A Cruz (qual calvário) das Convertidas
Ideias
2022-06-27 às 06h00
As cidades são lugares de muitas e variegadas gentes, já dizia Fernão Lopes nas suas crónicas quinhentistas. Com exigências muito diferentes relativamente ao espaço público por onde circulam. No entanto, todos apreciam o mesmo: a preservação do património existente e a construção de espaços com qualidade.
Se o carro continua a ser de uso intensivo, também é verdade que andamos mais a pé no tempo livre que temos. Isso é excelente para a saúde coletiva, mas pode também constituir uma grande oportunidade para revitalizar certas artérias. De que forma? Reabilitando os passeios. Circulando, por exemplo, pelas avenidas da Liberdade e 31 de Janeiro, duas das maiores vias da cidade, constata-se que o piso é bastante irregular, sendo, por isso, bastante difícil fazer aí caminhadas. Mais do que reconstruir pavimentos, poder-se-ia aí recriar calçadas com desenhos inovadores. Com isso, atraiam-se mais pessoas para por aí deambularem. Se a ideia fosse mesmo encarada com garra, poder-se-ia criar em Braga um polo de atração turística à volta do chão de algumas ruas.
Outro foco importante é a luz. Beneficiando da localização geográfica e da proximidade da água, algumas cidades cativam uma luz natural. O caso de Lisboa é paradigmático. Durante o dia, alguns lugares apresentam uma tonalidade própria. À noite, a luz de cada lugar depende muito do cuidado de quem dele toma conta. Hoje, muitas autarquias optam por deixar crescer as árvores até muito para lá dos limites a que estávamos habituados. Poderá ser uma estratégia para arrefecer certos espaços. É compreensível. No entanto, já não se entende que se descuida a iluminação. Em algumas ruas, os candeeiros estão completamente tapados por ramos densos que, mal a noite cai, fazem abater sobre algumas casas uma intimidante escuridão. Não se percebe, quando a solução é simples: bastaria aproveitar os candeeiros existentes e colocar a meio dessas estruturas uma base para uma outra lâmpada.
Num tempo em que há mais fundos europeus, seria também aconselhável procurar recuperar certos imóveis (públicos) ou, pelo menos, ajudar a reabilitar algumas fachadas de prédios (privados). E, já agora, apertar mais o controlo ao nível cromático. Nunca consegui perceber por que, em certos lugares, as ruas crescem com prédios de cores realmente incombináveis. Também sempre foi para mim incompreensível por que se geminam imóveis, construídos de raiz, com formatos distintos. Edificados há já tantos anos, dou comigo a admirar bairros antigos, como os de Campo de Ourique, em Lisboa, com prédios que se perfilam de forma algo harmoniosa, onde os cidadãos conseguem fazer ali uma vida autónoma: em poucos metros, há um mercado, restaurantes e lojas de comércio diversificado. Quem chega a casa pode estacionar a sua viatura e, a partir dali, fazer todas as compras a pé. Um luxo.
Ainda que a pandemia tenha levado um certo número de pessoas para as periferias, o movimento mais forte tende a ser em direção às cidades. No dia em que se inicia em Portugal a importante conferência dos Oceanos, estaremos ainda mais despertos para a importância de preservar melhor a nossa Casa Comum. Hoje, viver numa cidade implica também viver mais ao livre. E isso exige novas políticas, outras formas de gerir os espaços públicos e outras prioridades nas decisões diárias de quem tem em mãos os destinos de uma cidade.
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