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Quantas pessoas podemos deslocar numa rua?

26.ª Conferência Mundial na área da sobredotação, em Braga!

Quantas pessoas podemos deslocar numa rua?

Ideias

2025-03-23 às 06h00

Mário Meireles Mário Meireles

Precisamos de mudar rapidamente a pergunta de “Quantos carros podem passar nesta rua” para “Quantas pessoas se podem deslocar nesta rua!”.
Se contabilizarmos o número de carros que hoje passam num determinado ponto e quisermos usar esses valores para justificar opções políticas de futuro, as opções estarão sempre erradas: manter túneis e viadutos, aumentar vias de trânsito, aumentar a oferta para o carro. No final, teremos sempre mais carros e mais pessoas a utilizar o carro. Em qualquer parte do Mundo que aplicaram a fórmula do alargamento do espaço do carro, o resultado foi o mesmo: mais carros e mais congestionamento.
As contagens de tráfego atuais são apenas um diagnóstico, não nos obrigam a manter ou alargar as soluções que atraem mais carros. Se queremos reduzir o número de carros numa cidade e aumentar o número de pessoas a efetuar as deslocações noutros modos de transporte, temos de olhar para a cidade de outra forma. Conhecer o diagnóstico atual, os números atuais, e traçar metas de redução de utilização de carro. Apesar dessa redução, conseguimos aumentar o número de pessoas a deslocarem-se nesses troços.
Como é que se faz isso? Como é que se deslocam mais pessoas num determinado sítio, reduzindo o número de carros?
Não é possível alargar as estradas, ruas e avenidas em Braga, até porque isso só se conseguiria se se demolissem casas. É sim otimizando e tornando mais eficiente o espaço público que hoje temos. É com transportes públicos eficientes e eficazes, com ciclovias nas avenidas, com sistemas de bicicletas partilhadas e com passeios acessíveis a todos.
Hoje em dia a Avenida João XXI, Avenida Imaculada Conceição e Avenida João Paulo II, três Avenidas que atravessam o atual centro da cidade que é a Rotunda das Piscinas, têm a capacidade de deslocar, no máximo, 24 mil pessoas. Com a introdução de ciclovias e canais dedicados ao transporte público, reduzindo o espaço do carro, passa a ter a capacidade de transportar 40 mil pessoas. É preciso transformar o espaço público, tornando-o mais democrático e conseguindo com isso transportar mais pessoas nessas ruas e avenidas.
Com isto dar-se-á um fenómeno conhecido na engenharia como “Traffic Evaporation” (Evaporação de Tráfego). Uma pequena redistribuição do espaço faz com que esta evaporação seja de, no mínimo, 25%. Há pessoas que passam a juntar viagens, outras que mudam de ruas por onde se deslocam, algumas podem deixar de procurar aquele destino, mas o principal motivo, que deve ser o objetivo, é que as pessoas mudem as suas deslocações para os modos de transporte sustentáveis. Para além disso potenciamos ainda a autonomia, responsabilidade e liberdade de crianças e jovens, que poderão deslocar-se livremente na cidade.
Se distribuirmos bem o espaço para garantir que ir a pé, de bicicleta ou de transporte público é mais seguro, mais rápido, mais eficiente e mais eficaz do que ir de carro, as pessoas mudam para esses modos, ou organizam as viagens de carro para as essenciais.
Temos de mudar o centro do pensamento e deixar de olhar apenas para o carro como única solução possível nas deslocações urbanas. Não é a única forma de nos movermos na cidade, é, aliás, a forma mais ineficiente de nos movermos na cidade. 
A aposta da política pública deve ser nos modos sustentáveis e terá de se apostar em boas redes pedonais, redes de ciclovias bem construídas, cumprindo os critérios e a lógica, garantindo a segurança das deslocações ativas. A isto é preciso aliar transportes públicos regulares, cumpridores de horários, rápidos, constantes e com uma amplitude horária muito mais alargada do que as atuais. 
Dessa forma as pessoas passarão a utilizar outros modos de transporte, e passamos a conseguir deslocar mais pessoas no mesmo espaço público que hoje temos.
A fotografia que, depois de 3 anos de muita insistência consegui que fosse feita com o Arco da Porta Nova de fundo, onde demonstra a ocupação do espaço público por três formas de deslocação, não pode servir apenas para estar num painel e nas apresentações a fazer de bonito. 
Essa fotografia demonstra, exatamente, a ineficiência do carro na cidade em termos de ocupação do espaço público, e a eficiência do andar a pé, de bicicleta ou de transporte público. É preciso apostar nos modos sustentáveis, e essa aposta é feita quando se redistribui o espaço que hoje é dedicado ao carro, para amanhã ser dedicado aos vários modos sustentáveis, e algum do espaço sobrante ao carro. É passar a dar efetiva prioridade aos modos sustentáveis.
Esta questão não se traduz apenas em conseguir deslocar mais pessoas numa rua, traduz-se em mais segurança para as pessoas se poderem deslocar no modo de transporte que querem. Ao reformular as avenidas, para além da capacidade de deslocação, vamos aumentar a segurança da deslocação e dos atravessamentos, pois vamos conseguir ter mais atravessamentos e menor velocidade.
A infraestrutura é condição necessária para promover a utilização de um modo de transporte.
A mobilidade induz-se.

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