A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2023-11-13 às 06h00
Será muito difícil haver uma maioria absoluta de votos num determinado partido nas próximas eleições legislativas. Isso obrigará a coligações. Pré ou pós-eleitorais. Para os eleitores, a clarificação prévia das alianças a fazer seria fundamental para a escolha do voto a depositar nas urnas. Todavia, será previsível que os acordos se façam depois de 10 de março.
Desenhemos dois cenários possíveis. Imaginemos uma vitória por maioria do Partido Socialista. Perante a instabilidade que se instalou no nosso país, afigura-se muito complicado um Governo posicionar-se com determinação reformista sem a almofada de um alargado apoio do Parlamento. As táticas de guerrilha surgirão logo no primeiro Orçamento e o risco de a oposição deixar cair o Governo é real. Por isso, o PS sabe que será avisado fazer acordos (pós) eleitorais. Nesta conjuntura, será à esquerda que isso se tornará mais viável. Pensemos agora numa vitória por maioria do PSD. A vulnerabilidade que se gerará devido à falta de uma bancada parlamentar que, por si, garanta a aprovação dos diplomas discutidos na Assembleia da República afetará por certo a governação e isso empurrará inevitavelmente o Partido Social Democrata para acordos à direita. Aí o eleitorado mais moderado teme as alianças com o Chega.
Estas dificuldades não significam que o Presidente da República tomou uma decisão imponderada ao convocar os portugueses para eleições. Perante os factos, Marcelo Rebelo de Sousa optou pelo caminho que oferece mais estabilidade a médio prazo, ainda que no imediato o caos se dissemine por todo o lado.
À nossa frente, temos um Governo ainda com meio ano de vida, um período demasiado longo para um executivo com morte anunciada. No Partido Socialista, apressam-se, por enquanto, duas candidaturas, sem tempo para o necessário debate que cada uma delas impõe. No PSD, realinham-se hostes desavindas, depois de um período em que se arquitetou a queda de um líder que se julgou por demasiado tempo incapaz de levar o partido a uma vitória eleitoral.
Nos partidos mais pequenos, tanto à esquerda como à direita, pensam-se em táticas que os alavanque para o urgente crescimento da respetiva bancada parlamen- tar. A nível autárquico, março de 2024 não será a melhor data para eleições legislativas, porque faltarão quase dois anos para o escrutínio local e quem sair de uma presidência de Câmara rumo a um elenco governativo terá certamente sobre si a perceção de que os lugares importam mais do que o compromisso assumido com os munícipes.
Este não é um tempo favorável aos políticos, ainda que haja juízos de valor que possam ser infundados relativamente a um ou outro governante, na medida em que, neste dossier Influencer, muita coisa falta saber para elaborarmos teses sobre os acontecimentos e as pessoas que os protagonizaram. Também é um tempo exigente para a Justiça a braços com um megaprocesso que, desta vez, fez cair um Governo. E tudo isto acontece, quando, internamente, se atravessava uma crise crítica no setor da saúde e, a nível internacional, se vive uma gravíssima situação bélica na Faixa de Gaza e na Ucrânia. Poder-se-ia ver nas eleições de março uma solução miraculosa para a incerteza deste estranho presente, mas nenhum de nós é capaz de tal otimismo.
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