Órfãos de Pais Vivos
Escreve quem sabe
2022-12-10 às 06h00
Cada vez mais se nota que as estações do ano têm vindo a desviar-se das regularidades conhecidas. O principal suspeito, claro, são as grandes alterações climáticas antropogénicas em curso. A impressão que se tem é que se produziu um desajuste temporal na habitual chegada das quatro estações, nomeadamente quando reparamos no florescimento mais precoce de plantas em fevereiro e início da perda de folhagem em agosto ou então na igualmente prematura chegada das primeiras aves migratórias nesse mês invernoso, quando não mesmo da inexistência de migrações, com várias espécies de pássaros a tornarem-se residentes permanentes dos nossos jardins. Mas é mesmo assim?
Tecnicamente, existem duas maneiras de definir as estações do ano. Uma, astronómica, que se baseia na mudança na duração dos dias provocada pela inclinação relativa do eixo da Terra à medida que gira em torno do Sol. Nos seus termos, o inverno vai do respetivo solstício – o dia do ano com menos luz: 22 de dezembro – até ao equinócio primaveril – em que o dia e a noite são aproximadamente iguais: 21 de março –, a primavera prolonga-se deste o solstício de verão – o dia mais longo do ano: 22 de junho –, o verão estende-se depois até ao equinócio de outono – novamente o dia em que luz e escuridão são iguais: 23 de setembro – e, por fim, este último completa o ciclo durando até ao solstício de inverno. Outra, mais recente, é meteorológica, que simplesmente reparte o ano por quatro períodos: inverno (dezembro-janeiro-fevereiro), primavera (março-abril-maio), verão (junho-julho-agosto) e outono (setembro-outubro-novembro).
Relembremos, no entanto, que só faz sentido falar em quatro estações para quem habita, como nós, as zonas temperadas do globo terrestre – aquelas que se situam entre o Trópico de Câncer (23º27´N) e o Círculo Polar Ártico (66º33`N) e entre o Trópico de Capricórnio (23º27´S) e o Círculo Polar Antártico (66º33`S). Para quem vive nos trópicos, entre 23º27´N e 23º27´S da linha do Equador (0º), só existem, a bem dizer, duas estações, uma quente e seca e outra menos quente e chuvosa. Outro tanto se diga para aqueles que residem nas latitudes superiores, entre o Círculo Polar Ártico e o Polo Norte (90º N) e o Círculo Polar Antártico e o Polo Sul (90º S), que têm um inverno frio com longas noites escuras e um verão um pouco menos frio com luz diurna mais longa.
De acordo com os especialistas, as malfadadas alterações climáticas antropogenicamente induzidas estão a alterar esses padrões temporais há muito estabelecidos. Num estudo realizado em 2021 por uma equipa de investigadores chineses, encabeçada por Jiamin Wang, da Universidade de Lanzhou, foram apresentadas evidências de que, sobretudo por efeito do aquecimento global causado por emissão de gases de efeito de estufa, num número crescente de países no hemisfério norte, os verões se estão a tornar mais longos e mais quentes, os invernos mais curtos e mais quentes, e as primaveras e outonos mais curtos. Esse mesmo estudo concluiu que os inícios da primavera e do verão se encontram adiantados, ao passo que os inícios do outono e do inverno se apresentam atrasados. Isso parece corresponder na prática a uma expansão do clima dos trópicos e a uma tendência para o hemisfério norte se aproximar dos seus ciclos bi-sasonais.
Ainda no estudo de Wang se afirma que não tardará muito para que o estio dure perto de meio ano e o inverno menos de 2 meses. No futuro próximo, por conseguinte, mais seres humanos viverão climaticamente como os atuais africanos, sul e centro-americanos, e asiáticos.
02 Junho 2023
01 Junho 2023
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