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Pandemias

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Pandemias

Ideias

2020-03-17 às 06h00

João Marques João Marques

Como não podia deixar de ser, também a crónica desta semana será dedicada ao assunto do momento. A pandemia do “corona vírus” não pode deixar ninguém indiferente e o alcance da propagação estende-se à tendência monotemática dos textos sobre a atualidade.
Que me perdoe o leitor, mas não se pode passar ao lado de um dos momentos mais marcantes da história moderna. O que me importa sublinhar não é tanto a questão médica, para a qual não tenho qualquer competência, nem sequer perscrutar o artigo 19.º da Constituição da República Portuguesa, onde estão previstos os mais graves expedientes democráticos para diminuir o círculo de direitos fundamentais e a amplitude com que os mesmos podem ser exercidos pelos cidadãos, ainda que aí possa dizer qualquer coisa (pouca) com razão de ciência.

O que verdadeiramente me parece singular na situação por que passamos é a cicatriz que pode marcar a humanidade para os anos, décadas e, quem sabe, séculos vindouros.
Até agora, e apesar de alguns exemplos de pandemias na história, a generalidade das pessoas julgavam que o pico científico e técnico que vivíamos, que só tem espaço para evoluir e crescer, representava um porto seguro e dotava a espécie humana de uma quase imunidade perante estes fenómenos, nem que fosse ao retardador, através da criação e disponibilização de medicamentos eficazes para combater todas as maleitas que nos pudessem atingir.

O horizonte de uma pandemia verdadeiramente perigosa surgia-nos como paranoico e mais próprio de uma história de ficção científica. Assistir ao triunfo microscópico contra a força e imponência dos seres humanos seria verdadeiramente risível e assim permaneceria, não fosse o agora infame COVID-19.
É verdade que a espetacularidade que víamos refletida na literatura do fantástico, ou em filmes de série B, está em falta e não há zombies, nem mutações ou populações em fuga, mas há doença e há, infelizmente, morte e um devastador silêncio. Um silêncio que, no caso português, ameaça a esperança que tinha sido reconquistada com tanto sacrifício, após o duro período da Troika. Bem sei que trazer para o debate considerações de índole económica, empobrece a natureza crítica da crise que atravessamos. Contudo, não creio que haja uma alma que consiga passear numa qualquer cidade deste país e não ficar assombrado com o desalento do nada.

Serviços públicos encerrados, escolas paradas, restaurantes entreabertos, hotéis desertos e supermercados com prateleiras vazias. Não deixa de ser incrível como o quase nada do vírus é capaz de nos tirar quase tudo.
Como li recentemente num dos top sellers das livrarias, o ser humano não vem programado para agir perante crises hipotéticas ou para se precaver de acontecimentos que nunca viveu ou configurou como possíveis, prováveis ou concretos, sendo a crise do clima um grande exemplo disso mesmo.

Por tudo isto, o que me prende a atenção não é o surto e a pandemia que hoje vivemos e sobre o qual, estou seguro, prevaleceremos. O que me deixa intranquilo é o ainda indefinido legado deste traumático episódio.
Como será a humanidade doravante? Como nos comportaremos perante a mera sugestão de uma epidemia? Que traços sobreviverão do que nos define como seres humanos?
Sairemos daqui mais ligados, com maior espírito de comunidade, com maior solidariedade e interligação? Combateremos os inimigos da globalização com maior entreajuda e globalismo, ou será o contrário?
Serão as fronteiras do passado a resposta para os problemas do futuro?
Será o estado de sítio ou de emergência o estado normal do futuro próximo?
Teremos as vozes populistas a sinalizar o fim da história e a necessidade de batermos em retirada para o único e último reduto do ensimesmamento dos povos, o Estado-Nação?

Não sabemos como iremos reagir no dia em que nos disserem que o COVID-19 está controlado e que é apenas um remoto inimigo da grandeza da humanidade. Mas a resposta que dermos, e não estou a advogar a perfeição de nenhuma das soluções do passado (mais remoto ou mais presente), definirá o rumo que inúmeras gerações calcorrearão o mundo muito depois de nós aqui termos estado. Só nos resta fazer tudo para que a resposta seja o mais acertada possível.

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