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Entre a vergonha e o medo

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Ideias

2023-09-05 às 06h00

João Marques João Marques

Portugal regressa de férias e, com ele, regressam os temas do costume. Porquê? Porque é o costume que orienta Portugal.
O costume dos baixos salários. O costume dos serviços públicos em decadência. O costume da altíssima carga fiscal. O costume do miserabilismo e da incapacidade em traçar um rumo diferente.
A troika foi despachada há quase uma década, mas os problemas que entretanto era suposto termos resolvido ou, ao menos, debelado, persistem.
A estrutural fraqueza da economia é o seu único elemento sólido e estável. Tão paradoxal quanto evidente, o que corrói o país não é a falta de potencial, mas a falta de esperança. Nisso tem razão o Presidente da República, como fez questão de assinalar no recente veto político ao pacote da habitação.
Por oposição, a voragem da máquina fiscal trucida tudo o que mexe. São os escalões de IRS desajustados à realidade dos salários; é a insensibilidade com que o Governo alardeia crescimento na arrecadação de receita, bem sabendo que a inflação que nos sangra os bolsos é a sua megera cúmplice no saque fiscal; e é ainda a progressiva degenerescência dos serviços públicos.
Setores críticos como a defesa, a justiça ou a saúde tornam claro que o que temos é um país falhado.
Note-se que não atiro setores críticos para a mesa do debate sem critério.
Na defesa, o jornal Expresso trouxe recentemente à estampa um dado que já não era novidade para ninguém, as nossas forças armadas têm cada vez menos força e estão cada vez menos armadas. O desequilíbrio entre quem comanda e quem é comandado chegou ao ridículo de termos uma pirâmide em alto ritmo de inversão, em que os do topo suplantam os da base. Em suma, quem comanda ninguém tem para comandar. O que isto traduz é a cada vez menor atratividade da carreira militar. Uma carreira outrora vista como uma missão patriótica e recompensadora é hoje apenas um passo de loucura para jovens líricos, ou a última chance para o refugo da sociedade.
Na justiça grassa uma doença silente, mas cada vez mais perigosa. Não é só a questão financeira que ameaça a corrosão total de um sistema que é suposto servir como a argamassa da sociedade, é sobretudo a crescente morosidade de uma justiça que já era lenta no passado e que não consegue engatar sequer a segunda velocidade quanto mais a quinta ou sexta.
Processos que se arrastam, questões formais que impedem o normal decurso de tarefas básicas como a mera distribuição dos processos e (novamente) a deterioração das condições profissionais de quem tem por missão assegurar a boa tramitação dos casos são fatores que concorrem para dinamitar a confiabilidade e bom nome de um dos pilares do Estado.
Na saúde já não há paciência nem pachorra para tanto falhanço consecutivo. Depois da promessa de diminuição do número de portugueses sem médico de família e já exauridos todos os expedientes formais para tentar compor o ramalhete (todos conhecemos casos de pessoas a quem associaram médicos de família em centros de saúde que distam dezenas de quilómetros da sua área de residência), o problema, ao invés de se resolver, agrava-se.
Entretanto, prometeram-nos que com uma reorganização do modelo de gestão do SNS entraríamos numa nova fase. Agora, sim. Agora que recorremos a um modelo que não só mimetiza a gestão privada dos serviços de saúde, mas também dilacera qualquer poder de facto que Ministro da Saúde legitima e democraticamente empossado tivesse a veleidade de exercer, o SNS florescerá. Pena é que só para regulamentar a organização e poderes do novo modelo o Governo tivesse demorado um ano. Enfim, um prazo que está em linha com os tempos de espera na saúde.
Tudo somado, e nem a isto acrescentei os episódios grotescos das demissões sucessivas de responsáveis governativos, com o resgatado Galamba a ser o expoente máximo da degenerescência da política enquanto expressão do melhor da condição humana, o que sobra aos portugueses, na melhor das hipóteses, é mais do mesmo. A mesma vidinha modesta, remediada, sem grandes fogachos de esperança que não sejam o 13.º mês, o subsídio de férias e, cada vez menos, a data de reembolso do IRS. Poucochinho, diria eu.
O Estado continua a garantir que Portugal se situa nos patamares mínimos da dignidade na relação com os seus cidadãos.
Enquanto isto ocorre, há uma alternativa tranquila, mas certeira que emerge e que desperta um sentido de urgência nacional. Como disse e bem Luís Montenegro recentemente, só se fala no PSD. Porquê? Porque finalmente a coragem da diferença, a assertividade das propostas, a persistência do exemplo e a decência das pessoas demonstra que o caminho é só um. O da viragem completa nas políticas de estímulo económico. O das políticas de habitação efetivas, realistas e centradas nas pessoas. O da aposta nos serviços de saúde de qualidade, sem preconceitos mas sem concessões, com os cidadãos em primeiro.
2024 está ao virar da esquina e, estou cada vez mais certo, com ele virá o início de um caminho de renovação política e de reconstrução da esperança num país melhor.

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