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Para que servem as sondagens políticas?

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2011-04-24 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Em tempo de pré-campanha eleitoral, as sondagens políticas não são inócuas. Poderiam ser apenas uma mera leitura pontual da tendência de voto, mas os números divulgados pelos media têm sempre grande impacto. Todos os políticos que delas saem beneficiados ou prejudicados as comentam. E a opinião pública é naturalmente influenciada por aquilo que se diz no espaço público mediatizado. É por aqui que se criam as chamadas ondas favoráveis a este ou aquele partido.
Na passada 5ª feira, uma sondagem da Marktest apresentava um empate técnico entre o PS e o PSD, com uma ligeira vantagem para o Partido Socialista. À partida, os números surpreendiam. Por vários motivos: porque as recentes sondagens vinham sendo favoráveis ao PSD; porque Governo que cai sofre bastante desgaste; porque um país em crise tende a querer uma mudança de líder… Acontece que estes resultados podem ser lidos de outra forma: a escolha de Fernando Nobre para encabeçar a lista por Lisboa e ser candidato à presidência da Assembleia da República e as suas desastradas declarações ao “Expresso” poderiam ter assustado os cidadãos sobre uma eventual mudança de rumo político; porque as recentes posições críticas de militantes sociais-democratas como António Capucho, Paulo Rangel e Marques Mendes, que publicamente vieram desacreditar a equipa de Passos Coelho, podem ser sinais de um partido desavindo, quando importava cerrar fileiras contra o PS; porque a vinda da troika do FMI e as sucessivas reuniões com estruturas governamentais poderão levar a recear uma mudança de actores políticos; porque o último Congresso do PS foi um momento pensado, acima de tudo, para a consagração do líder … De facto, as variáveis que envolvem a construção de uma tendência de voto são, de facto, complexas. Para lá da discussão sobre qual delas será, na verdade, a preponderante, há um dado irrefutável: as sondagens criam factos políticos e, consequentemente, começam a desenhar na opinião público quadros de percepção acerca dos líderes partidários. Não é por acaso que no dia em que uma sondagem se torna pública, há sempre muitas declarações à volta dela. Vejamos o que aconteceu neste caso.
Na 6ª feira, lia-se no “Público” o seguinte título: “Passos Coelho avisa os que ‘andam com o rei na barriga’ que as eleições não estão ganhas”. No “Dário de Notícias” do mesmo dia, lia-se isto: “Portas diz que a sondagem é ‘conveniente’ para o PSD”. O líder do CDS também recorreu à rede social Facebook para tentar neutralizar a sondagem da Marktest, empresa que designou por “Larajatest”, assegurando que os respectivos estudos apresentam erros sistemáticos. Acontece que, passado um dia, uma Sondagem Expresso/SIC/RR mostrava a queda do partido de Passos Coelho ao mesmo tempo que o PS recuperava terreno. No site do “Expresso”, o título escolhido era “PSD perde fôlego”.É verdade que os resultados apresentados não coincidiam. Neste barómetro da Eurosondagem, o PSD ainda tinha uma diferença em relação ao PS de 3.6 pontos. Não é substancial, mas permite uma margem de manobra.
Neste tempo de Páscoa, os recentes números ficam algo diluídos na nossa memória. Hoje é dia para pensar noutros tópicos. Para os católicos, é um momento de renascimento. É disso que todos, no entanto, precisam: de renascer. Não sei se, afogados numa séria crise, conseguimos alento para tal.
Dirão alguns que precisamos de ter fé. É verdade. Eu, por cá, acho que precisamos mais de trabalhar. Em vez de ver os líderes partidários a correr daqui para ali, a comentar esta ou aquela sondagem, eu preferia vê-los preocupados em ouvir especialistas que os ajudassem a fazer propostas válidas. Em vez de ver na televisão peças que mostram hotéis do Algarve lotados em tempo de férias (!!), eu gostaria de ver notícias que falassem de um país de talento e de gente com garra, empenhada em dar a volta a isto; em vez de na 5ª feira ter visto as portas das instituições públicas a fechar, eu preferia ter ficado a trabalhar no meio da normalidade do dia-a-dia. Acho que não estou a exagerar. O Fundo Monetário Internacional dir-me-á isso dentro de dias.

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