A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2018-05-07 às 06h00
Há precisamente um ano, Emmanuel Macron era eleito Presidente da França com 66,1% dos votos, deixando para trás a candidata de extrema-direita Marine Le Pen. Uma semana depois, foi empossado como 25.º presidente francês, abrindo uma nova era no Eliseu. E na Europa. Neste primeiro balanço do trabalho de Macron, os media dividem-se nas apreciações. Mas há algo inequívoco: Macron é um líder que ousou ser diferente. E isso tem um enorme significado no campo político. Com repercussões no desenho da sociedade que somos.
Enquanto ministro da Economia de François Hollande, Emmanuel Macron cedo se destacou no meio de um executivo algo cinzento. Integrando um governo socialista, teve a audácia de desenvolver uma política económica liberal e, com isso, foi sempre abrindo polémica. Que certamente apreciava. Em agosto de 2016, bate com a porta para criar um movimento que intitulou Em Marcha, assegurando que nem era de esquerda nem da direita. Seria de todos os cidadãos que ambicionavam uma nova política para uma França algo decrépita. No início, os partidos tradicionais não o levaram muito a sério. Fizeram mal. Em Marcha rapidamente ganhou escala e, nas urnas, extinguiu Os Republicanos cujo candidato ao Eliseu se viu subitamente no meio de escândalo de abuso de poder e desvio de dinheiro público e os socialistas que nunca conseguiram impor uma escolha de recurso face ao inesperado abandono de Hollande da corrida ao Eliseu. A mais temível era a candidata de extrema-direita. No meio de uma conjuntura em que o populismo parece ganhar fôlego, muitos temeram o força de Marine le Pen, mas, à segunda volta, os franceses foram claros na sua escolha.
Na noite da sua vitória, Macron mostrou o que queria. E fê-lo através da forma. Que tem sempre um colossal conteúdo. Na praça do Museu do Louvre, Emmanuel Macron rompeu pela escuridão, sozinho, ao som do "Hino à alegria", trecho da 9.ª sinfonia do alemã Ludwig van Beethoven, uma música que funciona como um hino da União Europeia. E aí falou aos milhares de apoiantes que o esperavam para o aclamar.
Por estes dias, muitos media fazem o balanço do que foi feito. O Courrier International escolhu para título de capa Macron, o agitador. Na semana passada, a revista LObs, em editorial, escrevia que o Presidente decide tudo sozinho com a convicção de que os franceses esperam o regresso de um monarca republicano. Cujo papel ele consegue incarnar, decerto. É verdade que o liberalismo iluminado que o caracteriza nem sempre consegue ser bem sucedido dentro de portas, mas Macron continua a insistir em procurar uma nova ordem mundial para o século XXI. Que irrita Merkel e, em certos momentos, desconcerta Trump ou Putin. O presidente francês joga com todos.
Esta semana, LExpress colocava-o em capa com o título o acrobata. No interior da publicação, escrevia-se que o Presidente não revelou a sua verdadeira natureza, não se sabendo se será um profeta ou um ilusionista. Jean Pisani-Ferry, o economista responsável pelo programa de Macron, apesar de próximo, reconhece que a eleição deste presidente (ainda) não originou um movimento que passasse as fronteiras. A Europa, que comemora o seu dia na próxima quarta-feira, não vive propriamente momentos eufóricos e da França ainda não veio nenhum impulso que promovesse uma urgente refundação do velho continente.
Ainda que possa ser apontado um conjunto algo alargado de reparos, ninguém poderá negar o sopro de inovação que Macron espalhou em França e, por extensão, noutros territórios. Em primeiro lugar, criou um movimento longe dos caciques tradicionais da política, tão treinados em multiplicar metáteses no seu interior, principalmente ao nível das estruturas locais. Em segundo lugar, conseguiu promover um governo com pessoas que não são políticos profissionais, mas gente com provas dadas em profissões de prestígio. Em terceiro lugar, foi capaz de fazer permanecer no espaço público (mediático) um discurso ambicioso à procura de transformar a França num parceiro diplomático incontrolável no xadrez político internacional. Não é pouco, temos de reconhecer.
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