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Escreve quem sabe

2025-02-07 às 06h00

Jorge Dinis Oliveira Jorge Dinis Oliveira

Vivo numa casa velha cujos primeiros proprietários já faleceram há muito. Mas, pelo ranger do soalho, e pelo arrepio na espinha, dizem-me que as suas almas ainda por cá penam.
Mantenho-me firme e hirto no meu cepticismo, e ignoro as recomendações de limpezas espirituais e energéticas, mantendo-me, por causa das minhas malditas alergias, focado na limpeza do pó.
Compreendo a prevalência, no passado, destas e outras crenças, mas, com o conhecimento de que dispomos actualmente, tenho alguma dificuldade em compreender a sua persistência. São crenças irracionais que decorrem de pressupostos infundados, não científicos e ilógicos sobre o mundo, sendo particularmente prevalentes, em adultos saudáveis, as crenças em teorias da conspiração e no sobrenatural.
Uma teoria da conspiração define-se como o pressuposto de que um grupo de pessoas maquinam, em conluio e em segredo, com propósitos maquiavélicos. São teorias criativas, e até mesmo estrambólicas, desde a Teoria dos Protocolos de Sião até aos Negacionistas do Holocausto. Há sempre uma agenda ou um plano secreto, uma força oculta ou grupo poderoso, o argumento de que nada acontece por acaso, que nada é o que parece e que tudo está interligado. Há investigadores que inclusive referem que a crença nestas teorias da conspiração é percussora da radicalização e de comportamentos anti-sociais.
As crenças no sobrenatural definem-se como crenças que violam princípios científicos fundamentais da natureza, nas quais se incluem superstições, crenças no paranormal, horóscopos e telepatia. Não sou supersticioso, pois isso dá azar, mas tenho a certeza de que a minha mãe me conseguia ler a mente em miúdo. Importa não confundir estas crendices com a apreciação de fenómenos folclóricos de imenso valor cultural e etnográfico, como o iniciado pelo Padre António Fontes e celebrado por Terras do Barroso a cada Sexta-Feira 13.
Então, o que nos leva a acreditar em teorias da conspiração e no sobrenatural? A propósito desta questão, caiu-me no colo um artigo, de 2017, publicado no European Journal of Social Psychology, intitulado “Juntar as Peças: A percepção ilusória de padrões prevê a crença em conspirações e no sobrenatural”. Os autores referem que uma hipótese comum é a de que a crença em teorias da conspiração e fenómenos sobrenaturais – fenómenos do Entroncamento, em Portugal – decorrem da percepção ilusória de padrões, ou seja, de imaginarmos padrões e ligações onde estas não existem.
Após testarem este pressuposto, referem que confundimos estímulos gerados aleatoriamente como causados por um processo não aleatório e, portanto, consideramo-lo como diagnóstico para o que esperar no futuro. Por muito que digamos que não há coincidências, estas não deixam de existir.
Estas crenças, não sendo necessariamente nocivas, nem completamente inofensivas, podem levar a que consultemos curandeiros e bruxos em vez de profissionais qualificados para tratar pequenas e grandes maleitas ou tomar pequenas e grandes decisões.
Da minha parte, gostaria que os meus inquilinos penados contribuíssem para a renda e para colmatar a pobreza energética em que vivo; continuo a bater na madeira porque nunca se sabe; e ‘no creo en brujas, pero que las hay, las hay’.

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