Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2021-04-13 às 06h00
A simplificação na atribuição das opções de poder parece reduzir tudo a esta dicotomia de alternativas de domínio entre o que é público e o que é privado. Ao Estado, que somos todos nós, o público. Ao privado tudo o resto atribuído a alguém, apesar de muitas vezes ser difícil saber quem.
Esta ilusão que nos é transmitida de podermos, ser e ter, através do Estado é reconfortante mas enganadora. Claro que a Democracia nos dá o direito de escolher quem nos representa, assim influenciando as opções da governança do Estado e, consequentemente do país, mas não nos podemos esquecer que isso significa ficar no domínio de muita gente, de muitas regras e obrigações, num mundo que a quem apelidamos de “máquina do Estado”.
Não estamos também certos quando confundimos personalidades entre Estado e Políticos, como de outros se tratassem. O mundo deles e o nosso, num simplismo que parece obrigar-nos a fazer escolhas às opções de se ter mais, ou menos, Estado, sendo o seu oposto o reflexo direto de menos, ou mais, Privado, como se o peso de um varia-se em função da leveza do outro. Uns acham que mais Estado reforça o poder de todos, afastando-se o mal que fortalece o individualismo e a ganancia. Outros acreditam que ninguém cuida melhor de nós que os próprios, onde a soma das partes garante melhor resultado ao todo.
A vida numa sociedade é muito mais complexa do que as alternativas entre público e privado, exigindo muitas mais escolhas na diversidade de objetivos, vontades e satisfações, que separam opções económicas, políticas e sociais.
Vem tudo isto a propósito da esperança de melhor futuro que todos ansiamos, ultrapassada que esteja a Pandemia que nos entorpece e empobrece. A afamada “bazuca”, reduzida rapidamente a “vitamina”, promete abundancia e oportunidades e isso exige competência, transparência e equidade, apesar de sabermos que nunca chegará para todos, e por isso é importante saber por quem de ser dirigida?
Uns defendem ser mais seguro o Estado. Outros preferem a eficácia do Privado. Uns que o primeiro defenderá melhor o interesse coletivo. Outros que o isso nunca gerará crescimento, mas apenas despesa. Sem conclusões provadamente certas, eu direi que há um erro de princípio que faz com que ambos errem: a pergunta não deveria ter ficado em escolher, quem? Mas sim em escolher, o quê?
Provindo a tal bazuca da União Europeia, caberá sempre ao Estado dar garantia da sua aplicação transparente, orientando o correspondente investimento que prometeu vir a recuperar no país, como a sua economia distorcida pela Pandemia. Certo! No entanto e apesar das intenções, vejo pouco disto traduzido no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Do que dali tiro, parece que voltamos ao mesmo. Nada aprendendo com o passado. O Estado passa de gestor, a beneficiário. Do investimento que deveria ser direcionada para a supressão das necessidades, em proveito da produtividade e aumento de riqueza, volta a focar prioridades na infraestruturação do país. Antes eram estradas, autoestradas, rotundas em favor da circulação automóvel que favoreceria a mobilidade das pessoas e diminuiria a centralização do litoral, não faltando a construção de grandes e artísticos edifícios para a saúde, educação e outras entidades públicas. Agora o foco vai para os transportes públicos, apostando-se na mobilidade dos grandes centros urbanos com mais metro, BRT e serviços de comboio mais rápido, tudo elétrico na defesa de melhor ambiente. Prioritário é também a escolha de considerar investimento a modernização da Administração do Estado. Pública será também a aposta na habitação para os mais necessitados. Para equilibrar oportunidades de investimento atribuem a realização do trabalho aos Privados. Ou seja, o dinheiro segue para ali, assim se resolvendo o problema dos dois mundos de que falava em cima. Pois! Esquecem-se que este investimento não é reprodutivo e que depois de se acabar o dinheiro ficam as obras e as dívidas e as infraestruturas, esperando que os portugueses aproveitem para cuidar de produzir a riqueza que gera crescimento económico.
Dizem não se terem esquecido dos privados e da produção de riqueza. Muitos serão os apoiados, não fossemos nós um país de micro e pequenas empresas, que empregam muita gente., infelizmente pouco qualificada e paga com baixos salários. Fica explicado que é de resiliência que se trata, e não de investimento para o crescimento.
Aqui está o famoso plano. Preferia outras escolhas. Com tanto dinheiro disponível e com todo o Mundo em crise, esperava que Portugal dissesse para onde queria ir, que economia queria ter, que metas pretenderia alcançar, que riqueza queria para sua gente, mas a isto vi nada.
Desiludido nas expetativas que imaginei quando da apresentação do grande Plano Estratégico para o país, feito por inatacável personalidade que melhor o apresentou numa suave musicalidade de um futuro que todos nos pareceu evidente e obrigados a abraçar. Afinal tudo não passou da uma visão cinéfila, sem desprimor para o trabalho do autor, o Sr. Eng.º Costa, que não vi respeitado por quem o encomendou, o Sr. Dr. Costa.
Claro que continuaremos a ouvir ser necessário e urgente investir na Saúde, na Educação, na Cultura, e já agora na Justiça, mas não lhe vejo contas para investimento pretendido, mas apenas pedidos para aumento de despesa corrente, que serão suportados por orçamentos que exigirão mais contributos de todos nós.
Somos um povo trabalhador, altamente produtivo quando lhe dão oportunidade, desenrascado em tudo (fonte primária da inovação), agora bem melhor educado, com melhor saúde e qualidade de vida geral, mas, parece que continuaremos condenados a mais uma década de fraco crescimento. Não sei se temos o que merecemos, ou azar nas escolhas que fazemos.
Somos felizes num país de excelente clima que apela à vida. Nada contra se não a quisermos demasiado cara. Depois não se queixem de quem vive de acordo com a riqueza que tem, sobretudo se tiverem mais.
15 Junho 2025
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