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Braga, segunda-feira

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Políticos num labirinto

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Ideias

2015-10-12 às 06h00

Felisbela Lopes Felisbela Lopes

Eis que, de repente, o que era óbvio afundou-se num dédalo onde todos os cenários devem ser ponderados. Ao nível das legislativas, um governo minoritário à direita que parecia assegurado pelos votos somados no último escrutínio eleitoral parece não ser assim tão linear. No que diz respeito às presidenciais, Marcelo Rebelo de Sousa parte com grande vantagem, mas, como o passado recente demonstra na atual política portuguesa, nada está assegurado.

Na semana anterior, assistimos quase atónitos a iniciativas que serão do domínio do inverosímil. Conhecidos os resultados eleitorais e sem que nenhum partido tenha conquistado maioria absoluta, o Presidente da República apenas encontrou tempo para reunir com Pedro Passos Coelho, incumbindo-o de encontrar uma “solução governativa”. Cavaco Silva terá esquecido que haveria outros atores a ter em conta: António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa... Recebe hoje o secretário-geral do PS. Será uma reunião algo fora do tempo. Esperar-se-ia muito mais de um Cavaco Silva que, nos seus discursos, vem reiterado a importância do diálogo entre os partidos e que, na hora crítica, abandonou um papel que lhe é estrutural: o de ser árbitro e, consequentemente, promover pontes entre os vários partidos.

António Costa esforçou-se por construir esses elos. Porque também é dessa capacidade de união entre as diversas forças partidárias que depende a sua sobrevivência política. Os resultados eleitorais foram penosos para os socialistas. Não se percebe como um partido perde as eleições para uma coligação que tanto penalizou os portugueses com uma insuportável austeridade. Passos e Portas não ganharam estas eleições. Foi Costa quem as perdeu e isso irá sempre pesar em qualquer balanço partidário.

Todavia, António Costa tenta fazer prova de vida, sendo que o seu renascimento apenas poderá ganhar algum elã com um governo minoritário à esquerda. Nem todos os socialistas apreciam essa viragem do partido para um lado que, a curto prazo, poderá ser muito problemática. No passado sábado, o “Diário de Notícias” lembrava que há socialistas que se opõem veementemente a esta solução. Augusto Santos Silva, Vital Moreira, João Proença, Vera Jardim, Seixas da Costa. Sérgio Sousa Pinto demitiu-se do secretariado, sinalizando mais ruidosamente esse descordo. Costa tem esta semana dois encontros decisivos. Com Catarina Martins e com a coligação. De um deles, irá começar a esboçar-se alguma luz sobre o futuro Governo. A direita tem feito um esforço de aproximação ao centro, mas precisa de medidas mais efetivas.

Paralelamente à formação do governo, os partidos debatem-se a partir de agora com outro tópico: as presidenciais. Marcelo Rebelo de Sousa colocou-se esta semana oficialmente na estrada, atirando para a berma Rui Rio. Maria de Belém apresenta-se amanhã no Centro Cultural de Belém, provocando um colossal problema a Sampaio da Nóvoa.
Hoje Marcelo vale mais do que o PSD. Por isso, Passos Coelho vai ter de atirar para o arquivo morto a moção que apresentou no último congresso, nomeadamente a parte onde escreveu que o seu partido excluía um candidato que fosse “um catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político”.

O Presidente do PSD poderá beneficiar do hábito de os partidos não cultivarem a memória dos factos, o que lhe dará espaço para conviver melhor com Marcelo Rebelo de Sousa-candidato. Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa precisam do PS, mas Costa já se afastou de qualquer apoio oficial do partido. No entanto, essa distância nunca existirá e os resultado terão sempre uma leitura política para o atual secretário-geral do PS que dificilmente triunfará no Congresso Extraordinário do partido com duas derrotas sucessivas. A menos que seja primeiro-ministro de um governo de esquerda.

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