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Ideias
2022-12-06 às 06h00
É já no próximo domingo que o Presépio ao Vivo de Priscos, em Braga, abre uma vez mais as suas portas para dar continuidade à tradição, ou seja, receber alguns milhares de visitantes.
Este presépio singular tem existência desde 2006, ocupando um espaço de cerca de 30 mil m2, no qual são distribuídos quase uma centena de cenários e cerca de 600 figurantes. Todas as edificações que compõem o conjunto no seu todo são executadas pelos paroquianos da freguesia, que oferecem as suas competências e o seu tempo, beneficiando também da colaboração de reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga.
Ao contrário do que sucede na esmagadora maioria dos presépios que podem ser vistos nesta altura do ano um pouco por todo o lado, neste é preocupação dos organizadores recusar a folclore e as iluminações feéricas, procurando, isso sim, transmitir a ideia mais profunda do presépio e do nascimento de Jesus.
“Colocar Deus Menino no primeiro lugar, sem o folclore das cidade natal, com as suas coreografias publicitárias, os seus aparatos de luzes e de presentes e os seus rituais comerciais”, constitui o objectivo primordial do Presépio de Priscos, conforme é sublinhado pela sua organização.
Na realidade, esta freguesia do município de Braga habituou os visitantes a um presépio distinto daqueles que podem ser vistos noutros locais, neste caso, um conjunto mais representativo do presépio tradicional, com cenários e cenas ao vivo daquele que seria o quotidiano hebraico e romano. Assim, os visitantes podem apreciar recriações de quadros da época, numa cuidada cenografia pensada e orientada pelo pároco local, padre João Torres, autêntica “alma mater” desta empreitada.
Sendo desde início um projecto de causas, o que também ajuda a explicar o envolvimento da população da freguesia e dos reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga, estes no âmbito de uma causa relevante, consubstanciada num programa que visa a sua reintegração social, é natural que os organizadores procurem sensibilizar para temas actuais e de grande relevância social.
E é assim, sem grande surpresa, que para esta 16.ª edição do evento, que ano após ano tem suscitado a curiosidade e o interesse de inúmeros grupos de pessoas de todo o país e ainda da vizinha Espanha, a organização escolheu como tema central a violência no namoro.
O padre João Torres considera, e bem, que “o namoro deve ser um tempo de descoberta mútua, durante o qual se partilham escolhas, sonhos e projetos”, lembrando que “aprender a amar alguém não é algo que se improvisa”, e acentuando que tão pouco isso “pode estar ao sabor de impulsos, colocando em risco a integridade física e/ou psicológica do parceiro(a)”.
Na génese da temática escolhida está o exemplo de S. José, que sempre protegeu Maria, não obstante as dúvidas quanto à sua gravidez, mas também o momento presente, uma actualidade que convive diariamente com tristes situações de violência no namoro.
“A replicação dos comportamentos de violência nas relações de namoro são um indício da necessidade de intervenção especializada”, afirma ainda o padre João Torres, no comunicado em que também exorta “as vítimas, ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento da situação,” a apresentar queixa.
O Presépio de Priscos pretende, pois, não apenas proporcionar o contacto dos visitantes com os cenários e os quadros vivos que representam as rotinas quotidianas da época, mas contribuir para o aprofundamento da reflexão sobre a violência no namoro. E, desse ponto de vista, e tendo em conta o extenso público a que pretende dirigir-se, pode-se asseverar, sem lugar a dúvidas, que se trata de um contributo relevante.
Não será despiciendo notar que na cerimónia de inauguração do presépio, às 11 horas do próximo domingo, estará presente Marta Nogueira, a jovem que trava uma luta para reverter os danos causados por duas balas na cabeça, quando o ex-namorado tentou assassiná-la, em 2015. Embora de uma forma simbólica, a verdade é que a presença desta vítima representa a causa escolhida este ano pelo Presépio ao Vivo de Priscos, e o seu exemplo constituirá, certamente, mais um forte incentivo à reflexão e à alteração de certas mentalidades. Mentalidades que urge alterar, o que também passa pela prevenção. A sociedade tem de se mobilizar em torno desta causa, sem perder de vista outras atrocidades, sejam elas a violência doméstica, contra as crianças, contra os idosos ou a violência de género.
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