Os bobos
Voz às Escolas
2010-06-16 às 06h00
A escola tem necessidade de se renovar em cada dia, enfrentando os novos desafios colocados pelas grandes mudanças económicas e sociais e pela evolução tecnológica. As tecnologias tiveram sempre um papel de relevo na educação, mas com o seu galopante desenvolvimento nas últimas décadas, particularmente com a generalização e cada vez maior abrangência das potencialidades da internet, têm permitido novas modalidades de ensino e potenciado uma resposta mais eficaz (e económica) à crescente necessidade de formação inicial ou contínua dos cidadãos.
Apesar das dificuldades económicas apontadas ao longo dos anos para o baixo investimento tecnológico (e não só) na educação, ou da propalada falta de sensibilidade dos responsáveis educativos que aceitam uma contenção orçamental que não permite às escolas acompanharem a evolução vertiginosa que acontece à sua volta, é reconhecido que houve um progressivo investimento através de vários projectos no âmbito das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC).
Foram vários os projectos implementados, uns de forma generalizada, outros por candidatura, ha-vendo um aproveitamento diferenciado dos mesmos, de escola para escola. Em 2007 foi lançado o Plano Tecnológico e hoje as escolas encontram-se razoavelmente equipadas (computadores, projectores multimédia, quadros interactivos, software educativo); no entanto, de uma forma geral, a rentabilização pedagógica destes equipamentos fica aquém das suas potencialidades e do desejo de exploração dos alunos, por não ter havido mudança no paradigma educativo, como se impunha.
Usar as novas tecnologias utilizando as metodologias antigas (e antiquadas), não faz sentido, nem traz ganhos significativos ao processo de ensino/aprendizagem. O grande desafio na utilização das novas tecnologias situa-se exactamente na adequação da pedagogia/metodologia ao contexto em que a aprendizagem se realiza.
Para além das naturais dificuldades ou resistências face à mudança, o professor confronta-se com uma nova perspectiva do seu papel e novas competências e funções lhe são exigidas. Pela primei-ra vez na história uma geração possui mais conhecimento e sente-se mais apta em relação a uma inovação basilar no desenvolvimento social - as tecnologias - que a geração dos seus educadores. Os alunos são os “nativos digitais”, na designação de Prensky, enquanto os professores são os “imigrantes digitais”.
O professor continua a ter um papel relevante na construção do conhecimento e na educação dos alunos, mas deixa de ser o grande detentor do saber - agora disponível numa infinidade fontes - assumindo um papel de tutor/facilitador do processo de ensino/ /aprendizagem. Esta nova perspectiva do seu papel implica que possua competências comunicativas, que tenha formação no âmbito das metodologias de trabalho virtual que o habilitem para o trabalho colaborativo, e que esteja disponível para participar no desenvolvimento de novas respostas aos novos problemas, experimentando as potencialidades - e oportunidades! - que as novas tecnologias lhe proporcionam.
Do aluno espera-se que aprenda a procurar e gerir a grande variedade de informação disponível no ambiente virtual, assumindo uma maior autonomia.
A incorporação de novas tecnologias (particularmente o advento do computador na educação), mediatizando a distribuição dos conteúdos de aprendizagem, gerou insegurança em muitos professores menos (in)formados e menos confortáveis no seu uso do que os seus alunos. Carlos Fino (2001), doutorado em Educação pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no artigo Uma Turma da “Geração Nintendo” Construindo Uma Cultura Escolar, refere “duas filas de atitudes opostas” que têm acompanhado a integração dos computadores nas escolas: a dos optimistas e a dos pessimistas.
Parece-nos que omite uma visão também muito presente, a dos indiferentes, talvez por ser, ao nível da investigação, uma visão menos interessante, que se ‘manifesta’ pela apatia, que não argumenta; os que nela se integram deixam rolar o tempo sem se comprometerem, aguardando que o curso da tecnologia defina uma tendência.
Não basta apetrechar as escolas com novos equipamentos. Os projectos não tiveram até hoje um maior impacto educativo porque nem sempre houve a adequada formação dos docentes, esbatendo o cepticismo de alguns com a dose excessiva do optimismo de outros. Os indiferentes, no final, são arrastados da margem pelo caudal da tendência que se venha a impor.
É necessário investir numa formação em competências comunicativas e metodologias de trabalho virtual, que não fique pelos aspectos meramente técnicos e elementares da utilização das “ferramentas”. Uma (apressada) certificação de competências nas TIC, como a que se está a processar no âmbito do Plano Tecnológico é ineficaz e apenas servirá para camuflar a falta das mesmas: a nova geração é “especialista” nas tecnologias digitais e os professores também têm que se sentir confortáveis no aproveitamento educativo das suas potencialidades.
A história infelizmente não abona em favor dos optimistas no que à qualidade da formação contínua diz respeito: acaba-se sempre por ficar muito pelas terapias de “clínica geral”, receitadas por formadores, alguns habilitados à pressa (ou à pressão), que fazem questão, desde início, de declarar que as não têm (nem eles nem ninguém!) o que, no caso vertente, significará continuar a trabalhar com metodologias antigas (e antiquadas) apesar de travestidas com as novas tecnologias.
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