Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2019-09-03 às 06h00
Setembro é verdadeiramente o mês dos regressos e do reinício à vida dita normal, superando o mês estipulado no calendário que inicia o ano- janeiro, e o período primaveril do renascimento da natureza.
É nesta altura do ano que a maioria retoma as suas obrigações de trabalho revigorados pela tradicional pausa para descanso em férias.
O calendário escolar adotou este recomeço. O regresso às aulas é verdadeiramente uma renovação de vida, com os alunos (maioria das pessoas envolvidas) a tomar conhecimento de novas responsabilidades, novos objetivos, novos colegas, novos professores, etc., após as conhecidas “férias grandes”.
As pausas são importantes para a recuperação de forças e ânimos, conseguida pela alteração de rotinas e pela descompressão do stress do dia-a-dia, geradas pelo cumprimento de obrigações permanentes.
A pausa de férias, porque de maior tempo, possibilita-nos também oportunidade para pensarmos em nós e nas nossas vidas. Ajuda-nos a melhorar o desempenho futuro, com novas perspetivas e objetivos, podendo excecionalmente levar a mudanças enormes do nosso habitual estilo e/ou modo de vida.
A mudança de rotinas de vida, associada a tempo de pausa e reflexão fazem parte da cultura de muitos Povos, bem registados pelas práticas religiosas, como as do Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, tendo nesta última uma distinção fortemente assumida com determinadas práticas invertidas durante o período de tempo que designam de “Ramadão”.
O Homem e o trabalho estão ligados por imposições de sobrevivência e criação de riqueza, diferente no tempo histórico, localização geográfica, cultura civilizacional e ambição individual.
A industrialização reforçou as obrigações de trabalho em função do tempo, organizando-se em volta dos horários de trabalho, outrora mais ligadas à duração da luz dos dias, como é prática ainda hoje na agricultura.
As férias, não devem apenas ser entendidas como direitos ao descanso conquistados pelos trabalhadores. Hoje as férias são momentos de confraternização entre amigos e familiares, momentos de lazer multifacetado, oportunidades de enriquecimento cultural em viagens e leituras, tudo práticas que o ócio permite.
Muitas das grandes descobertas científicas e a criação de grandes obras culturais ocorreram porque os seus autores estavam com tempo para pensar, tempo para ver para além do óbvio, tempo para raciocinar “fora da caixa”, com é vulgar dizer.
A arte é fruto da criatividade que só surge porque o artista dispõe de tempo para observar, pensar e só depois criar.
A arte só é valiosa se for apreciada pelo Homem, que também precisa de tempo para observar, ler, interpretar e concluir pensamentos que podem passar do artista para quem souber entende-lo.
A vida seria bem mais difícil sem tempos de ócio. Seria menos rica sem espaço para além do trabalho.
O ócio não pode assim ser interpretado como estados de preguiça e tempos de improdução.
O ócio de uns é também oportunidade de trabalho dos outros. O turismo já não é só para afortunados, mas uma indústria de serviços com crescimento mundial exponencial. Portugal e Braga, são bons exemplos.
Regressamos a setembro, porque a vida está estruturada para contribuirmos com o nosso esforço para a criação de riqueza. Sem ela, não há crescimento da economia de um país, o célebre PIB. Sem crescimento do PIB, afundam-se as esperanças de todos.
O Mundo está hoje focado no Crescimento. O pior que se pode ter hoje é um pais estagnado ou em recessão, sinónimos associados á diminuição de emprego, diminuição das transações comerciais, aumento de endividamento e de todas as dificuldades de vida, que afetarão sempre quem mais frágil se apresentar, seja uma família, uma organização ou um país.
O foco na criação de riqueza sustenta-se – teoricamente - no pilar de ser o meio e forma para melhorar as condições de vida de todos, percetível na máxima que só se distribui aquilo que se tem. A vida vai-nos ensinando que não é totalmente verdade este axioma.
A verdade é que o Mundo não tem parado de aumentar a riqueza produzida no último século. É também verdade que neste período houve uma enorme redução da pobreza média mundial. Mas não é mentira que as desigualdades entre quem muito tem e pouco possui, estejam a diminuir.
Regressemos a setembro, porque vêm aí as eleições. Os portugueses são chamados a escolher em quem querem ver a dirigir os destinos do país, pelo menos nos próximos 4 anos. É a Democracia a funcionar. Saibamos aproveitar essa oportunidade, votando.
É pena que as escolhas se foquem no curto prazo. É pena que as grandes reformas e grandes investimentos continuem à espera de melhores dias, que dificilmente chegarão com as políticas centradas nas opções do dia de amanhã. É pena que o voto seja decidido por opções de orçamento anual, que geralmente abrangem franjas da população e não o desenvolvimento do país.
Parecem findar-se os dias em que a Politica contava. Tempos em que a identidade ideológica de cada partido se distinguia com clareza. O voto era escolhido em função das opções políticas alternativas de médio e longo prazo que apontavam caminhos com futuros diferentes. Sabia-se o que era e o que queriam os que defendiam o Comunismo, o Socialismo, mais ou menos radical, a Social-Democracia, o Centro Conservador com tendências de Liberalismo.
Hoje a Politica parece contar menos. O pragmatismo parece ser mais importante, respondendo ao sabor dos média e dos comentadores instalados. O brilhantismo do discurso dos líderes esconde a ideologia que sempre disseram defender. As sondagens servem de luz para escolhas acertadas em vez de escolhas de políticas alternativas.
Regressa o setembro e com ele as rotinas, esperando que o tempo do ócio volte a acontecer.
15 Junho 2025
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