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Que rosa bela! Eu sei, eu sei, é a Bela Portuguesa...

A Cruz (qual calvário) das Convertidas

Que rosa bela! Eu sei, eu sei, é a Bela Portuguesa...

Ensino

2024-02-15 às 06h00

Alexandra Nobre Alexandra Nobre

A rosa é provavelmente a flor mais versátil e eclética que existe. Pode ser simultaneamente singela e sofisticada, imensamente perfumada ou quase sem fragrância, ter uma de mil cores ou apresentar mil e uma cores num mesmo pé. Há rosas com e sem espinhos. Bem, na verdade as rosas não têm espinhos e sim acúleos, uns picos dissuasores de herbívoros e que, não sendo vascularizados, se destacam facilmente dos caules se os empurrarmos lateralmente. São muito diferentes dos picos encontrados, por exemplo, em certos cactos e limoeiros e que correspondem a folhas e a caules modificados, respectivamente. As rosas têm pétalas finas, delicadas e quase translúcidas ou então espessas e aveludadas. As roseiras podem ser rasteiras, arbustivas ou trepadeiras, e podem ainda existir em estado silvestre ou cultivado. A rosa é também a flor mais popular e conhecida do mundo. Seja em ambiente rural ou urbano, não há quintal ou jardim que se preze que não tenha uma roseira. A oferta de rosas está entre a forma mais universal de expressar sentimentos. Queremos demonstrar gratidão, oferecemos uma rosa. Alguém passa um momento difícil e tencionamos que sinta a nossa empatia, oferecemos outra. O amor e romance andam no ar e desejamos apregoá-los aos quatro ventos? Uma rosa, mas atenção, vermelha! Ainda ontem foi um corrupio às floristas e não chegaram para as encomendas apesar de estoque reforçado. A rosa preenche o ser humano de admiração, tanto pela sua beleza, como pela sua simbologia. Senão vejamos. No catolicismo romano a rosa é um componente simbólico do Santo Rosário (rosário significa literalmente coroa de rosas) e iconográfico da Santa Terezinha e Rainha Santa Isabel – “São rosas, Senhor”. A rosa é a flor nacional de Inglaterra, um símbolo que remonta ao século XV e à Guerra das Rosas entre uma rosa vermelha (Casa de Lancaster) e uma rosa branca (Casa de York). A sua presença simbólica prolifera em heráldica e, na política, a rosa assume a identidade gráfica de correntes socialistas e sociais-democratas. O fascínio que desperta é tanto que transborda do engenho dos artistas para a sua arte, quase como se nela encontrassem a inspiração necessária para construir algo de maior. A pintura de Renoir é pródiga em jarras de rosas e René Lalique faz o milagre das rosas, só que em vez de pão usa o vidro. Até no campo da música as rosas inspiram sons e títulos, que o digam os Guns n` Roses. E na literatura? A rosa é tanto “personagem” real como recurso alegórico. Não foi ingenuamente que Umberto Eco escolheu “O Nome de Rosa” para o nome do seu livro, tal como ela tão rico em significados e simbologia.
As roseiras partilham a família Rosaceae, de distribuição cosmopolita (representada em todos os continentes) e apenas ausente das regiões de gelos permanentes e desertos secos, com cerca de 5000 outras espécies, também com flores vistosas, mas frutos muito mais exuberantes e deliciosos. Maças, peras, marmelos, damascos, framboesas, morangos, ameixas, cerejas, amêndoas são só alguns exemplos. Já o fruto da roseira, se bem que geralmente comestível, poucos de nós o provámos. Aliás, haverá neste momento algumas bocas abertas de espanto “Ah, as roseiras dão fruto e ele come-se?!” Sim, é verdade, mas como jardineiro que se preze os remove assim que as pétalas caem para que a planta não desperdice energia e a canalize para novas flores, raramente os vemos maduros. Pouco mais nos resta do que as casas abandonadas, agora miragens de outros tempos, onde no Outono, espreitando para os jardins, vemos entre silvas as roseiras despidas de folhas e adornadas de pequenas bolas vermelhas (vá, às vezes também alaranjadas ou roxas) na extremidade de cada pé. São os frutos maduros, do tipo baga (na botânica significa fruto carnoso, que não abre espontaneamente – indeiscente - e apresenta número variado de sementes), ricos em vitamina C e que podem ser usados para produzir e aromatizar geleias, compotas e licores. A própria flor é consumida fresca em saladas, cristalizada a decorar bolos, em infusões, ou na cozinha de outras culturas, a aromatizar pratos sob a forma de água de rosas. Noutro campo, o óleo extraído das suas pétalas e que faz da Bulgária, principal país seu produtor, o “país das rosas”, é amplamente usado em perfumaria, cosmética e mesmo na indústria farmacêutica.
A partir das cerca de 200 espécies de roseiras (Rosa sp.) de ocorrência na- tural, estima-se que existam mais de 40000variedades híbridas em todo o mundo, “construídas” e ou melhoradas pelo homem ao longo de milénios. A Bela Portuguesa ou Belle de Portugal, infelizmente desconhecida da maioria de nós, é um exemplo desse trabalho engenhoso de Henry Cayeux, que em 1903 a deu à luz no Jardim Botânico de Lisboa onde era director. O processo, detalhadamente descrito no seu artigo “Rosa gigantea and its hybrids” e publicado em 1929 no Journal of Heredity, apresenta-nos as suas progenitoras.
São elas a rosa Reine Marie Henriette (em honra à rainha belga casada com o rei Leopoldo II), uma planta trepadeira com poucos espinhos que produz cachos de flores vermelho-cereja e a Rosa gigantea, uma espécie com flores lembrando gardénias e a mania das alturas, nativa da Índia e China onde cresce a 1500 metros de altitude no sopé do Himalaia e se eleva à copa de árvores trepando outros 20. A Bela Portuguesa é tão bela e subtil que não encontro palavras melhores para a descrever do que as de Henry Cayeux “É uma rosa grande e bela, de coloração muito delicada rosa-concha a rosa claro e rosa salmão. Os botões longos atingem 10 cm de comprimento, principalmente quando produzidos na ponta de galhos vigorosos. E a flor, quando completamente aberta, pode medir 15 centímetros de diâmetro. Cultivada num clima temperado, a Belle Portugaise atinge um grande desenvolvimento e fica literalmente coberta pelas suas grandes flores.” Estou aqui a escrever com uma mão e a fazer figas com a outra para que tenham ficado com vontade de conhecer a Bela Portuguesa e, já agora, de lhe arranjarem um cantinho no vosso jardim.

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