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Quando a aceleração acontece

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Quando a aceleração acontece

Escreve quem sabe

2024-07-16 às 06h00

Cristina Palhares Cristina Palhares

Mais uma dissertação defendida intitulada “Impacto da aceleração académica em alunos com sobredotação: A perspetiva dos pais no contexto das políticas educativas portuguesas” apresentada à Universidade Católica para obtenção do grau de mestre em Psicologia. E que, mais uma vez, nos vem alertar para tantos mitos e pré-juízos sobre a aceleração escolar. Tal como diz o autor, o seu “propósito foi explorar a perspetiva de pais de alunos com sobredotação que beneficiaram de medidas de aceleração académica, caracterizando as suas experiências e opiniões sobre estas medidas, bem como o impacto que tiveram no desenvolvimento académico e socioemocional dos seus filhos.” Alguns dados recolhidos antes da aceleração incidem nos sentimentos negativos (desinteresse e desmotivação) causados pela lentidão do ensino-aprendizagem, pelo pouco estímulo e desafio inexistente. Mas o que nos comove, são as frases em primeira mão: “Era um miúdo que estava sempre a dizer... Que o que a professora dizia, não fazia sentido... Porque ele já sabia... Já tinha ouvido no ano anterior e no ano antes do anterior. Que aquilo já era muito repetitivo... Que não estava lá a aprender nada.”, “…e começou a ficar com sintomas de ansiedade muito exacerbados e a somatizar essa ansiedade, começou a ficar doente…”. Daqui a solicitar uma medida, a aceleração, para colmatar estas necessidades, foi um processo também ele marcado por grandes dificuldades, com uma escola nada facilitadora, mas antes caracterizada por graves lacunas legais e processuais e em que as suas direções, num espírito corporativista e preconceituoso, assente em lugares-comuns, se rege por grande falta de comunicação e organização. “Nós nunca fomos informados por parte da escola que a aceleração tinha sido aceite pelo concelho pedagógico e pelo ministério …., outros pais souberam antes de nós. A forma como a escola lidou com a situação foi muito má, como processo em si burocrático foi má.”. Mas se o processo foi difícil, os ganhos motivacionais foram excelentes: “No que toca à motivação escolar, a maior parte dos entrevistados considera que os filhos se mostraram muito mais motivados e interessados depois de aceleração (“… nós vimos uma criança completamente diferente, muito mais motivada, determinada, interessada…”, “Ficou muito melhor, porque eles deixam de aprender coisas adquiridas…”); Tal como os resultados escolares: “E pronto, e a partir daí já os segundos testes foram as notas do 80 e tal, 90 e tal, transversal a todas as disciplinas., … e que neste momento é um dos melhores alunos da sua turma; “Ele precisou estudar, ele precisou copiar os cadernos e precisou estudar para a prova, que é uma coisa que ele nunca fez na vida.”; Tal como o bem-estar emocional: “ele parecia uma flor murcha, de repente desabrochou-se”. “Sim, senti a um nível emocional, foi muito positivo, sem dúvida…”, “As somatizações deixaram de acontecer após a aceleração, então melhorou e parou um pouco com as crises de ansiedade, com o choro”. Não era seguramente este o papel da escola. Levarmos tanto tempo a satisfazer as necessidades dos nossos alunos.
Aliás, todas as questões e conclusões levantadas por esta tese estão fortemente consistentes com os resultados de muitos estudos nacionais e internacionais que o investigador apontou:
“De acordo com a literatura, muitos alunos com altas capacidades experienciam sentimentos de aborrecimento, desmotivação e desinteresse escolar devido à natureza homogénea do sistema educativo (Ourofin & Fleith, 2011). Um estudo de Gross & Smith (2021) indica que a aceleração académica pode melhorar a autoestima dos alunos. Vários pais entrevistados confirmaram que os seus filhos se tornaram mais confiantes após a aceleração, considerando que esta medida contribuiu positivamente para o bem-estar emocional dos alunos. No que toca à integração social, as experiências foram diversas, mas maioritariamente positivas. Mesmo nos casos onde houve dificuldades iniciais, estas foram superadas com o tempo, e muitos alunos passaram a ser vistos como líderes nas suas turmas ou grupos de amigos. Todos os pais entrevistados expressaram satisfação com a decisão de acelerar academicamente os seus filhos, corroborando as conclusões de estudos anteriores (Dare et al., 2016; Heinbokel, 2015; Kleinbok & Vidergor, 2009). Consideraram que a não aplicação destas medidas poderia ter tido efeitos negativos na motivação e saúde mental dos filhos, um ponto também apoiado pela literatura (Oliveira & Almeida, 2013). Apesar das dificuldades sentidas pela maioria dos entrevistados durante o processo de aceleração académica, todos se revelam satisfeitos por terem escolhido estas medidas para o seu filho, considerando que a sua não aplicação teria efeitos negativos no que toca à saúde mental e à motivação escolar.”
Obrigada a todos os pais que participaram e contribuíram para uma melhor compreensão desta medida de aceleração escolar.
Obrigada ao Gil, e aos seus orientadores, e ao seu excelente contributo na desmistificação de uma medida educativa ainda tão maltratada.
Que venha o próximo ano letivo e com ele os bons professores que todos os alunos e alunas merecem, porque um dia a escola vai mudar: eu acredito!

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