A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2021-02-15 às 06h00
Este fim-de-semana, começou a circular uma mensagem precipitada: a possibilidade de usarmos duas máscaras. Nada está ainda decidido. Há dois grupos de peritos a estudar essa hipótese, entretanto aconselhada pelo norte-americano Centro de Controlo e Prevenção de Doenças. Mas a realidade de Portugal não é igual à dos EUA. E quem decide deveria ter mais cautela quando faz circular pelo espaço público (mediático) meras possibilidades. Porque isso não é informação. É ruído.
A entrevista da Diretora Geral da Saúde surgia na capa do Público de sábado em enorme destaque, com este título: “uso de duas máscaras e utilização de oxímetros em estudo”.
A minha perplexidade não tinha apenas a ver com o registo genérico da mensagem que ali se passava, mas com o facto de a Direção Geral da Saúde ter descontinuado as suas regulares conferências de imprensa numa altura em que o país vivia a fase mais dura da pandemia e escolher dar agora uma entrevista de fundo para não dizer nada em concreto. Não fazia sentido.
Nas quatro páginas que li com toda a atenção não encontrei nada que justificasse a oportunidade daquela conversa. Acerca da possibilidade de usarmos duas máscaras, nada está decidido. E quanto ao uso de oxímetros, a resposta fez-se nestes termos: “se calhar sim, se o souberem usar”. Talvez fosse mais acertado, dizer-se assim: “se calhar não, se não o souberem usar”. O modo como se diz tem implicações de fundo em certas mensagens, como é o caso.
Não é fácil ser autoridade sanitária em tempos tão sombrios e de tanta incerteza. Também o Governo tem tido pela frente desafios colossais, sendo chamado a decidir em matérias onde o conhecimento (científico) é escasso. Neste último ano, acumulamos mensagens muito contraditórias. Isso não ajudou a população a adotar comportamentos preventivos. E a ganhar confiança no futuro.
Perseguindo o passado recente por uma linha diacrónica, constata-se que o Governo foi eficaz na primeira onda, desastroso na segunda onda e prudente nesta terceira onda. Foi avisada a opção de António Costa em pedir para afastar do debate público a discussão do desconfinamento e em desafiar a comunidade científica para encontrar algum consenso acerca dos próximos passos a dar. Também foi acertado dizer sem rodeios isto: não haverá nem carnaval, nem Páscoa. Porque o perigo não passou e há que dizê-lo de forma direta para ninguém baixar a guarda nos cuidados a ter.
A pandemia continua com números que exigem precaução e o vírus vai permanecer entre nós por muito mais tempo. E como a vacinação sofrerá atrasos sucessivos, as cautelas devem ser redobradas. Os peritos começam a lançar um aviso que deveria ser tomado a sério: é preciso evitar uma quarta onda. Para isso, é também importante acertar uma estratégia de comunicação eficaz.
Na entrevista ao Público, Graça Freitas queixou-se do excesso de comunicação, assegurando que se fala demasiado. É verdade, mas também se torna inevitável dado o foco de noticiabilidade estar concentrado neste tema há precisamente um ano. Face a um caudal de comunicação permanente, os decisores dos campos da saúde e da política precisam de ter estratégias de comunicação concertadas. E isso não tem acontecido. Há declarações dispersas e frequentemente em sentido contrário. Veja-se o caso da vacinação. A este nível, falam o primeiro-ministro, a ministra da saúde, os secretários de Estado da saúde, a Direção Geral da Saúde e o responsável pela task force da vacinação. Todos colocam em permanência no espaço público mensagens diferentes. E os cidadãos ficam naturalmente baralhadas.
Há um ano a nossa vida mudou. Não sabemos muito bem aonde vamos apanhar o fio condutor que estabeleça a normalidade de um quotidiano que hoje tem contornos muito diferentes daqueles que alguma vez imaginamos. Há, pelo menos, que prevenir uma nova vaga. Para isso, precisamos de medidas adequadas e de cidadãos que respeitem regras de prevenção. Em tudo isso, a comunicação é central. Uma comunicação sem ruído, claro.
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