Correio do Minho

Braga,

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Parece mentira…

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Parece mentira…

Ideias

2019-04-02 às 06h00

João Marques João Marques

Mas não é. O dia 1 de abril foi ontem, mas durante a passada semana tivemos notícias tão animadoras para o concelho e para a velha luta pela sustentabilidade financeira da autarquia que nos deixam na dúvida sobre a sua veracidade.
No plano estrito da atividade do município, a decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (ainda que não seja a instância terminal do processo) que considerou improcedente a providência cautelar de um grupo de cidadãos que visava impedir a alienação do edifício da antiga fábrica Confiança a privados, é, parece-me, de saudar.

Como é sabido, a venda da Confiança, tal como enquadrada no caderno de encargos imposto pela Câmara Municipal, estava (e está) fortemente condicionada. Entre outros aspetos, está vedado aos promotores imobiliários que venham a adquirir a antiga fábrica dar-lhe um destino comercial, ou seja, não existirão lojas (salvo de forma marginal – 2% da totalidade da construção admitida – e enquadrada), pelo que não teremos ali, como alguns desconfiavam, o alargamento do Bragaparque. Haverá total salvaguarda das fachadas (que é, como bem sabe quem já lá esteve, o pouco que se consegue recuperar do edificado) e terão de ser previstas zonas destinadas ao público com especial enfoque na historiografia da fábrica.

Já aqui discorri sobre o descrédito em que caíram os que, em 2012, com incontroversa certeza, arguiam que o espaço não valia os 3,5 milhões de euros que por ela foram pagos, sem que hoje alguém os ouça a contrariar a avaliação da autarquia, que coloca em cerca de 4 milhões euros o preço de referência para a venda. Mais importante que notar as contradições de gente que nunca admite o erro, preferindo o aconchego das lutas mediáticas “à la carte”, é sublinhar a oportunidade que a justiça agora abre para solucionarmos um problema que prejudica, acima de tudo, toda uma área urbana que merece a possibilidade de ser reavivada segundo padrões modernos de construção das cidades. É inegável que a Rua Nova de Santa Cruz só poderá beneficiar da requalificação da Confiança, desde logo de forma direta, através do rejuvenescimento do edifício e das zonas adjacentes, e indiretamente com o expurgar de situações de criminalidade ou vandalismo que hoje são possíveis graças ao abandono a que a fábrica está votada, sobretudo na Rua de S. Victor-o-Velho.

Esperemos, por isso, que esta oportunidade crie as condições necessárias para terminar um processo conturbado e prolongado, que mostre ao concelho que a iniciativa privada não é inimiga da memória coletiva das comunidades, mas antes um parceiro fiável na promoção da identidade comum. Aliás, a Fábrica Confiança só existe porque a iniciativa privada a erigiu e manteve operante até aos limites do que era economicamente sus- tentável.
E por falar em iniciativa privada, o que dizer do anúncio de investimento de 38 milhões de euros em Braga que a Bosch assumiu, na passada semana, sob os auspícios do Presidente da República. Cá está mais uma mistura entre o universo público e privado que não merece demo- nização, mas antes congratulação. O país precisa, literalmente, como de pão para a boca do investimento direto estrangeiro.

Por muito que queiramos fazer do discurso do impulso económico através do consumo um mantra político, ninguém consegue desmentir o contributo decisivo que o investimento privado, sobretudo em setores reprodutivos (leia-se fazedores de bens e produtos exportáveis), tem para o equilíbrio das contas públicas, para a prosperidade do país e, sobretudo, para a qualidade de vida dos portugueses.
Ainda me lembro quando se discutia se a “Grundig” ia ou não sair de Braga. Chegou mesmo a falar-se num quando e não num se. E não se debatia sobre quem vinha substituí-la, mas antes sobre a tristeza do desemprego certo de centenas de trabalhadores. Hoje, fruto de uma aposta estratégica da empresa Bosch e da qualidade internacionalmente reconhecida do desempenho dos trabalhadores portugueses (e não só) da fábrica instalada em Braga, temos bases sólidas para sonhar com um contexto de crescimento sustentado da produção aqui sediada e com o aumento exponencial de trabalhadores, direta e indiretamente, beneficiados pela permanência deste grande investimento internacional.

Este sucesso não pode ser desligado do empenhamento do município e da equipa liderada por Ricardo Rio que tudo tem feito para atrair, manter e fazer crescer investimentos deste tipo. O alargamento das instalações da Bosch em Braga é mais um testemunho concreto e palpável da ação política de quem não destrata o investimento privado, antes o acarinha. De quem sabe que, até pode parecer mentira, mas vontades concertadas fazem muito mais pelo futuro comum do que proclamações ideologicamente puras de combate ao capitalismo e de confrontação entre o setor público e privado.?

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