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Braga, quarta-feira

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Por uma cidade mais verde, fresca e saudável

A armadilha da gratuidade universal

Por uma cidade mais verde, fresca e saudável

Ideias

2023-06-04 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

As alterações climáticas trazem consigo fenómenos que são cada vez mais evidentes. Temos dias demasiado quentes em pleno inverno, temperaturas record em vários pontos do planeta, desde o Alentejo Português, até à Tailândia, e temos de repente uma imensidão de água a cair dos céus que causam cheias sem precedentes, que levam milhares de italianos ao desespero, ou a pontes que não conseguem escoar tanta água e ficam intransitáveis como em Ourense no fim de semana passado. E ao mesmo tempo, temos já uma parte do país com problemas de armazenamento hídrico (Barlavento, Sotavento, Arade e Mira), e ainda estamos a começar Junho.
Numa altura como esta as cidades mudam os seus paradigmas da mobilidade, fazendo mudanças grandes nas principais avenidas das suas cidades, acabam com túneis e viadutos que existissem e passam a ter ciclovias, corredores dedicados para transportes públicos e passadeiras semaforizadas. E, para além disso, tornam-se cidades esponja. Ou cidades jardim. Aproveitam as águas da chuva para a rega, ou para os sanitários. Criam zonas que em dias secos são praças e em dias de muita chuva são reservatórios de água. Fazem por ter árvores de grande porte nas ruas, para refrescar quem ali circula a pé e de bicicleta.
Por cá, vivemos numa cidade cada vez mais impermeabilizada. O atual centro da cidade é a Rotunda das Piscinas, e o problema que há no centro histórico em dias de calor, existe também no atual centro da cidade: é impossível lá estar, tanta é a falta de sombra. E nos dois sítios há muita poluição -no centro histórico devido ao túnel que extrai os ares poluídos para a superfície - e muita exposição solar no verão.
No inverno há cheias no centro da cidade. O túnel das Piscinas fica intransitável, a rotunda também, o Braga Parque tem as bombas a tirar água do estacionamento e do antigo chinês também. A ribeira que vai das Sete Fontes ao Rio Este ainda se via à superfície entre a Rua Nova de Santa Cruz e a Rodovia. Esse troço que ainda estava no seu estado natural e permitia conter algum excesso de água, está agora a ser também encanado, e por isso tudo vai piorar À superfície em dias de chuva. Não esquecer ainda que o túnel está numa cota abaixo do Rio Este, fica óbvio perceber para onde vai descer a água. É preciso coragem para acabar com aquele túnel e criar ali uma verdadeira avenida, que consiga absorver o excesso de água, que tenha ciclovias, que tenha vias dedicadas ao transporte público, que tenha atravessamentos de nível e que tenha sombras e árvores de grande porte.
Para além dessas grandes Avenidas e Praças, é preciso que a cidade tenha lugares de repouso, de silêncio, de fruição. Parques e Corredores Verdes. Zonas sem carros, onde as pessoas possam estar, possam conversar, ou simplesmente usufruir do silêncio. A cidade devia ter muitos desses locais, mas não tem. Devíamos conseguir ouvir o chilrear dos pássaros nas ruas das nossas cidades. Já repararam que é algo muito raro de conseguirmos ouvir?
Já não falo do cumprimento legal de zonas verdes, que deveria ser o mínimo dos mínimos. Braga cai no ridículo de considerar as rotundas relvadas como “zonas verdes” para tentar alcançar os mínimos legais, e nem assim consegue.
Temos cidades em que no mínimo há um parque verde a 300 metros de cada morador. Temos cidades com corredores verdes que permitem às pessoas fazer praticamente todas as deslocações num corredor silencioso, fresco, com natureza, saudável. E temos Braga, onde quem faz estudos para implementar corredores verdes na cidade acaba “encostado” dentro do Município.
A cidade precisa de muitas mais zonas verdes como tem no Complexo Desportivo da Rodovia ou no Parque da Ponte. Precisa de um efetivo Parque das Sete Fontes sem prédios a dar cabo dos aquíferos. Precisa manter as Tílias que plantou na Rua Luís Soares Barbosa e não voltar a abater Tílias como em 1994. Precisa de mais árvores nas ruas e de menos asfalto. Braga precisa de ser mais verde.
Antes de dedicar tempo a algumas mudanças comportamentais, é preciso reorganizar a infraestrutura e criar as condições para essas alterações. A mobilidade e os comportamentos induzem-se.

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