A responsabilidade de todos
Escreve quem sabe
2019-10-11 às 06h00
Hoje, seria normal escrever sobre o rescaldo das eleições Legislativas e dos resultados e consequências que daí advieram; porém, estou cansado do período eleitoral e, sobretudo, cansado dos comentadores e especialistas da política portuguesa. Há especialistas para tudo, para todos os gostos e opiniões. Fala-se de política como se fala de futebol e, curiosamente, quem comenta futebol também comenta política. Ressalvo, no entanto, que tal até me parece salutar, pois sendo a política a essência da nossa sociedade, ela deve estar sempre na ordem do dia, desde os programas informativos da televisão até à mesa do café.
Após estas eleições, fiquei com a sensação de que há muitos mais deputados na Assembleia da República do que havia anteriormente. Logo, deduzo, que há muitos mais a decidirem por nós, o que nos deveria dar algum descanso. Valha-nos o Ricardo Araújo Pereira para nos acordar com um boa ideia de fazer rir, e não é sobre o Tino de Rãs.
Chega de politiquices, e com isso não me estou a referir à extrema direita, mas ao facto de temos de olhar o futuro com iniciativa, e também não me refiro à liberal; com inovação e com boas reformas. O assunto é sério. Em Barcelos, uma escola secundária decide em plena campanha eleitoral levar quatro turmas a assistirem ao documentário “Cowspiracy: The Sustainability Secret” e convidam um militante do PAN para o comentar, em nome da emergência climática, as conclusões de um estudo enviesado e de grandes interesses comerciais. Isto dá que pensar por vários motivos: primeiro, porque o documentário não é científico, está cheio de erros e incoerências e serve de base à campanha vegan; segundo, convidar um militante do PAN (que depois foi desconvidado, devido à queixa de uma entidade ligada à produção de leite), em campanha eleitoral, como se o PAN estivesse na linha da frente no combate às alterações climáticas e os seus militantes fossem especialistas na matéria - o que não são - dá que pensar!
Caros leitores, este episódio só vem revelar que muito do nosso ensino público é gerido sem bom senso e na doutrina de alguns. Nós, famílias temos de ter uma palavra naquilo que é ensinado na escola. Não podemos sujeitar os nossos filhos aos ativismos de quem a dirige. Desta vez, houve contestação e o alarme tocou; mas muitas outras vezes pode não haver alerta e os nossos educandos são endoutrinados em vez de ensinados. Eu acredito numa escola pública formada, esclarecida, competente, capaz de gerar bons cidadãos; o que implica preparação, competência, partilha, discussão, planeamento e bom senso. Ler a justificação que o senhor diretor apresentou para o caso onde considera que “isto é uma tempestade num copo de água” é não ter a mínima noção da comunidade onde está inserido, uma comunidade onde os produtores de leite têm um enorme peso na economia e cultura local. Mais, num mundo onde as facknews, a desinformação e o consumo mandam, não podemos permitir que a nossa escola seja contaminada desta forma sem que haja consciência da responsabilidade que se lhe exige.
A afirmação com que o diretor da escola termina a sua justificação ainda me preocupa mais, passo a trancrever: “Se quiserem sugerir uma obra que tenha uma visão diferente, faremos a sua exibição com a mesma independência e nas mesmas condições”. O senhor diretor que me desculpe, mas a escola é que devia ter a preocupação e o bom senso de apresentar aos seus alunos uma visão esclarecida da problemática, onde a qualidade cientifica da informação fosse a justificação primaz para qualquer aprendizagem. Se o senhor diretor não tiver esta clarividência, aconselho-o a procurar ajuda, mas escolha pelo critério da sapiência e do conhecimento e não da militância de um partido que segue as tendências da sua aprovação.
E termino deixando a ressalva de que com isto, não quero defender ou contrariar a diminuição do consumo de carne. Eu sou apologista do equilíbrio e, nesta matéria, a roda dos alimentos é muito clara!
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