A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2014-04-13 às 06h00
Medo. É isso que eu sinto, quando sou confrontada com cortes no Sistema Nacional de Saúde. As recentes notícias da reorganização hospital reacenderam a minha preocupação. O fecho de serviços em vários hospitais só pode significar um atendimento mais demorado para todos. Com consequências que poderão ser trágicas para muitos.
Sei que os hospitais têm excelentes profissionais, mas também sei que o acesso aos cuidados de saúde nem sempre nos é facilitado. Numa conjuntura de austeridade e perante a necessidade de se reduzir a despesa pública, é difícil poupar os hospitais ou centros de saúde. Ainda ontem o “Expresso” anunciava que o Governo precisa de cortar mil milhões de euros na sua gestão corrente. É muito dinheiro, de facto.
Ora, tendo em conta esta necessidade de redução drástica de orçamentos, não será de estranhar a portaria publicada na passada quinta-feira em Diário da República classificando hospitais por grupos e definindo as respetivas valências, ou seja, subtraindo a algumas unidades serviços importantes para garantir cuidados médicos completos. Poder-se-á sublinhar que se procura aqui aumentar a qualidade dos serviços oferecidos, optimizando simultaneamente meios e recursos humanos. É o discurso habitual, mas há outra realidade.
Imagine esta situação. Dá entrada de urgência num hospital e, de repente, com a triagem feita e depois de passar numa consulta, descobre que a especialidade de que precisa não existe ali. Argumentar-se-á que essa valência está a uns 50 quilómetros. Nem sempre isso é verdade. Poderá estar mais distante. Some-se a isso a gravidade do caso e a impossibilidade de o doente ser transportado num carro particular e exigir uma ambulância. Haverá viaturas e pessoal médico disponíveis? Tenho medo da resposta. Muito medo.
Há ainda outra ponderação a fazer: a sobrecarga de trabalho que os hospitais que concentram essas valências vão, decerto, sofrer. Num mundo ideal, em que tudo funciona bem, isso não seria um problema. Ora, eu não conheço nenhum serviço médico isento de queixas relacionadas com o excesso de utentes. Essas reclamações aumentarão rapidamente.
É claro que o Ministério da Saúde vê-se confrontado com uma máquina poderosíssima. Cheia de entropia, asfixiada por lobbies, entorpecida por pessoal que gere as suas horas de trabalho em função do tempo que dedica à medicina privada. São assim os hospitais públicos. Mas é para aí que se dirige a maioria dos portugueses. É aí que eu sinto ter mais garantias de um tratamento adequado, nomeadamente nos casos de extrema gravidade. Por isso, acho que deveria haver uma espécie de pacto de regime que defendesse o Sistema Nacional de Saúde.
A nossa vida de todos os dias depende da saúde que temos. A nossa perceção de que somos felizes também é tributária do bem estar físico que sentimos. A produtividade laboral apenas é possível se estivermos bem. Tendo tudo isto em conta, é possível tratar dos hospitais como se trata uma qualquer empresa? Possível será sempre, mas não é o mais acertado.
Quando me dirijo a uma Urgência de um qualquer hospital e me confronto com horas intermináveis de espera e, depois de entrar, com um atendimento demorado, fico a pensar naquilo que aquele hospital poupa no imediato (não contrata tantos funcionários, não despende tanto dinheiro em exames...) e naquilo que o país perde a médio prazo. Aquela pessoa que fica ali horas a fio para ser atendida pode ser um caso grave que não está a ser ponderado. Por isso, vai faltar mais dias ao emprego ou ocupar uma cama num internamento que até poderia ser dispensável... E depois há ainda o sofrimento pessoal do doente e daqueles que lhes são próximos. O mais trágico é que todos nós nos sentimos impotentes para defender aquilo que é um bem supremo: a nossa saúde.
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