Correio do Minho

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Ouro e ouropel

Uma primeira vez... no andebol feminino

Ideias

2012-12-28 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

A discussão compreende-se, como aliás o comentário de Alfredo Leite (JN,3.12.12) quanto à ironia (!?) de Cavaco a propósito dos seus silêncios. Uma crítica e comentário que de todo subscrevemos, sendo que, tendo já um presidente ”facebookeiro”, nunca o imaginámos a usar a ironia, para mais endereçada a um mundo de portugueses nem sempre clarividentes, capazes e inteligentes para “captar” uma linguagem que se pretendeu irónica, mas que é propícia a equívocos e a outras interpretações.

Aliás a evitar de todo em política, e por um presidente da República, até porque desenrolando-se e desenvolvendo-se em parâmetros e nos quadros do emissor-receptor traz em si certas deficuldades de explanação e de compreensão e não está ao alcance todos, e muito menos de Cavaco.

Seguindo A.L, também nos parece que Cavaco “voltou a enveredar por um caminho que manifestamente não domina”(id.), não revelando senso e caindo até no ridículo. “E o ridículo é ainda maior quando o presidente da República assume o papel de um qualquer António Sala radicado em Belém ( ) e nos diz isto: «Todos sabem que o silêncio do presidente da República é de ouro. Hoje a cotação do ouro foi de 1730 dólares por onça, uma onça são 31 gramas, mais 1,7% do que a cotação do ouro naquele dia de setembro em que a generalidade dos portugueses ficou a saber o significado da conjugação de três letras do alfabeto português: tê, ésse, u (TSU)» “(id.).

Francamente espera-se que os portugueses tenham percebido bem os silêncios de Cavaco, sendo incontornável que em questões de ouro o António Sala parece saber mais, sobretudo onde se compra e vende melhor, como o anuncia. Aliás temos para nós que será muito fácil confundir ouro com ouropel (segundo os dicionários, folha ou lâmina brilhante de latão que se assemelha a ouro, ouro falso, e, figuradamente, falso brilho, aparente esplendor, aparência enganadora), afigurando-se-nos que alguns desses silêncios foram mesmo ouropel, aliás no degenerar do exercício de um cargo desde há muito envolto por um falso brilho.

Mas registámos a memória de Cavaco quanto às cotações do ouro e sua informação quanto ao peso da onça, sendo que desde há muito que vínhamos apenas e sobretudo associando a palavra “onça” ao félida com tal nome, ainda que não ignorando nem esquecendo o malévolo sentido e alcance da conhecida expressão “amigos da onça”. Onde, e agora sem ironia, é possível enquadrar e “encaixar” muitos políticos e governantes, antigos e actuais, comentadores e anteriores presidentes de partidos.

Mas em jeito de “carta aberta” ao Presidente ( aliás cartas abertas parecem estar na moda ) dir-se-á ser de todo conveniente que ponha a ironia de parte, e, se sentir dificuldades em falar, o que é compreensível, se mantenha em silêncio pois quanto à distinção entre ouro e europel (liga imitativa do ouro) o povo português desde há muito que vem fazendo toda uma “garimpagem”. Aliás, face à maneira como o país tem vindo a ser conduzido, às diatribes dos governantes, às facécias dos deputados, ao estado e atrasos da justiça, ao palavreado oco, falacioso e demagógico de muitos, etc., o povo na verdade já vem fazendo toda uma “garipagem”, até usando e dispondo “de (uma enorme) paciência e perseverança, qualidades só ao alcance de gente salutarmente enxertada em corno de cabra”, como anota Fernando Santos (JN, 5.12.12) muito a propósito.

Que aliás é incontornável face ao número de mentecaptos que grassa neste país, alastrando de um modo especial na classe política, não faltando quem fale à toa e só para se ouvir e ser falado, em cartas abertas ou nos blogues, esvaindo-se em disparates e lançando-se num aventureirismo de terrorismo verbal, barato e demagogo, mas com graves e perversas consequências para o país, lançando a confusão e não pensando na grave situação que se vive e nos perigos de uma equiparação à Grécia.

Para a qual até já Cavaco alertou, pasme-se, finalmente compreendendo que nem sempre o silêncio é de ouro mas tão só de ouropel, ao permitir interpretações, análises e situações nefastas para o país e nada abonatórias para quem tem a responsabilidade e o cargo de presidente.

Admitimos que haja quem queira lançar a confusão, fazer cair o governo, provocar eleições e deseje voltar aos “jogos” de pura ficção, promessas loucas, pura demagogia, protagonismo balofo e despesas loucas em que aliás desembocou toda uma governação, de manifestos desvario e insanidade. Luta-se e grita-se contra as medidas de austeridade, e com certa razão, mas era conveniente e imperioso que se explicasse e se dissesse onde se pode buscar dinheiro para funcionamento do Estado, pagamento dos seus funcionários, polícias, militares, magistrados, pensionistas, serviços de educação, saúde, e outros do seu próprio desenvolvimento orgânico-administrativo e financeiro.

Por acaso há quem ainda acredite que a troika e os credores se incomodam com as patacoadas, blogues e cartas abertas de políticos e ex-políticos insensatos, insanos e senis e de outros mentecaptos que passam o tempo a gritar contra tudo e todos?

Uma coisa há a fazer e urgentemente : poupar, viver uma austeridade real, física e mental, reduzir as despesas do Estado, “cortar” organismos, serviços e entidades sem interesse e de mero pavoneio “democrático”, limitar os institutos, pôr termo a certas empresas públicas, parcerias, mordomias, assessores, conselheiros e fundações inúteis, pois muitas só servem para obter benesses do Estado, colocar amigos, alimentar vaidades e “alapar” gastos públicos. A propósito, a do Mário Soares passou no exame?

Alguém nos dizia há dias que o que mais lhe doía e revoltava nesta austeridade era gastar-se ainda dinheiro com ex-governantes e presidentes (uns até “ganham uns trocos” por presença na C.E.C., de Guimarães), que, sendo já de uma rançosa e manifesta inutilidade, teimam em engrossar o “clube” dos agitadores e não se calam, o que aliás seria ouro e não ouropel. Para assim ser viável governar e tentar safar o país da bancarrota a que muitos, alguns deles inclusive, insanemente nos conduziram.

Intervindo e falando quando deviam estar quedos e calados, vêm-se perfilando na realidade como autênticos “amigos da onça”, sendo que no caso concreto essa “onça” pesa bem mais que as 31 gramas referidas por Cavaco.

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