Enfermeiros portugueses em convenção internacional
Voz aos Escritores
2024-11-08 às 06h00
Saudosa do berço
do cantinho que me abriga,
dos abraços que são casa,
embora seja fruto da asa,
regresso quando o coração aperta […]
Quando sentimos que o que nos completa espera por nós num determinado lugar, o coração aperta. Então, regressamos ao chão que nos viu crescer. Olhamo-nos nos retratos das paredes e sentamo-nos ao colo dos nossos pais. É o nosso tempo. Recuamos a um tempo que, sendo mais difícil, era mais fácil quando a vida se resumia a semear flores e a colher esperanças.
Era mais fácil quando o riso brotava ligeiro, e a chuva que caía era motivo de comemoração. Nessa altura, os dias eram mais pacientes, e as horas muito mais vagarosas. Costuma-se dizer que se os olhos estão apressados desperdiçam verdadeiras delícias.
Por isso, é na saudade desses dias que nos apetece abrigar. É neles que agora saciamos a sede dos saberes e dos sabores ancestrais.
O que se aprende com “aqueles que vieram antes de nós” nem sempre está escrito em livros didáticos ou em livros de receitas.
Porém, fica inscrito na memória e na ação quotidiana, auxiliando a construir a narrativa de vida de cada um. Dessa forma, a educação acontece no campo da identidade. Esses saberes estão nas canções, na preparação de chás, nos ditados populares que circulam, há muito tempo, por aqui e por aí.
Nós carregamos muitos valores ancestrais nessas práticas corriqueiras, na capacidade que temos de ritualizar a vida. Isto é, como se come, como se brinca, como se canta, como se celebra os nossos mortos, como se celebra a vida.
Ao encontrar e reconhecer valores que nos identificam com os nossos ancestrais, criamos também uma conexão com o que somos.
Volto no tempo e dedico-me a alguns afazeres que os meus ancestrais me ensinaram e que, orgulhosamente, os meus pais me passaram, como o da colheita da azeitona para curtir.
A azeitona para azeite ainda não foi colhida, mas este fim de semana dos Santos, fui apanhar dois baldes de azeitona cobrançosa(com sabor amargo e pinante) e verdeal(sabor fino e frutado) para temperarmos para comer.
Quando era pequena, lembro-me muito bem, escaldavam-se as azeitonas, passavam-se por várias demudas de água da fonte e colocavam-se em talhas de barro, temperadas ao gosto de cada um.
Ainda hoje tempero as azeitonas como a minha mãe fazia: água da fonte (tenho o privilégio de ter um exemplar com água límpida e fresca), sal, folha de louro, arçã, orégãos, casca de laranja ou limão, alho, mas ainda acrescento umas folhas de laranjeira, destoando aqui da receita original. Deixo-as a repousar até ao S. João, devidamente temperadas e longe da luz.
Ficam extraordinariamente boas!
Este modo ancestral de preparação das azeitonas, que tão importantes foram para matar a fome em tempos de miséria, ao ficar registado (em suporte escrito) dá um contributo importantíssimo para o conhecimento de saberes e sabores outonais ancestrais.
Merendar pão com azeitonas fazia parte dos usos e dos costumes rurais, nomeadamente das sementeiras, das ceifas e das colheitas.
Se adicionarmos um fio de azeite e um dente de alho picado é ouro sobre azul. Torna-se num petisco divinal!
Desejo que esses saberes venham antes de um telemóvel, pois a tecnologia apaga-se e o sinal perde-se, mas a sabedoria jamais se extingue.
Não deixemos que se perca essa conexão essencial!
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