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Paz, pão, povo e Liberdade?...

Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel

Ideias

2017-11-28 às 06h00

João Marques João Marques

“Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!”

Assim versa Fernando Pessoa num dos seus mais célebres poemas, titulado “Liberdade”. Parece-me que, para além da sua atualidade estética e substantiva e descontando o “romantismo”, as estrofes citadas remetem-nos para uma outra atualidade, a da disputa da liderança do PSD.
Desde que Pedro Passos Coelho decidiu não se recandidatar à liderança do partido, moveram-se as massas, correram as prensas, saíram os títulos e apresentaram-se as candidaturas, justamente para dissipar as brumas. O Partido Social Democrata é, não nos esqueçamos, o principal partido do espectro político nacional. Até que novas eleições legislativas ocorram e o venham a renegar, o grupo parlamentar do PSD é o maior da Assembleia da República, traduzindo a vontade expressa pelo eleitorado.

Tudo isto serve para demonstrar a importância destas eleições internas, o que claramente não se alcança da cobertura jornalística da campanha eleitoral. Admito que tal se deva ao facto de nenhuma das candidaturas ter ainda avançado com uma proposta estruturada de projeto alternativo e novo para o país. Algo de difícil concretização, confesso, face à história recente do partido.

Senão vejamos, até agora, a estratégia do PSD assentava solidamente numa mensagem muito transparente sobre a relação entre as dificuldades que o país ainda tem de ultrapassar e os ganhos geracionais que podem advir da superação dessas dificuldades. Não era e continua a não ser fácil fazer passar a mensagem e demonstrar à sociedade (e à saciedade) que este caminho, de ganhos diferidos no tempo mas sedimentados na paciência e na seriedade de análise sobre as forças e fraquezas do país, é o ideal. Podia-se gostar ou detestar, mas ninguém disputará que havia, no atual PSD, uma alternativa política clara ao governo em funções.

Os dois candidatos conhecidos - Santana Lopes e Rui Rio - têm, por isso, em mãos uma opção que, em boa verdade, talvez não o seja. Explicando: se qualquer um deles se apartar excessivamente do caminho traçado pela atual liderança, podem expor-se ao ridículo de defenderem as políticas do atual governo e claudicarem perante o eleitorado, que os verá não como alternativa, mas como mera iniciativa de alternância.

Uma tal perceção incrementará o risco de não serem levados a sério no país e no partido que, por sua vez, não estará à vontade para passar a mensagem de que, agora, o que é bom é fazer como os outros, mas em tons de laranja; por outro lado, sem uma nota distintiva que os possa destacar de Pedro Passos Coelho, caem no papel de cópia (a preto e branco) de um original que, relembre-se, nunca perdeu eleições legislativas. Ora, como é já uma das imperiais leis da vida (política), seja pela inerente falta de autenticidade, seja pelo desconforto que facilmente transparece de quem professa o que não defende, a cópia nunca ganha ao original.

O que sobra, por isso, aos dois candidatos é uma margem curta de afirmação pessoal e política junto do eleitorado (dentro e fora do partido), uma linha ténue que separa a autenticidade da traição ao legado de sucesso do anterior governo, obtido em circunstâncias de enormes restrições financeiras. E é, portanto, muito relevante que a tal escolha, de cuja existência duvido, seja, ainda assim, assumida em termos cristalinos. Mostrar diferença para o futuro sem demonstrar indiferença pelo passado é a única opção que verdadeiramente os colocará em sintonia com o partido e em consonância com as expectativas do país.

A outra grande dificuldade que se põe a Santana Lopes e Rui Rio é a ideia de que são ambos escolhas de circunstância, “candidatos de transição” entre o estado gasoso e o estado sólido de um partido em convulsão, subprodutos com prazo de validade determinado, nunca superior a dois anos. Como insinuava o poeta, não se pode, em dias de bruma, esperar por um líder providencial que nunca chega, contudo, a ideia que perpassa é a de que D. Sebastião existe, está perfeitamente identificado e, mais cedo do que mais tarde, há-de chegar, com ou sem bruma, à liderança do PSD.

Algures entre a Bósnia e a Albânia sinaliza-se, em forma de país, o nome de quem se apresenta como a escolha preferida, mas não atendida, dos militantes do partido. No entretanto, o que temos são dois nomes de pessoas com provas dadas na política, com pontos fortes e menos fortes, em quase nada coincidentes, diga-se. Duas personalidades a quem cabe assumir o palco da responsabilidade e oferecer ao país uma ideia coerente e consistente de afirmação da social-democracia portuguesa.

O já gasto, mas sempre válido, apelo a um projeto “mobilizador” nunca soou tão determinante na altura de escolher o próximo presidente do PSD, líder da oposição e candidato a Primeiro-Ministro. Não só pelo que isso tem de importante para o país e para o partido, mas também pela relevância que tal terá na sobrevivência política de cada um deles, o que se refletirá de forma conclusiva no epitáfio político de duas das figuras mais conhecidas e reconhecidas do PSD.

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