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Que força é essa?

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Que força é essa?

Ideias

2020-01-07 às 06h00

João Marques João Marques

“Que força é essa/que trazes nos braços/que só te serve para obedecer/que só te manda obedecer/ Que força é essa, amigo/que te põe de bem com outros/ e de mal contigo”

Julgo que nunca os versos de Sérgio Godinho resumiram tão bem o estado da arte no PSD. Sim, no PSD, leu bem.
Rui Rio chegou a líder do partido com um caderno de encargos difícil: derrotar a Geringonça. No arranjo político mais incaraterístico de sempre em Portugal, o PSD estava obrigado a criar as bases para um projeto consequente e abrangente, que, ao mesmo tempo, oferecesse soluções políticas claras e atuantes sem esquecer a necessidade de acautelar alianças nucleares no espaço político do cen- tro-direita. Desde 2015 que não basta ganhar eleições para governar e, sendo esse um elemento decisivo para se perceber a radicalização do universo partidário português, não podemos desenhar estratégias que não estejam alinhadas com este novo mundo, por muito que ele nos repugne.

Tal objetivo foi, de resto, claramente afirmado por Rui Rio, no Congresso da sua entronização, quando disse: “Queremos ganhar as próximas eleições e liderar um Governo capaz de substituir uma solução governativa, ancorada em contradições estruturalmente insuperáveis.”
Esperava-se, por isso, que, com a força do PSD ao seu lado, pudéssemos ter um líder forte, sem medo de defrontar e enfrentar os tais poderes instalados de que tanto falou e que começavam, justamente, nos poderes fáticos e formais existentes no Governo e no Parlamento. Só quem não percebesse nada do que politicamente se estava a passar no país é que poderia pensar que a aproximação ao PS seria a solução para o sucesso dessa batalha e para a recuperação da relevância política do PSD.

Os portugueses estavam desiludidos com as promessas não cumpridas de um tempo novo e distante da austeridade a que o país foi conduzido pela quase-bancarrota socrática. Ao contrário do que se foi propagandeando, o PS não era imbatível, ainda que se possa reconhecer como muito difícil a obtenção de uma maioria para governar. Ainda assim, que cara restaria à liderança do PS se uma segunda derrota eleitoral tivesse acontecido, se bem que mantendo a maioria de esquerda?

Internamente, muito foi prometido por Rui Rio, com a célebre e aventada “limpeza” do partido, com a vassoura da ética a ameaçar varrer tudo quanto se mexesse fora do espaço moral que o próprio Rio teria perfeitamente balizado. O problema é que a vigorosa vassoura veio acompanhada de um defeituoso apanhador, profusamente esburacado e que foi deixando passar casos atrás de casos de pessoas e ações ligados à direção política do PSD. A imagem de enviesamento e de um certo nepotismo colaram-se à, até ali, impoluta capa de credibilidade do líder do PSD, o que fez tremer um dos poucos alicerces que poderiam tê-lo salvo no combate com um PS agastado com acusações de clientelismo e controlo do aparelho do Estado.

No fim destes dois anos de mandato, o que tem Rui Rio para mostrar e oferecer ao PSD e, como tanto gosta de frisar, ao país? A maior derrota eleitoral do PSD, nas europeias, e a segunda maior, nas legislativas. Para lá disto, o que fica é a subalternização ao PS, a política de casos, das tricas com o grupo parlamentar, dos afastamentos de pessoas próximas (como Castro Almeida), das birras com a justiça, da inconsistência no que respeita ao tempo de serviço dos professores e, sobretudo, a virulência contra os críticos internos.
Como Rio tão bem disse no discurso de tomada de posse, a propósito do que separa os partidos: “Não é preciso inventar diferenças. As que existem já são suficientemente marcantes para todos nos distinguirmos.” Que pena foi não o ter vincado na ação diária, enquanto líder da oposição.
Felizmente, o PSD é composto por inúmeros quadros de qualidade que podem e seguramente mostrarão essas diferenças, não apenas para expor a fraqueza dos adversários, mas sobretudo para sublinhar a força das ideias e do projeto de país que é defendido.

Nesta eleição, só Luís Montenegro conjuga a experiência política, a capacidade de intervenção e o legado de respeito por todos os PSDs – de Sá Carneiro a Marcelo Rebelo de Sousa, das reformas de Cavaco Silva à coragem e abnegação de Passos Coelho – com o espírito reformista que molda a identidade do partido. Se a isso aliarmos a inteligência e disponibilidade para criar um espaço de convergência que permita afirmar uma alternativa maioritária, logo, de governo nos antípodas da atual coligação informal das esquerdas, não sobram dúvidas sobre a sua vantagem sobre qualquer dos adversários que se apresentam a sufrágio.
Com a força que vem de dentro do PSD haverá que transformar o país, não mais obedecendo à inércia e à impassividade que condenam Portugal a estar de bem com outros, mas de mal consigo.

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