Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Pragas e outros males

O preço da transparência

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Ideias

2010-06-18 às 06h00

Borges de Pinho Borges de Pinho

1 Nos meus tempos de menino assisti a uma praga de gafanhotos na mi-nha aldeia que pôs toda a gente em alvoroço, com os agricultores aflitos e em polvorosa por verem dizimadas as suas culturas. E o certo é que não se via solução para tão grande mal já que as queimadas e o fumo pouco resultavam, e afugentá-los com batimentos e ruídos era um fraco recurso, aliás temporário e de circunstância, tantos eles eram. Dizia-se na altura que teriam vindo do sul, do Norte de África, e que tal praga se ficara dever a factores climá-ticos especiais, como mudanças bruscas na temperatura e ventos.
Nos tempos que correm, e já vão longos anos, também devido a uma alteração climática brusca na “temperatura política” do país, e consequentes “ventos”, logo assomaram muitos e esconsos interesses e se descambou para a perda do sentido da honra, das responsabilidades e valores, sendo certo que, como uma praga, têm vindo a ser igualmente muitos os “gafanhotos” a dar cabo da “seara” da nação e a levá-la à ruína. Dizimando, diga-se, a ancestral cultura de um povo onde vingavam a honra, a solidariedade, o respeito, a educação, os valores familiares, princípios e bons costumes, ainda que aqui e ali, note-se, e à compita com tais “gafanhotos”, se venha deparando com um e outro “grilo”, mais ou menos canoro, muitas cigarras e até alguns louva-a-deus enganadores e falazes.
E a triste e dolorosa verdade é que, mesmo vivendo-se num atoleiro, numa crise de valores e numa indisfarçável bancarrota, continuam a não faltar “gafanhotos” a bolçar no parlamento frases feitas, a vomitar pregões ideológicos e a fazer vingar interesses partidários, como uma verdadeira praga. Da qual não nos conseguimos livrar, diga-se, tal como da praga dos “caras estanhadas” de uns certos predadores do poder que de meros inquilinos se transmudaram em arrogantes proprietários e a agir como tal, quando ainda há poucos anos não passavam de uns ganapos sem eira nem beira, vivendo à custa dos papás ou em funções e trabalhos de mero “solfejo”, aliás uns Zés-Ninguém que ninguém conhecia, dava crédito ou tirava o chapéu.
Veio Abril e tudo mudou!... Com as “alterações climáticas” havidas é vê-los agora todos “cheios de nove horas”, de “peito feito”, bolçando inteligência e arrogância como governantes, autarcas, administradores e gestores disto e daquilo, aproveitando “cursos” tirados na “universidade” das juventudes partidárias e usufruindo de “passagens administrativas”, sendo certo que muitos até já engrossam a classe dos “papa-reformas”. Que, aliás, já corporizam até uma outra praga criada pelas manigâncias da política, seus encostos, compadrios e efeitos perversos.

2 Ainda falta algum tempo, mas já tudo mexe com as presenciais. Na verdade “Portugal precisa de um chefe de Estado verdadeiramente independente dos partidos políticos, respeitador da liberdade dos cidadãos, que seja garante dos valores cívicos, morais e espirituais que são conexos ao exercício da cidadania e defensor intransigente dos princípios fundamentais da vida humana e do bem comum” (A.Pedras, “Diário do Minho”, 3.6.10), com o que de todo se concorda, ainda que, quanto a reis ou reizinhos, só se forem de trunfo e se se tiver já o ás e a seta do naipe.
Mas a verdade é que não vemos quaisquer especiais qualidades e competência para o cargo em nenhum dos já anuncia- dos ou previstos candidatos, “naveguem” eles pela poesia, medicina ou economia ou se afirmem na política como socialistas, independentes, liberais ou filantropos, sendo um facto que todos já andam de chapéu na mão a bater à porta dos partidos, ou enrolando-se em “encolhas” e “meias-tintas” para obter apoios.
Aliás, evocando-se aqui o slogan de uma antiga candidatura presidencial, afigura-se-nos que nenhum dos actuais Alegres, Nobres e Cavacos se apresenta como “fixe”, quando é de todo incontornável que o país não precisa de tais “poetas” mas de quem tenha a coragem de agir a favor do povo, protegendo-o, se assuma na defesa dos valores morais e humanos que são herança de toda uma nação, sem medo de folclóricos “grupelhos”, “vozearias” e “loucuras”, e não se esconda debaixo das “saias” duma qualquer conveniência ou conjuntura para bolçar justificações pífias, como alguém já escreveu. Aliás Cavaco, diga-se, já não nos surpreende, pois está a fazer o habitual “percurso” dos presidentes recandidatos, sendo ainda certo que temos ainda bem presente o aviso-prevenção “estampado”num livro em uso nos Cursos de Oficiais Milicianos na década de sessenta quanto aos algarvios.
Claro que face ao actual panorama é problemático e difícil votar, a menos que surja por aí um candidato de chouriços, presunto, queijo da serra ou electrodomésticos que, “esquecendo” os partidos, nos bata à porta com uma ofertazinha, como em certas autárquicas. O que, reconheça-se, nos tempos actuais até dava certo jeito, já que quanto ao mais, eleições, opções, decisões políticas e outras intervenções, tudo não passa de um jogo de forças e interesses entre a maçonaria, a Opus Dei e a ... Opus Gay.

3 Os tempos na justiça vão de mal a pior, com a Morgado a perder tudo, como flui das últimas decisões do “Apito”, o que já se esperava, tendo sido postas em crise e caído no ridículo a “política de acção” do PGR e muitas vaidades e interesses indexados. Como de todo é ridículo, e mais uma “monteirada”, querer fazer-se uma “lex ad hominem” só para o Vice-PGR poder ultrapassar o seu limite da idade!...
Na área criminal, o actual CPP, aliás “cozinhado” pelo famigerado Rui Pereira, e seus amigos, cujo riso sardónico (será maçónico?!) até já incomoda, continua só a agradar e a dar jeito a advogados com “o esperto no cabeço” e a arguidos com dinheiro e poder. Perfilando-se como um código de “conveniências” políticas e de “aconchego” à criminalidade, propicia “pareceres” pagos ao peso de ouro e possibilita recursos em catadupa, o que muitas vezes conduz a uma não punição, por prescrição. Aliás, sendo hábil o advogado e endinheirado o cliente, sucedem-se os recursos, os pedidos de aclaração, os incidentes como os de falsidade, de suspeição e outros, os pedidos de escusa, as inconstitucionalidades, etc., num fartar vilanagem. Mas é a lei!...
E se a criminalidade nos assusta e algumas decisões nos deixam apalermados, chocante é saber-se terem sido detidas 13 pessoas por tráfico de armas, e que os detidos, na sua maioria, “ostentavam vidas nada de acordo com o rendimento mínimo que vinham recebendo” (JN, 5.6.10), e que para já continua-rão a receber ( e ainda há quem “grite” contra os cortes nos subsídios!...).
Como aliás é chocante que um juiz instrutor de mega-processos se tenha queixado de interferências e ver os CSM e CSMP invadidos por políticos ( autêntica praga de “comissários” !), o que não dá garantias de isenção e independência. Temia-se o corporativismo e foi-se inquinar a justiça com políticos, e sua perversidade, tendo-se dizimado com tal praga uma confiança, segurança e imparcialidade de muitos anos. Uma justiça, diga-se, que o povo até respeitava e em que acreditava!...

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