Portugueses bacteriologicamente impuros
Escreve quem sabe
2023-10-31 às 06h00
Apesar de nos nossos dias as celebrações do Halloween, do dia de Todos os Santos e do Dia dos Fiéis Defuntos se confundirem pela aproximação das datas, respetivamente a 31 de outubro e a 1 e 2 de novembro, estamos perante um ciclo de 3 dias que a Igreja Cristã soube instituir como costume e momento solene para lembrar todos os seus fiéis batizados já falecidos.
Há registos da existência de rituais que visavam os mesmos valores de morte e vida, há milénios. Os mais conhecidos por nós são os costumes Celtas para celebrar o fim do verão e o início do Inverno (Samhain). Ouvimos também falar dos rituais de sacrifício praticados por povos sul-americanos, como os das civilizações Asteca e Inca, entre outros, com rituais que pretendiam na morte sacrificial de alguns, obter uma troca por melhor vida para si e seus povos. Célebre é também o culto á morte que se perde na história do México, sendo também conhecidas a existência de celebrações em honra dos antepassados falecidos na Ásia, predominantemente em países de religião Budista, ou ainda nos povos de África, designadamente numa cultura ancestral de respeito e veneração dos “espíritos dos antepassados”. All Halloween Eve, ou a sua abreviatura Halloween tem a mesma origem de objetivos. É importante saber que isto não é apenas mais uma festa. Esta forma norte-americana de tentar tornar menos aterradoras as recordações da morte, procuram afugentar medos e valorizar a alegria da vida, caricaturando um tempo macabro através das vestes de bruxa, de caveiras de abóbora e de jogos de luz que relembram o fogo.
Não devemos assim confundir estas datas e celebrações anuais como rituais da Igreja Cristã, nem entende-los como atos macabros que nos remetem para o sofrimento e penitência num envolvimento de luto. Claro que recordar os nossos falecidos mais sentidos não carece de ritual e haverá outras oportunidades durante o ano e nas nossas vidas para lhes recordar sentidas memórias. Porém, as datas comemorativas trazem-nos o benefício de nos lembrar que para se ter um bom futuro devemos conhecer o nosso passado e ter a consciência que o que somos se deve provavelmente ao esforço e mérito alguém que já foi. É importante que existam momentos, ou datas, que nos façam desligar por algum tempo da ansiedade da vida atual, recordando-nos que a vida vale a pena pois ela acabará um dia.
Acreditemos ou não numa outra vida, é bom que nos sintamos bem nesta.
Estas celebrações de morte são simultaneamente uma celebração à vida. Só conseguimos recordar quem faleceu se nos relembrarmos dos seus rostos, das suas vozes, das suas alegrias e tristezas, dos momentos que partilhamos juntos. O recorda-los damos-lhes novamente vida ao sentirmo-nos reviver com eles momentos passados, apesar dos sentimentos de perda em que envolvemos numa dor interior de saudades. A nossa vida tem mais valor quando guardamos respeito e damos grandeza a quem recordamos. Enquanto existir um ser humano que se lembre do outro, mesmo ausente, designadamente revivendo um passado partilhado, manterá vivo aquele que recorda. Muitas Religiões remetem os falecidos para outros formatos de vida transcendental e para a eternidade.
A modernidade não consegue fazer esquecer a subjetividade que cada ser humano transporta em si mesmo, no tal espirito, alma ou apenas consciência de algo que vai além da vida biológica. Muitos ignoram propositadamente estes costumes com a justificação de rejeição do efeito macabro que os Cemitérios lhes incutem. Aceitável. Também se compreende que muitos mais invoquem a dispensa destes costumes e rituais, porque dizem nunca deixar fora de memória os seus já falecidos. Certo. Não precisamos de datas para lhes dedicarmos a eles memórias de respeito e gratidão. Há ainda mais quem não se assuma religioso, satisfazendo-se na consciência da aceitação do fim de tudo. Simples e verdadeiro. Liberdade é também respeitar o pensamento dos outros. Felizmente isto é ainda possível em países como o nosso. Nem todos podem afirmar o mesmo, sobretudo nestas alturas onde a guerra impera.
Podemos estender respeito a muitos mais e que por esta vida já passou, recordando-os através das suas obras e da sua arte, ouvindo a sua música, lendo os seus livros, apreciando as suas pinturas e esculturas. Recordemos quem nos deixou melhores oportunidades de vida, resultantes de descobertas científicas, de cálculos matemáticos complicados e de quem identificou através do pensamento: valores, princípios e regras, e dos que deram a sua vida por isso, não esquecendo aqueles que dedicaram aos outros parte da sua vida, incluindo a nossa.
Quando ouvirmos falar no “dia dos mortos”, aproveitem e avivem memórias de respeito a eles e à vida. Celebremos pois a vida: de quem já a viveu, a nossa e a de todos quantos ainda esperam viver por muitos e bons anos. Aproveitemos então o feriado público, seja para seguir os tais costumes e rituais, ou simplesmente para aproveitarmos a vida.
15 Junho 2025
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