Entre a vergonha e o medo
Ideias
2020-09-01 às 06h00
Porque está de volta este espaço de opinião, porque regressamos de férias, porque tentamos regressar à normalidade, mas também porque parece ter havido um regresso aos números preocupantes de casos de pessoas com COVID 19.
E nesse regresso não podemos deixar de notar a dimensão do risco que ainda nos assola, sem que devamos por ele ficar paralisados. Sim, estamos perante uma doença perigosa e letal, altamente contagiosa e para a qual, até ver, não existe qualquer vacina viável. Mas também é verdade que os diversos esforços da investigação clínica parecem estar a dar frutos e já todos damos como certo que, o mais tardar, até ao início de 2021, teremos o génio humano a ultrapassar barreiras de tempo e modo para garantir que, em tempo recorde, a “cura” estará nas nossas mãos.
Há uma tentativa de regresso à normalidade que vamos tentativamente ensaiando, sem que tal signifique o abandono das precauções que se instalaram no quotidiano.
Sabemos que temos uma colina íngreme para subir, no sentido da recuperação da economia, dos postos de trabalho e da paz social, todavia, é bom não ignorar alguns sinais positivos que fomos tendo no plano local, nacional e europeu.
Por cá, ainda em julho, tive a oportunidade de participar em duas interessantíssimas reuniões da Comissão de Assuntos Económicos da Assembleia Municipal. Uma com alguns parceiros sociais do concelho: a Associação Comercial de Braga (ACB) e as delegações locais das centrais sindicais UGT e CGTP e a outra com o Presidente da Câmara.
De ambas as reuniões saí bastante impressionado. Desde logo pela tenacidade das organizações representativas dos empresários e dos trabalhadores quanto à vontade de responder rápida e eficazmente à crise. Preparados, conhecedores dos dossiers e com um sentido genérico de preocupação com o todo e não apenas com a parte que lhes compete defender e patrocinar. Isto, claro, sem prejuízo de visões marcadas por pontos de partida muito diferentes e abordagens consequentemente distintas às respostas necessárias para o futuro.
Não vi sanhas ideológicas, embora perpassasse nas intervenções o contexto de cada uma das instituições. Percebe-se que, da parte dos sindicatos, sejam questionados os termos e duração do lay-off simplificado, sinalizando situações menos claras, ou até abusivas, por parte de algumas empresas, enquanto a ACB, sem menosprezar este aspeto, apontasse para a adoção de mais medidas locais de apoio ao comércio local.
Aliás, foi sintomático assistir a uma convergência de opiniões sobre alguns dos aspetos menos positivos dos regimes de apoio à economia disponibilizados pelo Estado. A aglutinação dos mecanismos centralmente criados para amparar os desafios económicos trazidos pela pandemia por parte das grandes empresas serviu de exemplo a essa sintonia, parecendo óbvio que a existência, nestas últimas, de máquinas burocráticas, tecnicamente competentes e bem oleadas tornou quase residual o apoio às PMEs.
Do lado da autarquia, Ricardo Rio foi muito claro e frontal. Elencou as dificuldades, não fugiu ao retrato de uma economia local que foi das mais prejudicadas no país, justamente por ser das que mais crescia nas exportações e fulgor empresarial, mas deu-nos algumas razões para sorrir, nem que timidamente. A inexistência de quebras nos pedidos de licenciamentos foi uma dessas boas notícias, o que, aliado ao reafirmar de que todos os projetos previstos antes da pandemia serão concretizados, apazigua a mágoa de quem assiste a mais um capítulo da interminável saga do adiamento do país.
Através de uma ação robusta e decidida, a Câmara Municipal de Braga foi das primeiras a encerrar o comércio e os serviços que dependiam da sua decisão, mas também foi das primeiras a reabrir. De resto, tentou-se que os centros comerciais de primeira geração pudessem reabrir ainda antes das restantes grandes superfícies, mas o Governo central, de quem depende a decisão, não anuiu à sugestão do município bracarense.
Para além da isenção de taxas para o comércio local que a AGERE e a Câmara rapidamente determinaram, foi notório o esforço de apresentar soluções criativas, simples e rápidas de mitigação da crise, como o “Braga de Porta Aberta”.
Também notável foi a sinergia entre a autarquia e a ACB no sentido de ser disponibilizado ao tecido económico local, nomeadamente às PMEs, apoio e informação sobre as medidas de apoio existentes, facilitando o acesso a estes mecanismos por parte de quem mais precisa.
Em suma, em Braga podemos depositar confiança e esperança nas instituições públicas e na sociedade civil. Não sabemos como será o futuro próximo, mas temos no terreno as pessoas e os meios capazes de providenciarem respostas competentes e empenhadas. Há um trilho de unidade que está a ser percorrido com responsabilidade e sem unanimismos. Se, à dimensão do país, formos capazes de mostrar idêntica capacidade de ação, talvez possamos ultrapassar este mau momento mais cedo do que esperávamos.
13 Junho 2025
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