Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2013-10-23 às 06h00
Passado um período de discernimento, tomada de decisão e opção, resta-nos, à maioria das pessoas das diversas comunidades, voltar à normalidade, ao comum. Tivemos a oportunidade de escolha e, acima de tudo, exercer algo que é um direito e um dever. Tivemos a oportunidade de viver um tempo em que nos foi permitido ouvir e decidir - o que por vezes não é fácil de acontecer nos tempos que correm. Tivemos a oportunidade de confiar. Esperamos, neste momento, que a nossa confiança seja respeitada, e que, não sejam as nossas próprias ações a demonstrar que esse respeito não é preservado.
Podemos questionar aquilo que nos leva a confiar nos outros e nos demais que compõem o nosso dia-a-dia. Poderá ser o instinto, o reconhecimento de saberes ou competências, ou até mesmo a referência que nos é transmitida. Ainda assim, o ato de confiar deverá ser construído, refletido e quiçá ponderado, e nem sempre confiamos nas nossas capacidades para o realizar.
Em Enfermagem, naturalmente, as pessoas que nos procuram confiam. Confiam no nosso conhecimento, na nossa prática, no nosso trabalho e na forma social que apresentamos. Embora, esta mesma forma social possa ser condicionada (algumas vezes…) pelo modo como nós próprios, enquanto enfermeiros, nos apresentamos ao mundo que nos rodeia. No entanto, esta será uma ideia para uma reflexão futura, não relacionada com esta opinião atual.
Voltando ao início, as pessoas confiam, de forma geral, nos enfermeiros e nos restantes profissionais de saúde. E porquê? Por hábito? Por tradição cultural? Porque não existe outra alternativa? Não me vai caber, a mim, responder a estas questões. Considero que cada um daqueles que interage com estes profissionais deve construir a sua confiança da forma que lhe pareça mais adequada. E mais confortável.
Cabe-me sim defender que esta confiança deve ser construída com base numa relação, com base em primeiras impressões (porque muitas vezes é apenas isso que temos) seguras, e assentes num conhecimento científico firme e próprio de cada um dos profissionais da área da saúde. Porque somos ainda alguns. E com espaços de conhecimento bem distintos uns dos outros. E igualmente, cabe-me a mim, defender que o âmbito de conhecimento da Enfermagem deve ser digno de confiança e demonstrado o suficiente para que seja procurado - porque, acima de tudo, igualmente devemos confiar no discernimento das pessoas que necessitam da nossa intervenção como profissão.
É possível ajudarmos estas pessoas a adquirir ferramentas que lhes permitam o desenvolvimento de uma confiança saudável - e não apenas o assentir em tudo o que lhes é dito ou transmitido. As pessoas que necessitam de cuidados de Enfermagem devem saber que estes, acima de tudo, devem ser prestados com qualidade e recurso aos últimos desenvolvimentos na área da ciência.
Devem perguntar o quê, o porquê e a razão de ser daqueles cuidados, e não de outros que eventualmente estejam habituados a observar e a conseguir. Para a construção dessa tal confiança saudável, nós, os enfermeiros, devemos fomentar a curiosidade das diferentes pessoas com quem lidamos, ou de quem cuidamos, ou até a quem ensinamos.
E igualmente nós, como Enfermagem, devemos confiar. Confiar nas pessoas que nos acompanham e fazem de nós equipa, confiar naqueles que necessitam da nossa intervenção e confiar que, eventualmente, a situação geral e social melhorará. Continuo a ser extremamente positiva no que diz respeito a este último aspeto - aliás, seria difícil não o ser quando o meu trabalho passa, entre outras funções, por ensinar alguém o que é ser Enfermagem. Posso afirmar que a maioria dos colegas enfermeiros poderá não concordar comigo - são ainda algumas as vozes que oiço relativamente à própria confiança na profissão. Ainda assim, parte de nós, para construirmos algo saudável, sermos igualmente curiosos, questionarmos, aprendermos continuamente e, sem dúvida, esforçarmo-nos por sermos ouvidos, para fazermos ouvir.
Não é fácil aprender a confiar. Tão pouco é fácil deixarmo-nos levar. Nos dias correntes, a construção de uma confiança poderá ser possível se voltarmos a relembrar, a verificar e a acreditar naquilo que é mesmo a Enfermagem. Porque, embora nos seja imposto, por vezes, algo efetuado em produção e quantidade dentro daquilo que são os serviços de saúde, importa saber com que confiança nos entregamos ao que nos é pedido. Porque o fim último, e é urgente reavivar este facto, não somos nós. São os outros. Que, afinal de contas, confiam.
Encontramo-nos, ainda, neste momento, a aguardar. Que as ações sejam cumpridas, que bons rumos se iniciem, que as diferentes formas na e com a sociedade se mantenham saudáveis e propícias a algumas mudanças. Porque foi por isso que escolhe- mos, foi para que alterações e renovações surjam - pois, no fundo, fartos de esperar estamos nós. E esta impaciência já se começa a fazer sentir.
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