A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2010-06-06 às 06h00
Faltam poucos dias para o início oficial do Mundial 2010 e dou comigo à procura da alma deste grande evento. Uma nação a vibrar por uma equipa de futebol, um planeta unido à volta de relvados que juntam países desavindos, povos ricos e pobres, gentes de idades variadas, de classes diversas, de gostos desencontrados. É essa cola do mundo, que nos agrega uns aos outros, que constitui a grande magia de um acontecimento deste tipo e que ainda não sinto. Espero recuperar tudo isto por estes dias. Porque é preciso sentirmo-nos motivados a torcer pela nossa selecção. Porque necessitamos de um desígnio que nos devolva algum optimismo nestes tempos tão sombrios.
É certo que não faltam notícias sobre a Selecção Portuguesa. Percorrendo os noticiários dos vários canais de TV, lá encontramos peças que nos dão em permanência retratos destes dias de estágio na Covilhã. Confesso que não gosto muito daquilo que vejo. Esta semana, num directo da SIC, a população local queixava-se, com razão, dos jogadores portugueses que não exibem qualquer gesto de simpatia quando participam em cerimónias públicas locais e encontram os adeptos na rua à espera do autocarro da selecção.
Não é uma estratégia acertada. Recordo que o anterior seleccionador, o brasileiro Luís Felipe Scolari, não era particularmente empático para com os jornalistas, mas exibia gestos de grande empatia para com os cidadãos que acorriam a apoiar os jogadores da selecção. Estes apanhavam essa postura por simbiose. Carlos Queiroz parece ter uma grande preocupação com os media, mas não gasta muito tempo com o cidadão comum. Faz mal.
Num interessante livro intitulado “Na Pele da Cultura”, Derrick de Kerkhove lembra que “a pele como dispositivo de comunicação e não como protecção faz todo o sentido”. Aceitando as teses de Didier Anzieu (que intitula sugestivamente um dos seus livros como Le Moi Peau), a pele seria não apenas aquilo que delimita o corpo que temos, mas também aquilo que nele fazemos penetrar, funcionando, à partida, como “interface da comunicação sensorial”, como bem defende Jean Devèze. Se tivermos em conta que a pele é o primeiro órgão que participa na troca de significados entre os indivíduos, teremos de valorizar as sensações, principalmente quando o nosso referente é um evento que vive de emoções. São elas que aglutinam multidões unidas por uma espécie de cola emotiva.
Certamente que, a partir desta semana, vamos vibrar mais com o Mundial. Espero que por muitos e muitos dias. Para a África do Sul, estão a voar muitas equipas de jornalistas de diferentes órgãos de comunicação social que, em tempo de crise, fazem um enorme investimento financiamento numa cobertura mediática que se antevê de sucesso. Porque o mundo da bola é hoje uma grande e lucrativa indústria que ultrapassou substancialmente os limites de um campo de futebol.
Jornais, rádios, televisões e Internet têm já formatos em fase de arranque. Seguirei com particular interesse o trabalho das televisões. Serão elas os meus olhos em locais onde gostaria de estar e não posso. Nestes dias, passarei mais tempo em frente dos ecrãs de TV e de computador. É, sobretudo, por aqui que resgatarei as imagens necessárias para reconstruir um dos maiores eventos mediáticos. E, claro, em dia de jogo da selecção portuguesa, espero ouvir mais buzinas estridentes de carros que passam e deixam um rasto contagiante de entusiasmo. Também gostaria de ver nos espaços por onde eu circulo pessoas com rostos mais sorridentes.
Portugal. Portugal… Tantas e tantas músicas que lembro, quando penso nos recentes europeus e mundiais de futebol. E sinto-me mais próxima da nação que somos. É também este o mérito da nossa selecção que João Nuno Coelho, num livro que publicou em 2001, intitulou “a equipa de todos nós”. São eles que vão entrar em jogo, mas somos nós enquanto país que vamos estar em prova.
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