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Samuel Bastos, Luis Costa e Miguel Ângelo, consagrados músicos Barcelenses

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Samuel Bastos, Luis Costa e Miguel Ângelo, consagrados músicos Barcelenses

Voz às Bibliotecas

2019-06-06 às 06h00

Victor Pinho Victor Pinho

A recente, prematura e imprevista morte do jovem músico barcelense Samuel Bastos (1987-2019), oboísta de renome internacional, que fazia parte da Orquestra da Ópera de Zurique, trouxe-me à memória outros artistas musicais barcelenses de renome que viveram nos séculos passados: os pianistas e compositores Luís Costa e Miguel Ângelo.
Samuel Bastos, que acompanhei à última morada, num dos maiores funerais que já vi, e numa das despedidas mais pungentes que vivi, nasceu numa terra de fortes tradições musicais – a freguesia de Oliveira do concelho de Barcelos – no sopé do monte do Facho, berço das civilizações castreja e romana, no seio de uma família de artistas ou não fossem o seu pai, Cândido Bastos e o seu irmão, Alberto Bastos, músicos e regentes de uma das bandas mais antigas, mas, ao mesmo tempo, mais jovens do nosso país – a Banda Musical de Oliveira.

Apetece-me aqui citar a última estrofe do poema do barcelense Manuel Terroso (1919-1996) intitulado “Sobra”, publicado no número 2 de “Cadernos de Poesia”, antologia poética dirigida por Maya Vilaça, que incluía poetas como José Régio e Pedro Homem de Melo: “A pensar dos que partiram / Que a morte se a vida é dura, / Não mata a vida de todo.”
O falecimento prematuro deste jovem artista barcelense, trouxe-me à memória a morte de outro barcelense, roubado à vida na flor da idade, António Fogaça (1863-1888), poeta, que morreu em Coimbra, onde estudava na Faculdade de Direito, com apenas 25 anos.

Diz-se que Guerra Junqueiro trazia consigo um exemplar da sua obra “Versos da Mocidade”, que lia aos seus amigos, especialmente “As Orações de Amor”, que muito apreciava.
Luís Costa (1879-1960), que foi professor do Conservatório de Música do Porto, nasceu na freguesia de Monte de Fralães do concelho de Barcelos. Considerado um dos maiores pianistas portugueses, realizou diversos recitais em Portugal e no estrangeiro, tendo colaborado com grandes artistas. Desde 1924, que foi responsável pela direcção da Sociedade de Concertos “Orpheon Portuense”, tendo promovido a apresentação em Portugal, de músicos célebres como Ravel, em 1928.
Suas filhas, a violoncelista Madalena Sá e Costa (1913-2006), discípula de Guilhermina Suggia e Pablo Casals e a pianista, concertista e professora, Helena Sá e Costa (1913-2016), foram personalidades marcantes na vida cultural portuense.

Miguel Ângelo Pereira (1843-1901), que veio nascer a Barcelinhos, e foi menino do coro, na Real Capela da Lapa, compôs a “Missa do Senhor da Cruz de Barcelos”, que foi estreada em 3 de Maio de 1899, com uma orquestra constituída por músicos portuenses e pelo músico barcelense Domingos Carreira (1865-1938).
Depois de uma estadia no Rio de Janeiro-Brasil, para onde partiu aos 11 anos, e chegou a ser organista da Capela Imperial, regressou ao Porto, em 27 de Maio de 1864, onde frequentou certas tertúlias literárias e musicais. Rapidamente o talentoso pianista começou a ser conhecido no meio portuense e as lições de piano que ministrava eram pagas principescamente.

Do vasto reportório de Miguel Ângelo merecem destaque a ópera em quatro actos “Eurico”, extraída do romance de Alexandre Herculano “Eurico, o Presbítero”, e que chegou até nós apenas uma versão para canto e piano do 1º acto, publicada pelo compositor na década de 80, e cuja ideia surgiu ainda se encontrava no Brasil, e concretizada, três anos depois de chegar ao Porto, e a “Cantata a Luís de Camões”. A ópera “Eurico” foi estreada no teatro de S. Carlos, em Lisboa, em 23 de Fevereiro de 1870.

Antes da estreia da ópera “Eurico” na cidade do Porto, Miguel Ângelo ainda se deslocou, de Maio a Setembro de 1872, com Ciríaco Cardoso, ao Rio de Janeiro, onde realizaram concertos no Teatro D. Pedro. Mais tarde, em 1 de Novembro de 1878, essa ópera foi apresentada no Imperial Teatro D. Pedro, no Rio de Janeiro, com grande sucesso.
Em 29 de Dezembro desse ano, regressava ao Porto, “cheio de glória” pelo sucesso obtido no Brasil.

No fim da vida, Miguel Ângelo padeceu de graves problemas psíquicos e viveu numa situação económica muito precária, chegando os amigos a promoverem subscrições de dinheiro para o ajudarem. Em fins de Janeiro de 1901, dava entrada num hospital de doentes mentais e, passados quatro dias, falecia.
Aqui fica o registo de quatro consagrados artistas musicais barcelenses que viveram em épocas diferentes, mas todos se esforçaram por serem exímios profissionais e por levarem bem longe o nome de Barcelos. De alguns deles, existem livros, na Biblioteca Municipal de Barcelos, que podem ser consultados no local ou levados para casa, através do empréstimo.

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