Correio do Minho

Braga, sexta-feira

- +

Quais as fronteiras invisíveis entre o Minho e o Miño?

Maravilhas Humanas

Quais as fronteiras invisíveis entre o Minho e o Miño?

Ensino

2025-03-12 às 06h00

Carmen Pardo Carmen Pardo

O Minho, que nasce galego e desagua português, não traça limites: ele dissolve-os. A Euro-região Galiza-Norte de Portugal não é apenas um conceito político ou económico. É um território de encontros, de raízes entrelaçadas, de saudades que se entendem no mesmo idioma — ainda que com sotaques próprios...
De um lado, Santiago de Compostela, com as suas ruas de pedra que guiam peregrinos; do outro, o Porto, onde o vinho envelhece em cascos que viajaram mundo afora. No meio, cidades irmãs como Tui e Valença, que se olham de frente sobre a ponte metálica, como se fossem vizinhas de longa data... Caminha e A Guarda, Viana e Vigo, Braga e Ourense — todas conectadas por algo mais forte do que mapas: uma cultura de mar e montanha, de feira e romaria, de fado e de muñeira.
Aqui, a língua portuguesa mistura-se ao galego num abraço antigo. Dizem que se entende mais com o coração do que com a gramática, e o certo é que as gramáticas são bem distantes… nada que o bacalhau de Barcelos e o marisco de Pontevedra não consiga resolver.
No fundo, a Euro-região não é uma invenção moderna, mas sim, um reconhecimento do que sempre foi: um território sem margens rígidas, onde as águas do Minho e do Douro desenham uma identidade comum. E assim seguimos, galegos e portugueses, com um pé de cada lado, mas sempre do mesmo lado da história.
Oficialmente, a fronteira entre Galiza e Norte de Portugal existe. Está desenhada nos mapas, nos tratados, nos acordos entre governos. Mas, na vida real, essa linha dissolve-se como névoa sobre o rio Minho ao amanhecer. Durante séculos, galegos e portugueses cruzaram essa ‘Raia’ sem pedir licença à geografia. Partilhavam feiras, pescarias, romarias e até contrabando – que, em tempos difíceis, foi mais uma forma de resistência do que de crime.
Mas existem fronteiras invisíveis? Sim, existem... E não são a língua nem a cultura nem a gastronomia (que sendo diferentes tanto apreciamos no outro), mais subtil do que qualquer alfândega. Está na economia, que ainda trata Norte de Portugal e Galiza como mercados distintos, quando na verdade compartilham trabalhadores, produtos e sonhos. Está na burocracia, que tenta acompanhar o ritmo dos povos, mas chega sempre atrasada. É o que chamamos, de forma muito menos glamorosa, custos de contexto...
No fundo, a euro-região existe porque sempre existiu. O desafio, para todos os atores, é que de ela façamos um espaço de maior qualidade, maior riqueza, maior emprego… é aproveitar essa união natural, transformando fronteiras invisíveis em simples paisagens da história.
Para que a Euro-região seja mais do que um nome, muito antigo e experiente, pois é das mais antigas de Europa e os apelidos são os de D. Manuel Fraga ou do prof. Francisco Sampaio, é preciso dar passos concretos. O primeiro? Transportes. O comboio Porto-Vigo não pode ser um fantasma que aparece poucas vezes ao dia e com lentidão...; precisa ser rápido e frequente, integrando cidades num verdadeiro eixo de mobilidade.
Outro ponto essencial: economia e emprego. Ainda há empresas galegas que olham para o Norte de Portugal como ‘estrangeiro’ e vice-versa, quando na verdade compartilham mercados, fornecedores e até trabalhadores transfronteiriços. Harmonizar impostos, desburocratizar negócios e incentivar parcerias entre universidades e centros tecnológicos pode transformar a zona numa potência ibérica.
A Euro-região já existe, graças aos muitos esforços já feitos. Precisa agora de “ser vivida, trabalhada, aproveitada” no dia a dia, sentida no vai e vem das pessoas, nos sotaques que se misturam, nas oportunidades que cruzam o rio Minho sem precisar de carimbo.
Porque fronteiras invisíveis ainda são fronteiras – e a melhor forma de apagá-las é agir.

Deixa o teu comentário

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho