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Racismo e xenofobia, sempre intoleráveis

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Racismo e xenofobia, sempre intoleráveis

Ideias

2024-07-28 às 06h00

Artur Coimbra Artur Coimbra

Que o racismo e a xenofobia latejam em Portugal, não há a mínima dúvida. Esses traços culturais e sociais encontram-se frequentemente nas conversas dos cafés ou nas redes sociais, voltados contra as raças diferentes (os ciganos, os negros, os asiáticos, eu sei lá) ou contra as pessoas que vêm de diferentes países, em busca de uma vida melhor para si e para os seus. À semelhança do que milhões de pessoas fizeram ao longo da História, incluindo inumeráveis portugueses.
A xenofobia é um tipo de preconceito caracterizado pela aversão, hostilidade, repúdio ou ódio aos estrangeiros. Normalmente é baseado em factores históricos, culturais, religiosos, dentre outros. É um problema social baseado na intolerância ou discriminação face a determina- das nacionalidades, nos últimos anos acicatado por determinada força política da pior extrema-direita, populista e destrutiva.
Nesta altura do campeonato, a xenofobia é muito virada para a comunidade brasileira residente em Portugal e que atinge já a cifra de mais de 600 mil pessoas, dispersas pelo país, segundo os dados estatísticos mais recentes.
Que o digam os bracarenses mais lúcidos, conscientes e tolerantes, ante uma investida de extremistas políticos que não sabem sequer o que estão a fazer e que denotam a maior ignorância histórica, uma cegueira inadmissível e uma intransigência absolutamente desumana.
Há umas semanas leu-se na imprensa que o próprio presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, se viu na contingência de vir a público atacar os “xenófobos” que vociferam contra as festas Juninas, tradição brasileira em honra dos santos populares, e a criação de um Jardim Brasil em Braga.
Sobre as festas que uniram muitos brasileiros e portugueses, Ricardo Rio referiu que “a ignorância não serve de justificação para muitos dos disparates escritos” nas redes sociais, esse vazadouro moderno dos dejectos de tanta gente sem escrúpulos, tratando-se de uma iniciativa que presta tributo a uma tradição brasileira que vem do tempo dos descobrimentos, de homenagem aos santos populares, e que os brasileiros transportaram de regresso ao nosso país, e que nada tem a ver, como alguns pretendem, com “uma versão brasileira do S. João de Braga”.
“E se qualquer comunidade radicada em Braga quiser evocar as suas tradições, em que é que isso incomoda os ‘locais’?”, questionou, legitimamente, o autarca bracarense.
Outra iniciativa que originou polémica tem a ver com o anúncio da abertura de um jardim em Lamaçães, apelidado de “Jardim Brasil” e que gerou “nova comoção, porque em reconhecimento do apoio de quem entendeu oferecer todas as árvores aí plantadas, se optou por baptizar o Jardim com o nome do seu país de origem”.
“Haveria muito para dizer sobre o contributo que boa parte dos 15.000 brasileiros radicados na cidade e muitos outros milhares das 130 nacionalidades aqui presentes têm dado para o desenvolvimento económico da cidade e, até, para a salvaguarda de diversos setores e serviços essenciais”, prosseguiu o edil, dando o exemplo de “empresários de inúmeras áreas económicas e com as associações empresariais”, pois “todos clamam pela atração de mais talento”.
“E se Braga tem sido um extraordinário exemplo de integração, como bem demonstram as várias escolas públicas em que mais de 30/40 nacionalidades de crianças convivem em harmonia, não posso deixar de questionar a tolerância de muitos com a emergência deste discurso xenófobo, ora explícito, ora dissimulado”, acusa.
O que se refere a Braga, pode aplicar-se absolutamente a toda a região e a todo o país, onde um discurso de ódio e de intolerância de cariz vergonhosamente político, e todos sabemos de onde vem e o que pretende, acaba por manchar e sujar a tradição de um país acolhedor, receptivo e transigente, que sempre foi o modo de estar e de ser dos portugueses ao longo da História.
Aquele não é o retrato da generalidade dos portugueses, que reconhecem nos imigrantes que nos procuram, em busca de uma vida melhor, aqueles que contribuem para a sustentabilidade da nossa economia, pois todos sabemos que os estrangeiros são hoje os trabalhadores que ocupam as funções e os empregos que os portugueses não querem, por desqualificados ou mal remunerados e que os imigrantes agarram com ambas as mãos, exactamente como faziam os nossos compatriotas que demandavam as franças e araganças há 50 ou 60 anos, por essa Europa fora, e que aceitavam qualquer emprego, alojavam-se em bairros de lata e tinham como única preocupação trabalhar duramente e amealhar uns cobres para enviar para as famílias no país.
A ignorância da nossa História recente e a perversão de políticos sem escrúpulos, que manipulam despudoradamente os mais incautos, que obviamente se deixam manobrar, é que tem permitido esta onda rasca de racismo e xenofobia que emporcalha toda uma sociedade. Não se concebe como um país de emigrantes, durante séculos, com milhões de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo, em busca de melhores condições de vida, é capaz de ter atitudes de aversão, de conflito e animosidade contra quem para aqui vem trabalhar para cumprir os seus sonhos.
Porque ninguém tem dúvidas que os imigrantes não vêm roubar empregos aos portugueses, porque os portugueses não querem hoje em dia trabalhar nas obras, ou nas pescas, ou na agricultura extensiva, ou na restauração, ou na hotelaria, trabalhos duros, exigentes e que nem sempre têm as contrapartidas financeiras que se esperariam.
Por isso, não há razão para o discurso xenófobo e racista, perfeitamente quadrúpede.
Dir-se-á que a nível da habitação é que as coisas se complicam, porque o mercado da venda e do arrendamento imobiliário não tem proporcionado a resposta que os nacionais pretenderiam. Mas essa questão prejudica portugueses e estrangeiros e, na verdade, arranjar alojamento nos dias que correm está a preços mais que pornográficos. No entanto, o foco não pode ser dirigido apenas aos imigrantes, que, coitados, fazem pela vida, como os nossos compatriotas fizeram há décadas.
Terá de haver outras explicações e outras respostas, algumas mais complexas. Mas complexidade é coisa que os populistas não conseguem sequer admitir, porque os seus discursos são de um basismo analfabético, de um zerismo aterrador, de uma escassez de formação e de informação que raia a paranoia.
Entretanto, a realidade impõe-se às gratuitas politiquices xenófobas e demonstra, claramente, que os milhares de imigrantes que escolheram Portugal para trabalhar e viver estão a contribuir seriamente para a sustentabilidade da Segurança Social, concorrendo mais que recebendo, o que não deixa de irritar certas teses conspirativas e sobretudo contribuindo para aumentar a natalidade e o número de habitantes neste rectângulo à beira mar plantado, tão desertificado, despovoado e envelhecido, o que já não acontecia há décadas.
Ainda bem que centenas de milhares de imigrantes escolherem Portugal para sonhar as suas vidas, como milhões de portugueses o fizeram para todos os destinos do mundo pelos anos fora.
Todos merecem o nosso máximo aplauso e respeito e a maior consideração!

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