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Que bom seria que a Europa fosse mais bracarense

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Que bom seria que a Europa fosse mais bracarense

Ideias

2019-05-14 às 06h00

João Marques João Marques

A frase, de Ricardo Rio, é um reconhecimento sonoro do europeísmo convicto que grassa na autarquia e que julgo espelhar o sentimento geral da população concelho.
No passado dia 9 comemorou-se mais um Dia da Europa, que é como quem diz o Dia da União Europeia. A umbilicalidade dos dois conceitos faz-nos, por vezes, esquecer que a Europa não começa e acaba nas fronteiras da UE, mas é quase incontroverso que, em qualquer parte do mundo, os dois conceitos são basicamente sinónimos. Não se trata, sequer, de um fenómeno de “sinedoquização”, ou seja, de tomar a parte pelo todo. É, antes, uma verdade (in)conveniente, afirmando o primado da paz, da concórdia entre os povos, da democracia liberal, dos direitos humanos e da verdadeira, se bem que imperfeita, união política internacional. Esta é, por isso, uma altura ideal para destacar a importância da integração equilibrada numa União que dá sinais da fadiga dos anos, do cansaço da burocratização do seu governo e, também, porque não dizê-lo, das campanhas incessantes de descrédito populista, erigidas sobre os destroços das incapacidades das instituições europeias (mas não só) em dar resposta aos mais básicos anseios das populações.

A crise, a malfadada crise, foi um ponto de viragem na tendencial harmonização de um espaço de moderação política e de constante preocupação com os mais fracos, ainda que, sem hipocrisias se diga, graças ao paternalismo económico dos mais fortes. Não há uniões ideais, mas isso vale tanto para a existência da UE como para o caos que seria o regresso a um tempo sem ela.
Como sempre, há alternativa à união, só que, ao contrário do que populisticamente nos queriam vender, essa alternativa é sempre pior com a desfragmentação do que com a conjugação de esforços entre as nações que a compõem.
E isso é visível, por exemplo, com a guerra de tarifas entre os EUA e a China, dois gigantescos blocos económicos, políticos, sociais e militares. O que seria de nós se, no contexto mundial, estivéssemos dependentes desta bipartição do mundo, sem nenhum outro bloco para onde nos virarmos? Bem sei que não estamos imunes ao desenlace desta crise entre dois polos, mas o aconchego europeu é o único que nos permite resistir, mantendo as fronteiras do Estado Social que erguemos praticamente invioláveis.

Os desafios do futuro, como a digitalização da economia, a crise ambiental e a degenerescência etária a que parecemos condenados seriam implacáveis e eventualmente inultrapassáveis sem a UE. É certo que nos poderíamos amarrar a um dos outros grandes blocos para sobreviver, mas, pergunto eu, quem pode resistir como atrelado no mundo da Fómula 1?
Se a Europa fosse mais bracarense, talvez não estivéssemos a tentar adivinhar o nível de abstenção nas próximas eleições europeias, mas antes a inventar motivos para ouvir e discutir tantas vezes quantas fosse possível as soluções que os vários quadrantes políticos apresentam.

Falta seguramente muita coisa para que a UE seja considerada um projeto perfeito. O enfoque na União de Povos ao invés da União de Estados talvez seja um passo demasiado grande, no entanto a geometria variável garantida pela conjugação de instituições como o Conselho, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu resulta numa confusão de difícil apreensão pelo comum dos cidadãos. A um modelo simples que, num Estado-nação, corresponde à tripartição entre Governo, Parlamento e Tribunais, sucedeu na UE um outro, menos óbvio e que, pela natureza dos signatários dos tratados (os Estados), não pode, por ora dispensar a complexidade orgânica.

Escolher um modelo de maior integração ou de retrocesso nos passos já realizados deve ser um debate livre de ónus ou encargos, que efetivamente enquadre a voz de todos os povos, sem receios dos resultados. É nessa liberdade matricial que se encontra a génese da União que hoje existe e é nos exemplos já colhidos de alargamentos (a leste) e de recuos (Brexit) que devemos buscar a orientação para o muito caminho que ainda nos cumpre trilhar.
Este exemplo de liderança na tolerância e no pluralismo é o verdadeiro trunfo da Europa. Afinal, podemos não ser a maior potência económica do globo, mas poucos são os que não buscam aqui a inspiração para um modelo de sociedade mais justo, onde as culturas e a cultura são valorizadas, onde o papel dos direitos sociais e políticos é respeitado e onde o valor do ser humano é medido pelo respeito integral da sua singularidade e não aniquilado pelos ditames do poder económico de alguns ou obliterado pelo totalitarismo político da vanguarda.

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