Os amigos de Mariana (1ª parte)
Ideias
2018-04-27 às 06h00
Há apenas duas décadas, a Internet era conhecida de poucos, utilizada ainda por menos e de modo algum concebida como um bem de primeira necessidade. Hoje em dia, tão pouco tempo passado, quase cinco (dos sete) mil milhões de habitantes do planeta, encontra-se diariamente ligado à rede mundial de computadores e dela depende para realizar inúmeras tarefas. Chega a ser preocupante e simultaneamente divertido ver como ficamos sem saber o que fazer, apáticos, desnorteados, exasperados quando ficamos sem acesso à Internet, ao email, ao Google, à nuvem, ao Facebook e a outros serviços e produtos baseados na Rede. Alguns chegam a temer nesses momentos que o fim do mundo, da civilização, da vida com sentido se encontra próximo.
Estar ligado à Internet faz parte, pois, da nova condição humana. Isso, obviamente, pode trazer inconvenientes ou consequências indesejadas. Uma delas é a da incómoda impressão de estarmos a ser vigiados em relação a boa parte do que fazemos, o que objetivamente acontece. A Internet tornou-se num dispositivo panótico de cujo alcance parece difícil escapar. Todavia, quem não desejou, alguma vez na sua vida, desaparecer completamente por algumas semanas, dias ou horas, ficando absolutamente isolado, não localizável, incontactável. Essa é também, por certo, uma necessidade vital do ser humano. Mas será isso ainda possível?
Evan Ratliff colocou a si mesmo essa questão há nove anos e com a colaboração da revista Wired realizou o chamado experimento do sumiço (vanish experiment). Consistiu no seguinte: a 15 de agosto de 2009, o jornalista estadunidense iniciou uma viagem pelo seu país sem revelar o paradeiro a quem quer que fosse, determinado a permanecer incógnito durante trinta dias; nessa mesma data a conhecida publicação dedicada à tecnologia lançou um concurso de caça ao homem oferecendo uma recompensa de 5.000 dólares para quem conseguisse encontrá-lo antes desse mês transcorrido ou 3.000 dólares a Ratliff caso ninguém tivesse sucesso. A 8 de setembro, o dono de uma pizzaria em Nova Orleães, leitor habitual da Wired, um tal Jeff, foi alertado por um dos grupos empenhados em caçar Ratliff, chamado @vanishteam, de que ele estava na cidade e que como só ingeria alimentos sem glúten e o seu restaurante era dos poucos a vender comida assim confecionada, a probabilidade dele aí ir era grande. Para espanto de Ratliff, apenas vinte e quatro dias passados, ao chegar na sua bicicleta por volta das 7 da tarde à dita pizzaria ouviu de Jeff a pergunta conheces alguém chamado Fluke?; era a senha combinada para se poder ganhar o prémio pela sua localização.
Impressiona, de facto, a rapidez com que Ratliff foi descoberto por desconhecidos (os detalhes encontram-se descritos na Wired de 20/11/2009). Note-se, contudo, que isso ocorreu à quase uma década e que, entretanto, as tecnologias que permitiram fazê-lo evoluíram estonteantemente. É claro que as contra-tecnologias em prol da preservação do anonimato também se desenvolveram bastante, mas não tanto.
Que aprendemos, então, com esse experimento? Por um lado, que é cada vez mais inequívoco que as nossas vidas têm de ser vividas dentro de uma Tecnosfera, o que significa que o ideal de uma existência autónoma parece cada vez mais impossível de realziar. Habitamos um ambiente em que temos propensão para voyeurs, mas ao mesmo tempo para sofrermos de escopofobia. Por outro lado, que é bastante estranho que seja tão difícil encontrar pessoas desaparecidas, como a bem conhecida Maddie MaCann.
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