Investir na Juventude: o exemplo de Braga e desafios futuros
Escreve quem sabe
2025-01-21 às 06h00
É atribuída a Francisco Sá Carneiro a frase: “em política, o que parece, é”. Vem isto a propósito e na sequência do recente estudo - “Barómetro da Imigração: a Perspetiva dos Portugueses”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que veio colocar nas primeiras páginas a problemática da imigração, ao concluir que a perceção de uma larga maioria dos portugueses aponta para a existência de excesso de imigrantes no país. Imediatamente se levantaram uma série de entendidos que condenam tais pensamentos como erros e má informação, apontando dados económicos dos ganhos obtidos para Portugal por termos tantos imigrantes, rebatendo os receios pelo aumento de insegurança com registos estatísticos que comprovam o seu contrário.
Afirmar que os imigrantes vêm para fazer o trabalho que os portugueses já não querem fazer, ou que vêm equilibrar a nossa pirâmide demográfica, e que as contribuições das remunerações fazem a diferença na sustentabilidade da nossa Segurança Social, é atirar areia para cima dum problema sério que pode vir a ferir seriamente a nossa Democracia.
Os portugueses não se recusam a fazer determinados trabalhos por desconsideração técnico-laboral, mas porque são muito mal remunerados. Pretender que outros continuem a faze-lo nessas condições é contribuir para que o país mantenha a sua economia assente em baixos salários e para que os nossos jovens saiam daqui, porque o que lhe oferecem pelo seu trabalho não lhes chega para viver. É ainda uma forma de estigmatizar negativamente quem para aqui vem para trabalhar, aceitando condições de vida que muitas vezes roçam o limite da exploração laboral.
Pior é o argumento da sua contribuição para o aumento da natalidade, como se os portugueses não o consigam, ou queiram fazer. Construímos uma sociedade em que todos trabalham e todos desejam fazer sua carreira profissional. Ter filhos nessas condições é um risco que os mais jovens sabem avaliar, seja no que diz respeito ao interregno da maternidade, seja na educação dos seus descendentes.
Quanto há sustentabilidade da Segurança Social, é ignorar que as contribuições acompanham o nível das remunerações. Serão os salários de miséria pagos à maioria dos imigrantes que fazem a diferença?
É bom que se pense seriamente em modificar o modelo de financiamento. Mas isso parece continuar a ser um tabu neste país.
Julgo assim, que a reação que a maioria dos que questionaram a tal perceção dos portugueses é mais influenciada por razões ideológicas do que racionalidade cultural, ou mesmo económica e social. Falta a essa vanguarda da multiculturalidade o conhecimento dos povos, esforçando-se por ignorar que estes se diferenciam por sentimentos de grupo, com laços culturais e civilizacionais próprios que lhes asseguram maior estabilidade e segurança nas suas vidas. Por mais verdade que se queira mostrar por estatísticas, ignorar o que o povo diz “à boca pequena” é um erro político que se pode vir a pagar caro. Combater estas perceções com acusações de ignorância, desinformação, xenofobia e racismo só piora a situação, e sacrifica politicamente os partidos políticos moderados em favor das forças políticas mais extremistas. A imigração é um assunto muito sensível em todos os povos, sobretudo se entre eles existirem culturas assumidamente diferentes. Foi essa insensibilidade às migrações que reforçou o voto que levou ao Brexit, o mesmo acontecendo na eleição de Donald Trump e na subida de partidos da direita mais radical em toda a Europa, como em França, Alemanha, Irlanda, Finlândia, Países Baixos, Chéquia, Grécia e Chipre, tendo assumido o poder em Itália, Hungria, Eslovénia e Áustria. Esta é que é a realidade dos dias. É verdade que as migrações sempre existiram, designadamente quando acompanhavam os exércitos conquistadores; quando foram necessários para fazer trabalho duro e escravo; quando se fugiu da pobreza da terra onde se nasceu para procurar melhor vida noutro local; quando se fugiu da guerra e da opressão. Em nenhum desses movimentos os migrantes encontraram na população dos países para onde foram, uma receção de “braços abertos”.
Sim. A nossa sociedade tem vindo a evoluir e nesse sentido comungo da importância que deve ser dada para procurar receber e incluir os imigrantes condignamente. Mas a inclusão não é apenas uma vontade política, mas um processo que só o tempo e a assimilação progressiva da cultura local por parte dos imigrantes, torna tal objetivo possível. A multiculturalidade tem muitos aspetos positivos, existindo algumas nações que devem boa parte do seu crescimento aos imigrantes. Contudo, não podemos ignorar as mudanças ocorridas no nosso mundo ocidental a partir do surgimento das ações de terrorismo, sobretudo os de origem islâmica. Da compreensão e respeito pela cultura dos outros, passou-se para a desconfiança e medo de quem não é como nós. Não se passou agora a ser racista e xenófobo. O receio da aproximação de desconhecidos faz parte dos instintos naturais, numa reação natural de defesa. A dimensão dessa atitude é diretamente proporcional ao número de indivíduos que chegam e do desconhecimento da sua cultura. É relevante também saber que as migrações sistemáticas e numerosas provenientes das mesmas zonas dão normalmente origem à formação de comunidades estrangeiras nos países recetores. Muitas dessas comunidades são respeitadas e até louvadas porque contribuem para uma melhor e organizada integração dos seus membros na sociedade local. Mas, nem todas o fazem. Há comunidades que têm mais dificuldades de integração pela diferença substancial de culturas. Ora transportar para os países para onde imigram as suas tradições, cultura e práticas religiosas, tornando essas comunidades guetos de gente estrangeira é acentuar divergências entre as pessoas. Continuarão estrangeiros e estranhos. A distinção dos outros pela raça e o receio do estranho não são desvios civilizacionais, são condições emocionais normais a que a civilização ocidental retirou agressividade.
Em Democracia é ao povo quem cabe afirmar as suas vontades. As perceções manifestadas em voz baixa apenas escondem inquietações mais profundas. Não as ignorem, nem as hostilizem. Avaliem-nas.
11 Fevereiro 2025
09 Fevereiro 2025
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