A responsabilidade de todos
Ensino
2022-06-01 às 06h00
Os portugueses esgotaram os seus recursos naturais e passamos a “entrar” no crédito, ou seja, a fazer uso de recursos por conta futura. Estar a viver por conta de algo que podemos vir a receber no futuro, não parece ser um modelo de referência. Talvez seja tempo de pararmos e pensarmos um pouco, é o momento para corrigir as nossas ações e agirmos de forma diferente, com consciência. Considerando que o semestre não terminou e já consumimos todos os nossos recursos naturais para um ano é, no mínimo, preocupante. O alerta foi lançado pela associação Zero, defensora do ambiente, mas o impacto foi mínimo, com as questões da conjetura internacional e do campeonato nacional de futebol. E agora? Os dados nacionais da pegada ecológica (entenda-se, a nossa marca enquanto seres humanos no mundo), calculados pela organização internacional Global Footprint Network, revelam que se cada ser humano tivesse os mesmos hábitos que os portugueses seriam necessários o equivalente a 2,5 planetas para satisfazer as necessidades totais até ao final do corrente ano, em termos resumidos e num cenário “ótimo”. O que a comunicação social não relatou é que estes números são, de facto, assustadores e urge tomar uma atitude positiva de imediato.
Segundo a Zero, parceira da Global Footprint Network, estamos a viver acima das nossas possibilidades ambientais e, neste momento, acionámos o “cartão de crédito” do ambiente, sendo esse facto um registo que se identifica cada vez mais cedo, em relação ao período transato. É premente uma mudança de hábitos e, aqui, apela-se a uma consciência social ambiental, exigindo-se responsabilidade aos nossos atuais dirigentes políticos. Vivemos, um dia após o outro, numa total ausência de política pública responsável e coerente, que defenda o interesse público, ou seja, o ambiente para todos nós. Em Portugal, esse facto nota-se ao longo dos últimos anos onde a política pública, na área do ambiente, não tem sido nem eficiente nem eficaz na gestão dos muitos recursos naturais de que dispõe.
De um modo geral, e como quase tudo na nossa sociedade, o que é triste, é que consumimos mais do que produzimos. Penso que é o momento de parar e refletir um pouco para tentar responder às seguintes perguntas: Que mundo pretendo ver amanhã?
Qual o meu contributo nessa mudança de hábitos? Onde me posiciono nesta “luta” pelo ambiente? Ser displicente não é, de todo, ser consciente. Continuar a fazer de conta que o problema é de todos e deixar que sejam os outros a resolver a questão é a velha técnica da avestruz (enterrar a cabeça na areia à espera que a tempestade se resolva e depois ver o que se pode fazer).
Essa passividade social que os nossos políticos levam para o exercício das suas funções públicas é muito pouco responsável e nada saudável, no geral.
Regressando aos dados dos cálculos da Global Footprint Network sobre este tema da pegada ecológica, mais de metade dos países analisados conseguem ser mais destruidores que Portugal. Há, no entanto, “bons alunos” porque existem países que conseguem ir até ao final do ano sem quase usar esse “crédito” ambiental.
Fazendo um paralelo entre os “extremos”, se todos os habitantes do planeta tivessem uma pegada ecológica semelhante aos habitantes do Qatar, os recursos do planeta esgotar-se-iam a 14 de fevereiro (assustador) mas, por sua vez, se fossemos todos como os habitantes da Jamaica, os nossos recursos chegariam até ao dia 20 de dezembro (mais animador). Neste esforço de compararmos, não se pode dizer que Portugal seja um bom aluno, nem algo parecido, uma vez que a nossa realidade nacional se encontra a menos de meio da tabela, tendo os recursos sido esgotados a 7 de maio. Estamos piores que o Japão, que termina um dia depois (note-se, uma sociedade mais rica e desenvolvida que a nossa) e estamos piores que a Espanha, Suíça e Reino Unido, só para dar algumas referências europeias.
Não nos podemos esquecer que a pegada ecológica humana necessita de recursos renováveis e os “sinais” indicam que não estamos a pensar nesta possibilidade. A sociedade moderna “educa-nos”, cada vez mais, a consumir gadgets pouco amigos do ambiente, como é o caso dos novos telemóveis, dos carros elétricos e dos novos computadores, todos com recurso a baterias de lítio. Esta é uma guerra económica que requer consciência cívica e visão de futuro, características que, infelizmente, os nossos políticos não desen- volvem.
A massa crítica fora do seu “umbigo” ou da sua zona de conforto não é bem vista na nossa sociedade. Não podemos pensar diferente e por essa razão, estamos hoje, em 2022, a “pagar” o preço pela nossa inércia (já nem digo, reação). Em caso de interesse, sugere-se a consulta do questionário disponível no site da Global Footprint para ver qual o contributo (ou impacto) na construção de uma sociedade melhor.
Face ao exposto, as perguntas que deixo no ar, e que também me coloco, prendem-se com o seguinte: que tomada de consciência individual tenho sobre o peso da minha pegada ecológica e qual a responsabilidade social intergeracional que pretendo deixar às gerações vindouras?
Fica a partilha e a reflexão.
14 Março 2024
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