Correio do Minho

Braga, segunda-feira

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Sarrabulho e kizombada, por Catarina de Queirós Rosa

Premiando o mérito nas Escolas Carlos Amarante

Conta o Leitor

2011-07-05 às 06h00

Escritor Escritor

É bom recordar… faz-nos rejuvenescer um quarteirão de anos e sabe tão bem! A nostalgia é, em si mesma, um sentimento de distância que aperta a glote como um abraço que, de tão forte, nos abafa e corta o ar! Por outro lado alivia porque ainda resta uma nesga de esperança em nós (humanos) de voltar ao passado sem sair do lugar e do tempo e permite ser jovem e senti-lo!
Quando avançam os dígitos na idade, as vontades acompanham este ritmo e pesam nas pernas, como diz a sabedoria popular, e a folia é outra, reduz-se na proporção inversa ao galopar dos anos.

Mas ainda temos os neurónios alimentados por uma dita memória de longo prazo e, se tivermos a amiga serotonina nas percentagens regulares, saboreamos velhos tempos como quem se lambuza todo com o melhor doce conventual! Associo doce com serotonina porque, como li a letras garrafais num café de uma famosa marca de chocolate, em terras de nuestros hermanos, me lembrei que esta hormona liga-se a prazer e o combustível sacarina e cacau aumenta-o.
E então…lembra-se férias cá dentro e lá fora, festas populares, episódios de vida que fermentam dentro de nós.

Lembra, agora que se aproxima Setembro e jantei num primoroso restaurante da vila, as feiras novas de Ponte de Lima. A azáfama para marcar um restaurante dos mais batidos e concorridos da terra e o sarrabulho e a degustação de um bom tinto.

Naquele ano, no típico lá do centro, as mesas pejadas de gente e no meio de tanto anónimo os famosos Tim dos Xutos e Pontapés e Vitorino. Parecia a confraria de fãs em torno das figuras míticas a comer que nem alarves ao invés de cruzar os braços no ar e saltar ao som das músicas do reportório dos anos 80. Ali o som era outro, o dos talheres, o vendedor ambulante a pregar óculos fluorescentes com luzes psicadélicas, os pedidos dos clientes, o correr dos empregados sem mãos a medir, as conversas de tudo e de nada regadas a boas colheitas e por aí fora…o principal era a maravilha do persigo, tão tradicional, tão delicioso! Para brindar, o povo fez um intervalo no tilintar dos garfos e facas e nas cremalheiras e numa ovação só, em uníssono, pediu ao Tim para saltar…

“E salta oh Tim e salta oh Tim, olé, olé” sem nada previamente combinado, sem nada fazer prever que a sinfonia iria desenrolar-se com um compasso tão certinho. O visado ficou embevecido com a admiração do povo do Norte e sem esforço algum interrompeu o seu jantar pegou pelo braço o comparsa, vizinho na mesa, e ambos saltaram até o povo se calar…alguns minutos apenas! Depois todos continuaram na sua festa…primeiro no restaurante, depois no largo junto ao coreto, depois na rampinha com os bares e a vodka preta a pintar a língua…depois o amanhecer e o regresso… no meio de tanta massa humana compacta lá passa a trote o cavalo e o seu dono de Santarém ou Lisboa com o sapa-tinho de vela e a camisa com o boneco a ditar a marca, sem esquecer o perfume que fica no ar e deixa o rasto para que as “bimbas provincianas” o vejam bem e peçam uma “vortinha”.

E então lembra…lá fora agora…a linha do Equador, a minha latitude zero! Onde comer arroz do PAM (Programa Alimentar Mundial) com búzios do mar a suar em bica por causa do calor e com uma tempestade e trovoada em cima, como se o céu tivesse rasgado e toda a água caísse na terra. Molhada da cor da argila, a libertar um cheiro próprio como só África tem, o natural pedigree, misturada com fumos adocicados a pairar na atmosfera e o CO2 dos táxis amarelos todos furados, todos podres a largar peças pelo caminho e com um décor interior de pele de zebra e todo o penduricalho colorido e sui generis a baloiçar ao som da kizombada no volume máximo. A velocidade louca e inconsequente do condutor a pedir uma entrada não desejada no hospital, sítio onde não sairia (certamente!) a olhar para este cenário mas sim para um azul celeste com asinhas de anjo a cirandar em círculos!

De S. Tomé para o Príncipe no aviocar, a sobrevoar baixinho as águas do Atlântico…nem sabia que era possível tamanha mescla de tonalidades de azuis no mar! A densa mata da ilha do Príncipe com a sua paleta de verdes, deixando só a descoberto a pequena cidade de Sto António onde calcorreamos as suas ruazinhas descobrindo sabores, de saca na mão a debicar umas bananinhas secas…Para refrescar, um banho no mar que se espraia nas areias brancas do tão famoso resort Bombom e de água salgada para água doce, na sua piscina mesmo ali ao lado…e interrompo neste parágrafo a lembrança porque não chegariam os caracteres para descrever tanta beleza, tanta saudade, tanta memória!

E lembrará daqui a umas décadas a tão almejada e querida vitória do clube da terra (SCB - Sporting Club de Braga) frente ao Sevilha, sair às artérias da cidade e sentir o latejar do vermelho das bandeiras, cachecóis, t-shirt´s e afins e quiçá daqui a uns tempos lembrar uma vitória ainda maior e honrar o país que fomos, somos e sempre seremos de conquistadores…desta vez de taça da Liga Europeia?

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