Os perigos do consumo impulsivo na compra de um automóvel
Ideias
2018-10-16 às 06h00
São muitos e bons, diria eu para começo de conversa. E diria mais, são ainda poucos para o que é preciso. De resto, nem percebo as críticas de quem vem dizer que os pilaretes impedem cidadãos com mobilidade reduzida, ou que padecem de ambliopia, de circular tão bem como o faziam anteriormente. Alguém realisticamente pode defender que essas pessoas estavam melhor quando tinham carros e camiões estacionados em cima do passeio obrigando-as a desviar-se para a faixa de rodagem quando não mesmo a evitar ruas inteiras com receio de nelas não poderem circular?
Já aqui discorri sobre a falta de civismo latente dos bracarenses no que toca ao estacionamento. Admiti, como continuo a admitir, que existirão insuficiências pontuais que haverá que superar no domínio da oferta de lugares de estacionamento, mas esse argumento é tão débil quanto é sabido e conhecido que Braga não tem propriamente falta de parques de estacionamento. O que há, sim, é o hábito legítimo de tentar encontrar um lugar para estacionar que não esteja sujeito a pagamento.
O pecado original reside na forma como foi planeada a cidade, autêntica Los Angeles portuguesa, atravessada e circundada por vias rápidas do tipo “autoestrada” que significaram, não raras vezes, o esventrar de bairros seculares como o da Cónega (oficialmente conhecida por Rua da Boavista). Sobre esses erros não vale a pena perorar aos céus por soluções milagrosas. O que há é o que se conhece e todos sabemos que não se redesenha um concelho em 10 ou 12 anos. Sem prejuízo de poder ser tentada a reinvenção de determinadas áreas da cidade, a reconversão de espaços abandonados ou em desuso e, até, a criação de novas centralidades, o problema da mobilidade é muito mais difícil de resolver.
Jugo ser reconhecido que Braga, tal como foi desenhada pelos sucessivos mandatos de Mesquita Machado ao leme do município, deu excessiva primazia à utilização do automóvel em detrimento do transporte público ou dos chamados meios suaves de locomoção, como as bicicletas. Não me interessa, com sinceridade, voltar a atacar essas opções e os custos que trouxeram a todos nós, sejam eles de natureza económica, ambiental, comunitária ou outra. O que quero, pelo contrário, é estabelecer como premente um enquadramento global e estratégico de reorientação dos comportamentos dos bracarenses. Sem tiques autoritários ou vanguardistas, o que me parece essencial é demonstrar ao concelho, primeiramente, que dispõe de uma rede de transportes públicos eficaz, confortável e sustentável. Este ponto primordial tem visto ação concreta por parte do município, sendo o rejuvenescimento da frota que já ocorreu (ainda que assumidamente insuficiente), o reforço de algumas carreiras e a recente aquisição de autocarros elétricos para os TUB a face mais visível disso mesmo.
A aposta no reforço das ciclovias é também importante e o investimento já previsto na sua expansão é o testemunho das mudanças que, também aí, se querem materializar. Uma rede de ciclovias que percorra a generalidade do concelho não pode deixar de ser o objetivo maior, mas as mudanças substantivas que todos desejamos pressupõem um espectro temporal bastante largo.
Infelizmente, não basta demonstrar à população que existem alternativas à utilização dos automóveis, é preciso também mobilizar esforços para desincentivar práticas enraizadas há décadas. Sempre defendi que, ao lado da estratégia positiva e incentivadora da utilização de transportes públicos e meios suaves de locomoção, tem de existir uma face menos simpática de penalização do uso dos automóveis. Porém, essa penalização só pode ocorrer quando existam efetivas alternativas e a rede de transportes públicos esteja em condições de assegurar serviços comparativamente tão ou mais convenientes para a população quanto o uso do automóvel.
É, por isso, de resto, que reconheço não ser possível, já hoje, instituir pesadas restrições de acesso ao centro urbano ou encerrar vias ao trânsito automóvel. Como, pela mesma razão, me bati pela reversão do despacho que alargava as zonas de estacionamento à superfície sujeitas a pagamento. Contudo, essa impossibilidade transitória, não significa que, no futuro, Braga não equacione essas possibilidades e opte, em conjunto, por medidas desse tipo.
E quando falo em optar em conjunto, falo obviamente de programas eleitorais que prevejam essas mudanças, que as expliquem, que lutem por elas e que tentem obter, por parte dos cidadãos, a concordância possível. Desengane-se quem achar que teremos uma ululante maioria a apoiar muitas destas medidas, mas é dever de quem nos governa ou quer governar, pensar nas consequências da ação política num espectro de médio e longo prazo, algo que tantas vezes só está ao alcance de quem diariamente lida com a gestão da urbe.
Até lá, o cocktail de medidas políticas implementáveis pela autarquia terá de passar pela mistura dos ingredientes que estejam realisticamente à sua disposição. E os pilaretes são, sem dúvida, uma dessas medidas.
15 Junho 2025
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