Entre a vergonha e o medo
Escreve quem sabe
2020-05-05 às 06h00
A verdade é que já nos vamos habituando a estar em casa. Uns mais do que outros, é certo, mas, ainda assim, novos costumes foram tomando conta das nossas vidas. Desengane-se quem acha que que todo o processo de isolamento foi muito fácil - não foi, não é e espero que não tenha que vir a ser novamente. Temos recebido os cumprimentos de outras nações pelo nosso comportamento/exemplo e, tal como meninos orgulhosos, vamos sentindo que fizemos um bom trabalho - todavia não é, ainda, trabalho suficiente.
Nas minhas saídas obrigatórias (alimentação, farmácia, …) tenho reparado que há mais gente na rua, embora com um maior sem cuidado do que aquilo que gostaria de ver. Será natural? Sentimo-nos seguros, logo relaxamos. No entanto, a prevenção ainda não se esgotou, nem se esgota nas medidas de abertura (talvez prematuras) relativas ao plano nacional de desconfinamento preconizado. O cuidado que até agora foi realizado deve ser mantido, promovido e sustentado. E, por causa disso, existem algumas preocupações, algo distintas e diversas, que me têm obrigado a uma maior reflexão, surgindo as mesmas já a olhar para uma versão da realidade que se encontra mais adiante. Não são minhas em exclusividade, estou segura disso, e julgo que uma partilha poderá ajudar-me a encontrar outros que, estranhos como eu, também se encontrem a ponderar questões semelhantes:
1.As máscaras sociais, aquelas de tecido que foram recomendadas caso não exista outra hipótese, necessitam, tal como as outras, de ser usadas de forma única - após a sua utilização devem imediatamente ser lavadas (a altas temperaturas) e higienizadas. Não irei cair na ingenuidade de dizer que todas as pessoas têm consigo máscaras sociais adequadas e certificadas, pois isso não é verdade. Até que ponto saberá a população utilizá-las? Não será mais fácil guardá-las na bolsa, ou no bolso, até ao dia de amanhã? E, até novo uso, permanecem os microrganismos junto dos bens pessoais, como óculos ou lenços, que facilmente entram em contacto com o rosto. Por isso, e para prevenir, aconselho a quem utiliza estas máscaras a que tenha mais do que uma - serão bem precisas.
2.Foi pedido às escolas de enfermagem que os estudantes que se encontrem no quarto ano, logo finalistas, e que apresentem o cumprimento de 1800 horas práticas possam terminar a sua licenciatura (precoce) - sendo que muitos deles nem sequer terminaram todas as horas dirigidas ao estágio de integração à vida profissional. A urgência da pandemia levou à concretização deste pedido? É justo estar a pedir a estudantes, que ainda não terminaram a sua formação, que o façam “a correr”? Este caso gerou uma grande celeuma entre esses estudantes (e consequentemente nas escolas que os formam): uns colocam-se a favor, outros contra. Da minha parte, neste momento, encontro-me a assistir ao desenrolar dos acontecimentos, incrédula por esta situação ainda não ter sido notícia nos meios de comunicação social, e a considerar as razões para que isto não tenha acontecido.
3.As instituições de saúde têm contratado diversos profissionais de saúde, entre eles enfermeiros - e, se antes já havia falta destes profissionais, trazendo sérios riscos para a qualidade dos cuidados prestados, imagine-se nesta altura. As minhas perguntas perante este panorama são: o será feito dos mesmos quando toda esta situação passar? Manter-se-ão contratados? Serão dispensados? Que tipo de contratos estão a ser realizados com estas pessoas, que lhes possibilitem a segurança da sua própria saúde? O recado explícito é para os nossos governantes, que devem manter estes profissionais de saúde nos seus quadros de pessoal, visto que eram, são e serão necessários. Não se faz saúde sem ter um corpo de enfermagem digno, e aqui digno implica, para além da formação própria, o número adequado de enfermeiros para construir boas práticas de saúde.
Existem mais preocupações, como é óbvio. O material (não) existente nas instituições de saúde, o cansaço dos profissionais que trabalham nas mesmas e a ânsia de liberdade que a população está a apresentar, que poderá ser prejudicial ao controle desta pandemia num futuro próximo. Ou, então, posso ainda mencionar as preocupações que se relacionam com a economia do país (a austeridade ainda não está longe o suficiente para ser esquecida), o desemprego a nível internacional e as contínuas, e cansativas, investidas político-bélicas por parte das grandes potências mundiais, que não têm feito bom uso da ciência a seu favor. Habituemo-nos. Mas não nos deixemos de preocupar.
13 Junho 2025
06 Junho 2025
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