Órfãos de Pais Vivos
Ideias
2019-05-27 às 06h00
A União Europeia é, seguramente, a melhor construção política de todo o século XX. Depois de séculos marcados por guerras sangrentas, a Europa ocidental entrou no maior período consecutivo de paz entre as suas diversas nações e, ao mesmo tempo, garantiu uma melhoria sustentada e sistemática das condições de vida das suas populações.
Apesar do sucesso, a verdade é que entre os diferentes estados membros (e no interior de cada um deles) há razões muito distintas para apoiar - de forma declarada ou velada - esta união política e económica. Desde o idealismo humanista e ecológico até ao mero pragmatismo económico, uns e outros mantêm-se na Europa porque a Europa unida continua a ser melhor e mais forte do que a soma das suas mil e uma partes.
Em Portugal, até entre os partidos que mantêm um discurso anti-Europa, a oposição é tão frustre que todos sabemos que não passa de mera retórica.
O século XXI trouxe novos desafios e também inesperadas dificuldades ao projeto Europeu. A perda de influência e de capital do eixo transatlântico para oriente, a crise humanitária do Norte de África e a condenação das classes médias a vidas pouco mais que remediadas de “metro, trabalho e sepultura” geraram um descontentamento endémico que acabou por favorecer o aparecimento de movimentos populistas que fizeram ressurgir o pior dos nacionalismos europeus.
Os moderados também tiveram as suas responsabilidades. Um pouco por todo o lado, os governos nacionais colhem os louros do que a Europa faz bem e transferem para a União Europeia as culpas do que é difícil, polémico ou corre mal.
Durante os anos da crise, confortados com problemas internos e com classes médias genericamente descontentes, os governos nacionais reforçaram a estratégia de “passa-culpas” para Bruxelas, o que danificou quase irreversivelmente a imagem das instituições europeias junto de franjas muito significativas da população.
O afastamento entre a generalidade dos cidadãos e as instituições europeias é mais do que evidente. As elevadas taxas de abstenção nas eleições de ontem comprovam esse divórcio.
Em vez de centrar a campanha na discussão dos temas europeus e no aumento da literacia sobre o funcionamento da Europa, a generalidade dos partidos preferiu centrar o debate nas questões nacionais. Estas eleições foram assim mais uma oportunidade perdida também em Portugal.
Se quiser sobreviver enquanto projeto político verdadeiramente transformador, a União Europeia terá que se reformar: aproximar as instituições europeias dos cidadãos é um desígnio fundamental para a próxima década.
O federalismo europeu, mesmo comportando alguns riscos, é o caminho mais seguro. Avançar para o federalismo, implica líderes políticos determinados e combativos, disponíveis para sacrificarem projetos de poder individuais em nome de uma União Europa assente na defesa do humanismo, da ecologia e da democracia liberal. Afinal, são esses princípios e valores que nos unem efetivamente enquanto cidadãos europeus. Foi sobre eles que construímos a Europa e é por eles que temos que continuar lutar todos os dias para garantir que não voltamos a acordar a meio de uma longa noite europeia.
02 Junho 2023
01 Junho 2023
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