Entre decisões e lições: A Escola como berço da Democracia
Voz aos Escritores
2025-05-09 às 06h00
Jorge Mario Bergoglio foi o 266º Papa da Igreja Católica e o primeiro a escolher o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, e também o primeiro Papa jesuíta. Bergoglio teve uma vida de improbabilidades, mas a coerência pautou-lhe a existência e talvez Deus o tenha sempre empurrado para o caminho que lhe tinha destinado apesar das contrariedades. Jorge Mario era o mais velho de cinco irmãos, nascido em Buenos Aires no seio de uma família de origem italiana, rapaz vivaço e sorridente que brincava livre nos bairros da capital da Argentina, adorava basquete, futebol e música e não ficava indiferente aos encantos do belo sexo. A sua espontaneidade, o seu sentido de humor, a alegria e o namoro com uma bonita noiva desviavam a família católica das impensáveis suspeitas da vocação que germinava em Jorge Mario, apesar da avó, católica fervorosa que ele adorava, ter tido um papel decisivo na sua escolha pelo sacerdócio. Jorge Mario escutou o Chamamento e seguiu a voz de Deus contra a vontade da mãe, que durante os nove anos de preparação eclesiástica nunca o visitou no seminário, mas no dia da ordenação estava na primeira fila da igreja abençoando o filho. A saúde frágil de Bergoglio não lhe beliscou o carisma e foi esse pragmatismo que lhe causou grandes dissabores na poderosa Igreja Católica. Jorge Mario calçou as sandálias de Pedro e as de São Francisco de Assis, calcorreou as ruelas da pobreza do povo e estendeu a mão aos carenciados, aos padecentes, aos humilhados. “O meu lugar é junto dos que sofrem”. Durante a ditadura militar de Rafael Videla, e apesar do mutismo conveniente da Igreja Católica face às atrocidades do ditador, Bergoglio teve um papel activo na clandestinidade, albergando e ajudando os perseguidos políticos a fugirem da Argentina. O medo e o sentido de justiça não o impediram de auxiliar quem precisava. Quando foi eleito Papa a 13 de Março de 2013, o mundo jamais pensou que aquele cardeal desconhecido vindo do fim do mundo, como ele com humor afirmou à multidão nesse dia desde a varanda do Vaticano sobre a Praça de São Pedro, iria trazer mudanças radicais numa instituição milenar cujos rumores de ostentação e podridão lhe roubavam fiéis que debandavam da fé apodrecida, das injustiças e das desigualdades. O Papa Francisco teve a coragem de enfrentar o Banco do Vaticano, responsável, segundo a imprensa, pela lavagem de dinheiro das redes mafiosas e dos mais ignóbeis tráfegos. O Papa Francisco recusou mordomias e quis manter-se junto dos fiéis, apartando poleiros e privilégios. Muitos recearam pela sua vida nos primeiros meses do papado, mas a verdade é que o inato pragmatismo não o dissuadiu de persistir na mudança do que estava mal na Igreja Católica Apostólica Romana. Dizia-se um verdadeiro seguidor de Cristo e como Jesus abria as portas do Seu Templo a todos, todos, todos, divorciados, homossexuais, prisioneiros, mãe solteiras, negros, brancos, jovens e velhos. Na sua diplomacia comovente Francisco lutou contra a discriminação, apelou à Paz, ao amparo dos refugiados, à preservação da Mãe Natureza, ao fim do tráfego de armas e da fome. No seu último internamento hospitalar, Francisco afirmou: “As paredes dos hospitais ouvem orações mais honestas que nas igrejas, testemunham beijos mais sinceros que nos aeroportos, é nos hospitais que se vê um homofóbico ser salvo por um médico homossexual, um médico privilegiado que preserva a vida de um mendigo, nos cuidados intensivos um judeu cuida de um racista e um paciente rico recebe um órgão de um dador pobre; é nesses momentos que mundos diferentes se cruzam de acordo com o desenho divino e nessa comunhão de destinos percebemos que sozinhos não somos nada”. A lucidez e a poesia sempre foram seus apanágios, assim como a humildade tocante e sincera, homem simples e incorruptível que se baixava, mesmo quando as mazelas do corpo o periclitavam e as dores o martirizavam, e lavava e beijava os pés dos reclusos e dos carenciados, pés maculados pela poeira das vidas duras, somos todos pecadores. O Papa Francisco não se refreou quando os escândalos de pedofilia na Igreja Católica em múltiplos países do mundo inundavam manchetes e noticiários, exigiu investigações e apesar de no Chile terem sido uma fraude, o Papa mais tarde pediu pessoalmente desculpas às vítimas. Em relação ao papel da mulher na Igreja, Francisco abriu uma pequena frincha e chamou algumas para junto de si no governo do Vaticano. Manteve a condição celibatária dos membros da Igreja, condição essa materialista, uma vez que as heranças dos membros são destinadas à instituição assim que professam os votos. Não há dúvida de que Francisco podia ter feito mais, e que se a Igreja pretende continuar a existir tem de tomar medidas que cativem fiéis e sacerdotes, homens e mulheres. Mas a verdade é que Francisco fez muito e o mundo deve-lhe gratidão. Esperança é o título da sua recente biografia. Tenhamos Esperança que o futuro Papa seja o pilar do bem no turbilhão da Terra.
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