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Ideias

2015-10-20 às 06h00

Analisa Candeias Analisa Candeias

Tenho amigos, de toda a vida, que são enfermeiros. E amigos, enfermeiros, que ficaram para toda a vida. É fácil criar relações com esta espécie da área da saúde. Ou seja, são dos poucos, nas diferentes comunidades socias, que compreendem, entendem, e são solidários - habitualmente - com as questões pessoais de horas de sono trocadas, questões familiares colocadas para segundo plano, imprevistos de última hora e, falando em bom português, são os que melhor entendem a palavra “desenrascanço” - quando é necessário utilizá-la na prática. Aliás, prática, teoria, ética e criatividade não lhes falta, visto que, durante os primeiros anos de formação de base, estes conceitos são como que inculcados na sua aprendizagem e impelidos a serem igualmente desenvolvidos.

Tenho amigos que não são enfermeiros. Porém, ao lidarem connosco, com os nossos horários e penas de turnos contínuos, sabem igualmente ser solidários e defendem-nos com tudo aquilo que podem - o que às vezes não é muito, mas é suficiente para que que sintamos alguma preocupação vinda dos outros profissionais para com a profissão. Consideramo-la a melhor profissão do mundo, senão como aguentaríamos horas e horas de trabalho sem nos sentarmos, sem comermos, sem socializarmos e dedicados a Outros que necessitam tanto de nós?

Os nossos familiares às vezes - só de vez em quando - têm uma ou outra queixa, em especial quando não podemos estar presentes numa festa de Natal ou de Páscoa, ou de aniversário. Aí sim, somos chamados à atenção pelos nossos mais próximos. Todavia, estas questões são apenas colocadas nos primeiros dois, três anos de trabalho, visto que as rotinas e hábitos de não estarmos presentes começam a fazer-se sentir, e deixam de ser estranhas.

Ainda assim, não somos pagos pelo que devemos, tendo em conta a nossa educação e a aposta que foi realizada na maioria de nós pelos assuntos estatais, pais, família e afins. Somos poucos nas diferentes unidades de saúde onde trabalhamos (talvez por isso passemos tão pouco tempo em casa e com os amigos), sentimo-nos já um pouco exaustos e queremos algo melhor. Procuramos algo melhor. Lutamos por algo melhor - há já alguns anos… Mas mantemo-nos como enfermeiros, e sabemos que somos imprescindíveis, fundamentais. Continuamos a estudar, a querer saber mais, a especializarmo-nos, ainda que o nosso magro salário se mantenha igual, independentemente deste desenvolvimento de competências e de conhecimento científico. Somos enfermeiros teimosos, e daí? Demonstramos sempre a qualidade dos nossos cuidados, da nossa especialidade e dos nossos saberes.

É um discurso recorrente, este meu desabafo. Por isso é que devia ser ainda mais estranho as situações e disposições ainda não se encontrarem resolvidas. Da forma mais justa, claro. Porém, vamos avançando pouco a pouco, com passos sólidos e seguros. Com esperança e vontade. Já chegamos até aqui. Somos enfermeiros pacientes. E bons ouvintes. E, acima de tudo, vamos continuar.

As eleições para os cargos de liderança e administração da Ordem dos Enfermeiros estão aí à porta. Somos mais de sessenta mil a votar, a decidir. Existem, este ano, inúmeros candidatos, que nos dividem e nos vão deixando algo confusos - mas em obrigação de pensar, de refletir, de decidir. Seriam necessárias tantas listas, seriam necessárias algumas divisões? Cada um assume o título de compromisso que pretende, e cabe-nos a nós, na profissão portuguesa, eleger aquela, ou aquele, que considere mais adequado ao cargo. Não queremos apenas representatividade. Queremos situações claras e igualitárias. Queremos determinação e autonomia.

As eleições, no que diz respeito à Ordem dos Enfermeiros, igualmente devem ser do interesse da população geral - dos civis para a profissão. Os vossos cuidados de saúde também dependem das nossas decisões e de quem nos lidera. Interessem-se, leiam, oiçam, divulguem. Participem numa eleição que, embora não dependa de vós, depende - em grande parte - do vosso interesse. Porque as nossas ações são para a população em geral. São para os Outros, que nos identificam no dia-a-dia como profissionais de saúde altamente diferenciados e essenciais.

Precisamos de todos. Dos enfermeiros, das comunidades, dos grupos, dos indivíduos. Precisamos de si e de mim. Precisamos de fazer parte do todo como todo, não como pensamento ou voz individual dos nossos interesses pessoais. Precisamos de estar em partilha e em divulgação, promoção da profissão, aqueles que são Enfermagem. Afinal de contas, somos enfermeiros teimosos, pacientes e ouvintes - nunca ouviu falar de nós?

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