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Podemos pensar de outro modo as nossas cidades?

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2017-06-12 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Um pouco por todo o lado, as estruturas partidárias centram-se agora nas eleições autárquicas, porque todos sabem que é preciso fazer render votos muito tempo antes do escrutínio eleitoral. No entanto, no meio de uma propaganda que procura convencer que cada um terá a melhor proposta de valor para o seu município, convém que se distinga quem, na verdade, sabe pensar os espaços onde vivemos. Com qualidade, com equilíbrio, com criatividade. Quem é, de facto, capaz de deixar uma herança de que nos orgulhemos no futuro.

Portugal está na moda. Porque é um país seguro, de baixo custo, de clima ameno e de gastronomia irresistível. Aqui e ali, erguem-se monumentos que vale a pena visitar e, a sul, há uma sedutora costa que atrai milhares de turistas durante o verão. Falta-nos, porém, consolidar marcas de cidades portuguesas. Munique tem um movimentado festival da cerveja, Veneza apresenta um carnaval inigualável, Salzburgo prepara todos os anos um festival de música de referência, Estocolmo abre pelo Natal uma das mais antigas e belas feiras dessa época festiva.

Por cá, poder-se-á afirmar que a Serra da Estrela se evidencia pela neve, Coimbra continua a rentabilizar a sua vetusta Universidade e Guimarães reclama créditos por ser o berço da nação. São apenas exemplos. Haverá outros, mas isso não nos poupa a necessidade de repensar melhor o que temos. E, sobretudo, o que temos feito nos territórios que gerimos. Que autarcas, nestes anos, criaram uma marca que rasgue fronteiras? Poucos, há que reconhecer. Quem, dos muitos que nos visitam, viaja motivado por eventos criados nas duas últimas décadas?

Um número inexpressivo de viajantes. Num país que encontra no turismo um eixo estruturante da economia, os autarcas deveriam fazer aí uma outra aposta política. Com mais qualidade e mais duradoura.
Uma cidade é o espaço que habitamos, mas é também as vivências que nela multiplicamos. Poder-se-á dizer que grande parte dos nossos estilos de vida resulta da escola que frequentamos, dos amigos que escolhemos ou da família que temos. Todavia, a política local pode também interferir nas nossas opções pessoais.

Não será por acaso que, em Paris, se nota um grande gosto pelos livros e, em Viena, um culto da música. Eis cidades de intensa vida cultural onde boa parte do consumo se faz por osmose face a um número expressivo de manifestações culturais. Numa cidade sem concertos de referência ou sem iniciativas literárias não será certamente possível encontrar públicos que manifestem gosto por essas práticas. Não há milagres, nem tão pouco se criam hábitos de um momento para outro.

Para pensar bem a cidade que se quer construir, a um autarca não basta garantir apenas o funcionamento regular dos serviços básicos. Tem de fazer um pouco mais. Deve projetar zonas de lazer e povoá-las de pessoas. De forma regular. Deve também proporcionar espaços que motivem modos de vida saudável. De nada vale rasgar ciclovias ao lado de movimentadas estradas, nem criar parques públicos por onde ninguém passa. Também não é proveitoso despender dinheiro público em estruturas sem qualquer resistência à passagem do tempo.

Quem vota em qualquer lista autárquica deve atender à proposta de valor aí subjacente. Se quem se apresenta a sufrágio o faz em continuidade de funções, o nosso juízo deve ser feito de forma retrospetiva. Por que mudanças passou o nosso município? A nossa cidade estará hoje melhor?
Vivemos hoje com uma geração de autarcas que centra parte da sua ação numa política imaterial. Ora, é preciso não confundir esta tendência com a prática do foguetório fugaz. A imaterialidade é algo que devemos sempre valorizar, quando ao serviço de uma cidadania mais avançada, de gostos culturais mais apurados ou de estilos de vida mais desenvolvidos. Se não for nada disso, será certamente dinheiro público esbanjado em prol de nada. E isso deve ser neutralizado. Se houver alternativas de valor, claro.

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