terá levado cálculos favoráveis a socialistas e republicanos, estranhando a falta de tino, a total ausência de agilidade, para fazer acontecer um bom resultado em qualquer um dos campos. Alvitrei que pudesse ser da endogamia: eles tanto se reproduzem em círculo fechado, que chega o dia em que só saem totós. Mas, nos partidos portugueses, tal é coisa que não acontece: é tudo gente sã que nem pêros, arguta que nem ratos.
De cravo empunhado, respirava Marcelo de alívio por em França terem resistido ao canto de sereia do populismo. Entre a sereia e o karaoke, venha o Assis que escolha.

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