A responsabilidade de todos
Voz às Escolas
2019-01-30 às 06h00
Philippe Perrenoud, Dez princípios para
tornar o sistema educativo mais eficaz...
Nos embrulhos diários em legislação, plataformas, inquéritos, questões técnicas e burocráticas, sentimos tantas vezes a necessidade de procurar laços pedagógicos que combinem com os nossos objetivos e visões de escola e de educação e com aquilo que somos e que queremos fazer. Nem sempre o tempo o permite (ou a sua escassez), mas é fundamental tirar alguns momentos do nosso quotidiano e (re)ler tantos pedagogos, tantos mestres (verdadeiros) destas questões e voltar a recordar aquilo que devem ser os laços dos nossos embrulhos diários, e que não foram descobertos agora, mas vêm sendo refletidos pelos grandes pensadores.
O que fazer para tornar o sistema educativo mais eficaz? Hoje convoquei um texto de Philippe Perrenoud, sociólogo e docente da Universidade de Genebra que responde com a apresentação de dez princípios que, no seu entender, ajudariam a melhorar todo o sistema da escola aprendente, tendo como base o “princípio da educabilidade de todos” (tão presente nos tempos atuais, sempre que falamos de medidas universais).
Uma primeira abordagem a este texto torna-se quase num exercício lúdico, pois este sociólogo conseguiu apresentar de forma tão clara soluções que se anteveem como grandes potenciadoras desta eficácia, tão desejada e ansiada por todos. Assim é proposta a adoção de Políticas de educação duradoiras, sistémicas e negociadas, que produzam reformas profundas e não se limitem a arranjos estéticos superficiais. Considero que, e assim não for, continuaremos a cair em utopias e demagogias que arrastam para o desalento, o descrédito e a saturação os intervenientes mais empenhados. Não poderá persistir a imagem da arena política onde se digladiam lobbies coletivos e interesses particulares. Em segundo lugar, as organizações escolares devem ser entendidas como Instituições que têm os meios para serem autónomas e sabem justificar a utilização desses meios, refere o autor. Mas esta autonomia é ainda tão relativa, quando a urgência em avaliar os efeitos e o produto se antecipa à partilha de projetos e boas práticas. O terceiro princípio é a existência de uma verdadeira comunidade de Profissionais competentes, autónomos e reflexivos, empenhados em melhorar de forma contínua e cooperativa, práticas e dispositivos. O professor deverá não somente dominar os conteúdos científicos, mas também compreender o aluno, indo ao seu encontro e à identidade de cada um.
Chefias que exerçam uma liderança profissional, mais do que um controle burocrático, seria o quarto princípio que nos apresenta um gestor, cujo papel principal será o de vincar a identidade da sua escola, concebendo e dinamizando o projeto da escola, numa cooperação com todos os intervenientes. Isto impediria o gestor de se transformar num aplicador tayloriano e burocrata como tantas vezes vamos assistindo no panorama atual. Fundamental é que nos permitam ser este líder. O quinto princípio, Curricula flexíveis, baseando-se no essencial e visando objetivos de formação explícitos e razoáveis, que encontrassem os meios para a preparação de todos. Acreditamos que bastaria que o currículo fosse “mais espaçoso, só o suficiente para nele caberem as pessoas que moram nos alunos” (Joaquim Azevedo) que já provocaria uma revolução no modo como (con)vivemos com os nossos alunos. Esta visão conduziria com mais facilidade à prática do sexto e sétimo princípios cujo objetivo direto é o sucesso de cada aluno. Didáticas construtivistas e dispositivos pedagógicos que criem situações fecundas de aprendizagem através de tarefas propostas diariamente aos alunos, isto implicará uma organização do trabalho escolar posta prioritariamente ao serviço de uma pedagogia diferenciada, cujo objetivo deverá ser a instrução dos alunos que ultrapassa a mera escolarização.
O oitavo princípio preconiza uma divisão equitativa e negociada do trabalho educativo entre os pais e a escola. Diariamente debatemo-nos por esta cooperação, dificultada por uma aparente “oposição” de alguns pais em relação à escola, transformando-se por vezes em ferozes adversários. Será importante que os pais voltem a ter confiança na escola para que se possa pensar nessa importante parceria família-escola. O autor considera também necessária a defesa de profissões fundadas em saberes apoiados pelas ciências sociais e humanas, que tanto nos ensinaram sobre o aluno, a pessoa e o desenvolvimento cognitivo e afetivo. Por último, propõe-nos uma cultura de avaliação mais inteligente. Concordo com o autor, na medida em que muitas vezes as avaliações realizadas às organizações escolares são demasiado “castradoras” e “castigadoras”, pois os avaliadores, sejam eles elementos do poder central ou dos media, parece que não gostam das escolas, procurando culpados, apontando falhas, descortinando bodes expiatórios... O resultado destas “avaliações” conduz, frequentemente, à procura de refúgio na escola burocrática, umas vezes desejada pelos docentes e gestores, outras exigida pelos próprios avaliadores. Sabemos que uma escola séria nunca rejeita a “prestação de contas”, desde que essa honestidade se revele nos diversos sentidos.
Sei que uma revolução destas precisa de tempo (muito), de paciência e de compromissos dos vários intervenientes na melhoria da qualidade da educação, que terão de intervir em todas as frentes da EDUCAÇÃO. Mas o caminho está a ser feito e é importante não desistir! Persistir e conquistar!
14 Março 2024
Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.
Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.
Continuará a ver as manchetes com maior destaque.
Faça login para uma melhor experiência no site Correio do Minho. O Correio do Minho tem mais a oferecer quando efectuar o login da sua conta.
Se ainda não é um utilizador do Correio do Minho:
RegistoRegiste-se gratuitamente no "Correio Do Minho online" para poder desfrutar de todas as potencialidades do site!
Se já é um utilizador do Correio do Minho:
LoginSe esqueceu da palavra-passe de acesso, introduza o endereço de e-mail que escolheu no registo e clique em "Recuperar".
Receberá uma mensagem de e-mail com as instruções para criar uma nova palavra-passe. Poderá alterá-la posteriormente na sua área de utilizador.
Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos.
Deixa o teu comentário